Imagem ilustrativa da imagem Só herbicidas não resolvem infestação
| Foto: Germani Concenço/Embrapa Agropecuária Oe
Incidência do capim amargoso pode significar uma queda de mais de 40% na produtividade de grãos



Integrar diferentes práticas de manejo da lavoura para controlar plantas daninhas não é mais opção, mas sim necessidade na agricultura moderna. Apostar apenas na química dos herbicidas, com aplicações indiscriminadas, tem trazido insegurança aos produtores, já que o glifosato se mostra cada vez mais ineficiente.
Basta olhar o histórico do País para comprovar a situação perigosa. Os casos de resistência ao glifosato começaram em 2003, com o capim azevém, no Rio Grande do Sul. Dois anos depois foi a vez da buva, novamente no Rio Grande do Sul e também no Paraná. Por fim, em 2008, foi a vez do capim amargoso.
"A partir daí surgiram novos casos de resistência simplesmente porque o produtor usa repetidamente o herbicida ao longo do tempo. A tecnologia é boa para a agricultura como um todo, só que mal utilizada, traz consequências negativas", explica o professor da Universidade de Passo Fundo (UPF) Mauro Rizzardi, que trabalha com ecofisiologia, manejo e controle de plantas daninhas.
Segundo ele, são dois os problemas mais frequentes na agricultura brasileira atual: um aumento na ocorrência de espécies que até então sempre existiram, mas com baixa infestação, e o crescimento das plantas tolerantes ao glifosato.
Ainda conforme Rizzardi, o estrago pode ser gigantesco. Uma buva por metro quadrado de lavoura pode reduzir a produtividade de grãos de 4% a 12%. Já no caso do capim amargoso, bem recorrente no Paraná e Centro Oeste, três plantas por metro quadrado podem significar uma queda na produtividade de mais de 40%. "Um pesquisador australiano bem renomado no assunto diz que o glifosato é um daqueles produtos que surge a cada 100 anos", salienta.
Por isso, na concepção de Rizzardi, o produtor brasileiro precisa retornar aos princípios básicos de manejo de plantas daninhas e associá-los ao controle químico. "Não se pode ficar apenas em cima do herbicida, já que isso acelera o processo de seleção, como tem ocorrido de forma intensa no Centro-Oeste. A comodidade faz com que o produtor faça isso. Criar e aprovar novos herbicidas é um processo lento. Só para se ter uma ideia, o último mecanismo de ação lançado no País foi em 1986, há 30 anos", lembra.
Para modificar o cenário atual de resistência e novas espécies de plantas daninhas, a estratégia é criar diversidade no ambiente. Rizzardi cita a rotação de culturas, a rotação de eventos biotecnológicos, apostando em diferentes transgenias, o trabalho com culturas de cobertura e até a limpeza de equipamentos como etapas importantes de manejo agrícola.
"No caso da rotação de culturas, acabam se criando estratégias de controle para cada uma das lavouras. Já com o uso das culturas de cobertura, a proteção do solo diminui sensivelmente o aparecimento de plantas daninhas. E a limpeza dos equipamentos evita que se espalhem sementes das plantas, infestando outras áreas. Muitas vezes, essas ações não acontecem porque o produtor esbarra em questões econômicas", alerta o pesquisador.
Ele acredita que se esses mecanismos forem aplicados de forma efetiva na agricultura brasileira, junto aos herbicidas que estão no mercado, "o combate às plantas daninhas terá uma sobrevida fantástica".