Chacina em janeiro de 2016 deixou 12 pessoas mortas; série de assassinatos foi desencadeada após a morte do soldado Cristiano Bottino
Chacina em janeiro de 2016 deixou 12 pessoas mortas; série de assassinatos foi desencadeada após a morte do soldado Cristiano Bottino | Foto: Anderson Coelho/30-01-2016



Ricardo Jorge Pereira Filho assume, na próxima segunda-feira (22), a Delegacia de Homicídios de Londrina. Ele atua hoje na cidade de Bela Vista do Paraíso, a 40 quilômetros de Londrina. O delegado foi surpreendido pela nomeação e pretende melhorar a estrutura física e o quadro de profissionais da unidade que hoje conta apenas com duas equipes para apurar as ocorrências. "A prioridade inicial é implantar um método de investigação mais técnico e investigar a fundo e de forma mais abrangente as causas dos homicídios. […] Vamos tentar trazer também pelo menos mais um ou dois investigadores", ressaltou. Pereira Filho vai ocupar o cargo antes acumulado pelo delegado Manoel Pelisson. Com a mudança, Pelisson passa a atuar na função de delegado adjunto na 10ª Subdivisão Policial de Londrina.

A cada alteração na equipe da Delegacia de Homicídios, parentes das vítimas da chacina ocorrida em janeiro do ano passado ficam apreensivos e convivem com a dor em busca de respostas quanto ao andamento das investigações dos crimes. Na ocasião, 12 pessoas morreram. A série de assassinatos foi desencadeada após a morte do soldado Cristiano Bottino, homicídio ocorrido na região norte da cidade.

"Sinto que isso vai ficar impune. Não acharam nada onde ocorreu o crime. Não acharam imagens, não acharam balas [projéteis]... Fica só a revolta mesmo. A gente quer solução. Ele não tinha nada a ver. Morreu de graça. Não tinha passagem [pela polícia] e, mesmo que tivesse, nada justifica ser assassinado desse jeito. Tem cadeia para as pessoas pagarem pelos erros. Morreu muita gente inocente naquele dia", lamentou.

Por questão de segurança, os familiares não serão identificados na reportagem. Alguns relataram ameaças, outros preferiram não comentar sobre os crimes, parentes decidiram deixar a cidade e outros entraram em depressão.

"Cada hora que põe um delegado novo, a investigação recomeça. Eles têm que ler tudo de novo, tomar ciência, ver o que fazer, quem ouvir, que tipo de exames pedir... É tudo muito demorado. Hoje eu só durmo depois de tomar remédio. A minha vida parou lá naquele dia. A gente não quer vingança, quer Justiça. Todos precisam de respostas. Os parentes desse policial também precisam de respostas. Isso não pode ficar assim. As mães dessas vítimas terão que passar quantos Dias das Mães sem que os assassinos sejam punidos? Foram feitas promessas que não foram cumpridas e a nossa dor continua", relatou outro entrevistado.

Logo após a chacina, uma força-tarefa com policiais civis e militares foi formada pela Sesp-PR (Secretaria de Estado da Segurança Pública e Administração Penitenciária) e houve reforço no quadro de funcionários da unidade de homicídios. Os delegados Ricardo Teixeira Casanova e Cristiano Augusto dos Santos passaram a fazer parte da equipe.

Em maio do ano passado, seis policiais militares foram presos temporariamente por suspeita de participação na chacina. Em julho, a Justiça decretou nova prisão temporária de quatro desses policiais durante a apuração de outro crime: o assassinato de um carroceiro na zona rural de Londrina. Todos os PMs deixaram a carceragem do 5º Batalhão até o início de agosto.

MUDANÇAS
Enquanto isso, novas mudanças foram feitas na equipe do setor de Homicídios da Polícia Civil. O delegado Cristiano Augusto dos Santos deixou a unidade em julho para atuar nas Olimpíadas no Rio de Janeiro. Paulo Henrique Costa, até então delegado titular da unidade, foi transferido para o 5º Distrito Policial em agosto. Ricardo Teixeira Casanova chefiou a delegacia até novembro quando assumiu cargo no Sindepol-PR (Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Paraná). A partir daí, Manoel Pelisson passou a acumular a função de delegado adjunto da 10ª SDP e a responsabilidade pela Delegacia de Homicídios de Londrina.

Há aproximadamente dois meses, o delegado de Ibiporã, Vitor Dutra de Oliveira, foi incumbido de conduzir os 17 inquéritos policiais abertos para apurar a série de assassinatos. A documentação ultrapassa 1.500 páginas. O delegado informou que aguarda laudos das perícias que devem ser realizadas pelo Instituto Médico Legal e pelo Instituto de Criminalística de Londrina em itens apreendidos nos locais dos crimes. Ele deve se reunir nas próximas semanas com representantes dos institutos e com o novo delegado de Homicídios para solicitar apoio às investigações.

A Polícia Militar informou que os PMs investigados estão afastados das funções e aguardam a conclusão dos procedimentos administrativos. A Sesp e a Polícia Civil destacaram a complexidade dos casos e o "farto material apreendido que é cuidadosamente periciado e analisado pelos policiais". "A investigação é complexa e tem que ser feita de forma técnica, responsável e isenta para apresentar ao Poder Judiciário provas robustas que levem, primeiro ao indiciamento, e depois a uma eventual condenação", diz a nota. No Ministério Público, o promotor Ricardo Domingues acompanha as investigações. A reportagem tentou contato, mas foi informada que Domingues está em férias.