Mesmo com reação há alguns meses, vendas de máquinas agrícolas no acumulado do ano registram queda de 22,1% comparado a 2015
Mesmo com reação há alguns meses, vendas de máquinas agrícolas no acumulado do ano registram queda de 22,1% comparado a 2015 | Foto: Divulgação



O clima de insegurança pelo qual a economia nacional passa tem afetado a confiança dos produtores rurais, por mais que o agronegócio viva uma sequência de anos em alta. Um dos principais reflexos é a redução na produção e nas vendas de tratores e colheitadeiras nos primeiros meses deste ano, após um período de fortes investimentos em novas tecnologias no campo. A boa notícia é que, aos poucos, retorna a convicção de que os ganhos tendem a continuar a florescer.

O número de maquinários agrícolas produzidos em junho foi de 4,5 mil, 26,9% a mais do que os 3,6 mil do mesmo mês do ano passado. Em agosto foram 5,8 mil, ou 16,3% acima dos 5,0 mil de igual período em 2015. A recuperação desses dois meses, porém, não foi o bastante para sobrepor a desaceleração de 24,5% desde o início do ano, já que o acumulado de 2016 é de 30,6 mil unidades em 2016 ante de 40,6 mil nos sete primeiros meses de 2015. Isso porque as diferenças negativas foram grandes em outros meses, como em janeiro, que fechou com 1,6 mil unidades, ou queda de 64,8% em relação aos 4,6 mil do primeiro mês de 2015. Os dados são da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

As vendas internas tiveram aumento mês a mês desde janeiro, mas ficaram acima de períodos equivalentes no ano passado somente em julho (3,9 mil em 2015 e 4,0 mil em 2016) e agosto (4,2 mil e 4,5 mil, respectivamente). No acumulado do ano, o número caiu de 32,8 mil no ano passado para 25,5 mil, ou 22,1% a menos, conforme a Anfavea.

Última das grandes feiras de máquinas agrícolas e animais deste ano e encerrada no último dia 4, a 39ª edição da Expointer, em Esteio (RS), é outro indicativo de recuperação. O evento fechou com R$ 1,9 bilhão em volume estimado de negócios somente em equipamentos, montante 12,9% superior ao resultado de 2015, conforme o balanço oficial.

Para o coordenador de vendas da Massey Ferguson, Mauro Muraro, o produtor começou o ano em compasso de espera, com receio da taxa de juros. "Como tivemos elevação do câmbio, o pessoal preferiu colher antes, para saber o que tinha na mão e aí partir para os negócios. A partir de maio temos um aquecimento natural na curva de vendas até novembro, então o mercado deve ficar aquecido", diz.

O aumento de juros também interferiu na concretização de compra por parte dos produtores, mas não deixa de estar abaixo do cobrado no mercado. A taxa anual para o Moderfrota, programa do governo federal para modernização de maquinário, era de 4,5% no segundo semestre de 2014, de 7,5% no mesmo período de 2015 e está em 8,5% hoje, quando consideradas as modalidades com crédito mais barato. No entanto, o custo ainda é menor do que a base do mercado, a Selic, que está em 14,25%.

Ao mesmo tempo o medo da inadimplência fez com que os bancos tomassem mais cuidados com a oferta de crédito, mas os executivos das indústrias não enxergam tal motivo para a menor demanda por máquinas. "Os bancos estão um pouco mais restritivos em relação ao crédito, temos uma morosidade maior, mas não diria que esse seja o motivo", diz o gerente de marketing de produtos para América Latina da Case, Roberto Biasotto, que lembra que os bancos de marcas criam facilidades. "Temos uma condição muito competitiva, que acelera a análise de crédito, feita de forma antecipada, o que ajuda a acelerar o negócio", completa.