Na região de Londrina, foram registrados 969 roubos e 1059 furtos entre janeiro e julho deste ano
Na região de Londrina, foram registrados 969 roubos e 1059 furtos entre janeiro e julho deste ano | Foto: Marcos Zanutto



Nos anos de 2015 e 2016, 1.066.674 veículos foram parar nas mãos de ladrões no Brasil, o que corresponde a um furto ou roubo a cada minuto. Apenas no ano passado, 552.139 veículos foram levados, resultando em uma taxa de 567,4 roubos ou furtos a cada 100 mil veículos. Os dados são do 11º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Púbica, divulgado no último dia 30.

O quadro no Paraná também é preocupante. Somando os furtos e roubos, foram 26.249 veículos subtraídos em 2015 e 32.821 em 2016 e a taxa por 100 mil veículos subiu de 377,2 em 2015 para 459,6 em 2016. O número significa que, em média, mais de três automóveis foram furtados ou roubados por hora no Estado, o que perfaz a média diária de 90 furtos ou roubos em 2016.

Na 20ª Aisp (Área Integrada de Segurança Pública), que compreende os municípios de Londrina, Cambé, Ibiporã, Jataizinho e Tamarana, foram registrados 428 roubos de veículos e 823 furtos entre janeiro e julho de 2015. No mesmo período do ano passado, este número subiu para 456 veículos roubados e 863 furtados e, em 2017, houve novo aumento: foram registrados 969 roubos e 1059 furtos entre janeiro e julho deste ano.

Uma das vítimas mais recentes foi um jovem de 20 anos, abordado, no mês passado, ao buscar a namorada no Centro de Londrina. "Nunca tinha sido assaltado antes. Sempre vou buscar minha namorada na casa dela e não percebi a movimentação dos bandidos. Eles estavam escondidos perto de uma árvore, chegaram por trás com uma pistola e deram voz de assalto. Eram duas pessoas, ambas na faixa de idade entre 19 e 23 anos", relatou.

Por sorte o carro dele foi encontrado abandonado no dia seguinte, porém, sem o equipamento de som automotivo e algumas caixas com objetos de valor. O jovem revela que desde então mudou os hábitos. "Eu passo três ou quatro vezes para ver se não tem alguém no local antes de decidir estacionar o carro. Na hora do assalto senti muito medo e não quero passar por aquilo de novo", declarou.

Esse quadro, de acordo com o delegado chefe da 10ª Subdivisão de Polícia Civil de Londrina, Osmir Ferreira Neves Júnior, reflete a condição econômica do País. "Os crimes contra o patrimônio estão associados ao desemprego. Para coibir isso, há necessidade de investimento constante na área de investigação e inteligência", opinou. "O policiamento ostensivo também é importante, mas deve existir investimento proporcional. Infelizmente, a prioridade do investimento tem sido realizada mais na Polícia Militar, que é mais caracterizada."

Para ele, a proporção ideal seria de um policial civil a cada dois policiais militares. "O investimento na inteligência e na investigação deveria ser constante", cobrou, embora não tenha revelado qual o número de policiais civis disponíveis.

Imagem ilustrativa da imagem A cada minuto, um veículo é furtado ou roubado no Brasil



DESMANCHES
O delegado relata que a Polícia Civil tem realizado constantemente operações contra desmanches de veículos clandestinos, mas considera branda a penalidade para este tipo de infração. "Quando identificamos os ferros-velhos, eles respondem apenas pela receptação. O ideal é inviabilizar o comércio de peças ilegais pela identificação pormenorizada de cada uma delas", sugeriu.

Para o delegado, a legislação vigente "é falha e permite que organizações criminosas atuem neste ramo empresarial" já que não há como identificar a origem das peças ante ausência de exigência de numeração individual de cada componente do carro. "Para se ter uma ideia, hoje se negociam portas de veículos em perfeito estado de conservação e apenas o vidro está quebrado e, coincidentemente, é justamente onde há a exigência de numeração do chassis", exemplificou. "Mesmo constatando isso, não temos como responsabilizar o comerciante por essa prática."

LEI DO DESMONTE
O presidente do Sincor-PR (Sindicato dos Corretores de Seguros do Paraná), José Antonio de Castro, lembrou que em 2014 foi promulgada a Lei do Desmonte (Lei Federal 12.977/2014), que exige do vendedor de peças oriundas de desmontagem informações claras e suficientes acerca da procedência do produto. "A legislação no Paraná precisa passar por atualização para se adaptar a essa lei federal, precisa ser modernizada", cobrou Castro. "São Paulo fez isso e reduziu em 24% o roubo e furto de veículos e foram fechadas mais de 600 lojas de autopeças usadas."

O corretor explicou que o desmonte e o desmanche são coisas diferentes. "No desmonte tudo é feito de maneira legal. As peças podem ser reaproveitadas, desde que sejam etiquetadas e registradas no sistema vinculados ao chassi que deixou de existir, com exceção dos dispositivos de segurança. Com isso tudo é catalogado e é possível ter uma rastreabilidade dessas peças", apontou.

ORIENTAÇÕES
Castro também ressaltou a importância de tomar certas precauções para evitar a ação de bandidos. "É preciso evitar a abordagem dos bandidos ao escolher locais mais movimentados e bem iluminados para estacionar o carro. Os bandidos têm optado por render o motorista quando ele entra ou sai do veículo", orientou.

Ele aconselha evitar locais como farmácias ou bares que ficam expostos durante a noite. "O alarme do veículo deve estar com o funcionamento correto. Sempre ao sair do veículo observe se a maçaneta ficou travada, pois existem dispositivos chamados jumper que bloqueiam o sinal do controle remoto", alertou. Outra dica é instalar rastreadores, que podem ajudar a localizar o veículo em uma eventual ocorrência de roubo ou furto.

Para pesquisadora, investigação é o caminho
Pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Roberta Astolfi destaca que houve aumento da criminalidade na maior parte dos Estados e em quase todas as categorias. "Há um aumento generalizado, mas há Estados logrando êxito com políticas melhores contra furtos e roubos de veículos. Em geral, são aqueles que estão trabalhando com redes de distribuição do mercado de autopeças", avaliou.

Astolfi, que é mestre em Ciências Políticas pela USP (Universidade de São Paulo), apontou como exemplo o modelo adotado em São Paulo, que tem aplicado uma lei de controle e catalogação de peças usadas com rastreabilidade da origem. "Pode não ser suficiente, mas depois de implementada, de alguma forma, ela quebrou a cadeia de distribuição de peças furtadas ou roubadas com um nível baixo de enfrentamento e uso de violência. Essa solução é mais eficiente para os policiais, que deixam de correr riscos lidando com esses casos e também para a população, já que o enfrentamento acaba ocorrendo em locais públicos."

A legislação paulista implica mais fiscalização e regulação das lojas de autopeças. "É uma atuação mais administrativa do que policial, exercida por órgãos de fiscalização", acrescentou.

Para combater isso, além do controle de origem, catalogação e rastreabilidade das peças, é preciso investir em trabalho de inteligência contra as quadrilhas. "O trabalho de investigação deve ser muito maior que o de flagrante, já que há um volume muito grande de distribuidores para atacar. Investindo em inteligência exige-se menos recursos e gera menos violência."

A pesquisadora esperava que o número de furtos de veículos estivesse em um nível bem maior do que o de roubos. No entanto, os dados coletados pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam que os números estão bem próximos, ainda que a quantidade de furtos seja ligeiramente maior. "O roubo não é apenas um crime contra o patrimônio, mas uma ação que implica violência séria, pois geralmente a abordagem é realizada com arma de fogo e com grave ameaça para a vítima", finalizou.(V.O.)

Índice de recuperação cresceu, diz Sesp
De acordo com a Sesp (Secretaria de Estado da Segurança Pública e Administração Penitenciária), foram registrados no Paraná 17.009 furtos de veículos em 2015 e 20.267 no ano seguinte. A assessoria de imprensa da pasta não informou, no entanto, o número de carros roubados no mesmo período.

Segundo o 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 9.240 veículos foram roubados entre janeiro e julho e 12.554 veículos roubados no mesmo período em 2016. Até o fechamento da reportagem a assessoria da Sesp/PR não enviou o número de ocorrências de roubo em 2017 no mesmo período para fazer a mesma comparação.

A nota também enfatizou que nos últimos quatro meses, a Delegacia de Furtos e Roubos de veículos identificou e prendeu integrantes de 10 quadrilhas envolvidas com o furto e roubo de carros – muitos deles já com passagem pela polícia pelo mesmo crime.

A Sesp/PR argumenta que 2016 foi um ano atípico para a Segurança Pública de todo o País por causa da crise econômica. "Com mais de 12 milhões de desempregados, houve uma alta nos índices de crimes de furto e roubo em todos os estados. O próprio anuário revela que mais de 20 estados registraram aumento de furtos e roubos de veículos – mostrando ser uma realidade nacional", diz a nota.

A pasta informou que adquiriu recentemente cerca de 1.100 novas viaturas, das quais mais de 800 já foram entregues. A texto também destacou que as polícias Civil e Militar deteve 17.196 pessoas pelos crimes de furto e roubo no Paraná. "Além de prisões de suspeitos de participar desses crimes, ferros-velhos foram fechados, inclusive com flagrante de desmanche de carros."

"Um dos reflexos das ações policiais foi o aumento de 20,52% na recuperação de veículos se comparado 2015 com 2016. Referente ao primeiro semestre deste ano, o aumento na recuperação de veículos foi de 5,39%", expôs a assessoria.
Na 20ª Aisp, a assessoria informou que foram recuperados 769 veículos entre janeiro e julho de 2016 e 1.366 no mesmo período deste ano, uma diferença de 77,6%. (V.O.)