São Paulo - A rede de supermercados Carrefour anunciou esta semana um compromisso com o desmatamento zero da Amazônia. Pelo acordo, alinhavado com a ONG ambientalista Greenpeace, a empresa afirma que vai monitorar sua rede de fornecedores de carne a fim de bloquear a compra de fazendeiros que tenham colocado gado em área que teve a floresta cortada. O boicote é a qualquer tipo de desmatamento, ilegal e legal.
Com o anúncio, as três maiores redes varejistas de alimentos do Brasil (Pão de Açúcar e WallMart assumiram compromisso semelhante nos últimos meses) passam a trabalhar com políticas de não vender carne proveniente de áreas desmatadas - com uma estimativa de atingir um público consumidor de 3 milhões de pessoas por dia.
As iniciativas reforçam um acordo firmado em 2009 entre o Ministério Público Federal, produtores de gado da Amazônia e os três maiores frigoríficos do Brasil (JBS, Marfrig e Minerva) com este mesmo objetivo. Historicamente, a abertura de novas áreas para a colocação de pasto foi e ainda é o principal motor do desmatamento da Amazônia. Paralelamente, o Greenpeace fez uma consulta aos sete maiores supermercados do País para verificar se tinham alguma política para a aquisição da carne e se essa política continha mecanismos para garantir que o produto vendido estava livre de desmatamento, trabalho escravo e violação dos direitos indígenas. O relatório "Carne ao Molho Madeira", lançado em novembro de 2015, concluiu que nenhuma das redes (as três citadas e também Cencosud, Grupo Pereira-Comper, Grupo DB e Yamada) atendeu à maioria dos critérios levantados.
Segundo Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade e Responsabilidade Social do Carrefour, a rede tinha, desde 2010, um compromisso com o desmatamento legal zero, quando foram identificados os fornecedores de carne em todo o País e foi suspensa a compra daqueles localizados em áreas mais críticas de desmatamento. Mas só agora a empresa criou um sistema de monitoramento.
Pianez afirma que hoje a rede tem no total 22 fornecedores de carne, sendo sete deles na Amazônia. "Nós vamos mapear todas as fazendas que fornecem para o frigorífico, traçando um polígono que abrange a propriedade e seu entorno. Esse polígono vai, depois, ser cruzado com a base de dados do Prodes (sistema de monitoramento do desmatamento da Amazônia feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - Inpe). Se esse cruzamento sinalizar que pode haver um problema, vamos até a fazenda. Se detectarmos algo, suspendemos a compra até regularizar, podendo suspender o frigorífico", explicou.
Pianez reconhece, porém, que essa metodologia ainda não evita os vazamentos ou lavagens, uma vez que não permite um rastreamento completo, como ocorre com os alimentos vendidos no Carrefour com o selo "Garantia de Origem".