Períodos de plantio e colheita do trigo no Paraná e no Rio Grande do Sul têm apenas dois meses de diferença, concentrando também a comercialização e derrubando o preço
Períodos de plantio e colheita do trigo no Paraná e no Rio Grande do Sul têm apenas dois meses de diferença, concentrando também a comercialização e derrubando o preço | Foto: Anderson Coelho/11-09-2014



"Trigo é prejuízo. A cada cinco safras, apenas uma dá retorno. Das outras quatro, duas empatam e duas dão prejuízo, seja por preço, clima ou doenças". As palavras duras, mas extremamente realistas, são do economista do Departamento Técnico Econômico (DTE) da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Pedro Loyola, que conhece o ritmo desse mercado muito bem. Aliás, a entidade solicitou ao governo federal um apoio à comercialização de 60 mil toneladas de trigo no Estado, e dois leilões foram realizados na terça-feira (18). Até março, segundo o Deral, 87% da safra passada estava comercializada e é preciso finalizar essas vendas, até por conta do espaço em armazéns. "Este ano, ficou claro novamente que só leilão de PGPM não resolve. O trigo tem um problema sério de liquidez que o País precisa repensar", decreta Loyola.

O cerne dessa situação, que se arrasta por mais de uma década, segundo o economista, está ligado à sazonalidade da cultura e como isso acaba impactando no mercado. Como Paraná e Rio Grande do Sul detém 95% da produção nacional, existe uma concentração do plantio e colheita num período que difere em dois meses. Ou seja, sai de uma safra e já entra outra, num período muito curto de tempo.

Com isso, a comercialização acaba sendo num período concentrado, muito rápida e o mercado não consegue absorver, jogando os preços lá embaixo. "Pedimos no ano passado, como em muitas outras ocasiões, um apoio ao governo para a comercialização do trigo. O preço começou a ficar não remunerador em outubro e os leilões aconteceram só em dezembro. Neste período os moinhos compraram o trigo daqui a preços baixos e, claro, também de fora do Brasil".

Para Loyola, o setor produtivo precisa repensar a cultura, ser mais estratégico, para que os resultados sejam eficientes. "Ficou claro este ano e temos carregado este problema por mais de uma década. Quando o trigo virou moeda de troca no Mercosul, na balança comercial, desde lá o quadro vem se agravando. Estamos falando de uma situação que envolve sazonalidade e liquidez. Não é o leilão que vai resolver".

E quando se fala da qualidade do trigo nacional comparado ao argentino, nosso principal fornecedor de fora, Loyola acredita que "dependendo da safra" o nível fica no mesmo patamar. "No caso do Canadá, o trigo é diferenciado, mas a indústria brasileira precisa dele em algumas misturas, não em grandes quantidades. A grande questão é que no caso da Argentina, eles atuam no fortemente no Nordeste do Brasil e já se tornou um fornecedor fidelizado. Certa vez, um representante de moinho me disse que ou ele entra num leilão burocrático da Conab ou passa um fax para o fornecedor na Argentina, que já trata o preço e qual semana o produto vai chegar no Porto. É claro que essa é a melhor opção para a indústria."

Outro ponto perigoso deste ano é que além do trigo, o feijão e o milho safrinha não irão remunerar bem o produtor nesta safra de inverno. "Só a soja para pagar a conta, o produtor não aguenta. Será que por exemplo não poderíamos reduzir um pouco a oferta do nosso trigo e assim chegar a preços mais sólidos junto ao produtor? Hoje, não adianta aumentar a produtividade e não sermos competitivos no mercado internacional. É exatamente isso que está acontecendo", resume.

LEILÕES DA CONAB
Os dois leilões de subvenção para o Paraná, realizados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) deu prosseguimento, na terça-feira (18), fazem parte das operações de apoio ao escoamento de trigo produzido no Sul do país, em atendimento a demanda do setor junto ao Ministério da Agricultura.

O governo federal ofereceu Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro) para 30 mil t de trigo em grãos e Prêmio para o Escoamento de produto (PEP) para outras 30 mil toneladas do produto. Só houve interessados no Pepro, que negociou 26,3 mil t do produto, equivalentes a 87,5% do total ofertado. Ambas as operações previam escoamento de trigo para qualquer localidade, exceto para os estados que compõem as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país. (V.L. com Conab)