O movimento de queda no preço do leite recebido por produtores foi mais intenso em agosto
O movimento de queda no preço do leite recebido por produtores foi mais intenso em agosto | Foto: Gina Mardones/06-07-2016



O movimento de queda no preço do leite recebido por produtores se intensificou em agosto. Segundo cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), na "média Brasil" (inclui BA, GO, MG, SP, PR, SC, RS), o preço líquido (que não considera frete nem impostos) recuou 8 centavos o litro (-6,38%) frente a julho, fechando a R$ 1,15/litro. Este é o menor patamar, em termos reais, desde abril do ano passado. Se comparado com agosto, a baixa é de 23,34%, também em termos reais.

O recuo na cotação do leite no campo continua ocorrendo em razão da demanda enfraquecida por lácteos na ponta final da cadeia. Uma vez que o consumo de lácteos está diretamente relacionado ao aumento da renda, o menor poder de compra do consumidor brasileiro segue desaquecendo o mercado.

De acordo com pesquisas do Cepea que monitoram os preços dos lácteos negociados entre indústria e atacado no Brasil, promoções têm sido frequentes para tentar manter o fluxo de vendas e evitar formação de estoques. Dessa forma, os preços do leite UHT e da muçarela, os derivados mais consumidos no País, se desvalorizaram 5,4% e 3,2% de julho para agosto, respectivamente.

Além do baixo consumo, o aumento da oferta também influenciou a diminuição dos preços no campo. A captação de leite pelas indústrias se elevou em 4,4% de junho para julho, de acordo com o Índice de Captação de Leite (ICAP-L). Todos os estados, com exceção de Goiás, apresentaram alta, devido às condições climáticas não muito adversas e aos patamares atrativos dos preços da silagem, o que favorece a produção.

Segundo pesquisadores do Cepea, os preços no campo nos próximos meses vão depender, principalmente, da demanda e das condições climáticas. O recuo da taxa de desemprego no trimestre terminado em junho dá sinais de uma possível reação do consumo. Já no que diz respeito às condições climáticas, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apontou águas mais frias no Oceano Pacífico e a possibilidade de o fenômeno La Niña atingir o Brasil nos próximos meses. Assim, as chuvas devem retornar mais tarde, apenas no final de outubro. Para o pecuarista, a estiagem diminuiria a qualidade das pastagens e afetaria a produção. Ao mesmo tempo, para o agricultor, o plantio do milho é prejudicado, o que pode influenciar na precificação da ração do gado, resultando em menor produção leiteira.

Em 2015, o Paraná produziu 4,66 bilhões de litros de leite, ultrapassando o Rio Grande do Sul e se tornando o segundo maior produtor do país. No mesmo ano, os gaúchos alcançaram 4,59 bilhões de litros, ficando na terceira posição. Santa Catarina somou 3,05 bilhões de litros. A liderança do ranking nacional é de Minas Gerais, com produção de 9,14 bilhões de litros.

Faep assume Aliança Láctea
Obedecendo o sistema de rodízio, a Faep (Federação de Agricultura do Estado do Paraná) reassumiu a coordenação da Aliança Láctea Sul Brasileira, que reúne entidades públicas, inclusive as secretarias estaduais da Agricultura, indústrias e produtores dos três estados da Região Sul. A entidade, criada há três anos, desenvolve ações para tornar o setor ainda mais competitivo, além de padronizar a assistência técnica, capacitação e a sanidade, visando a qualidade do leite.

O coordenador da Aliança Láctea até outubro de 2018 será Ronei Volpi, como representante da Federação. Anteriormente, a Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul) estava no comando da entidade.

De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), relativo ao ano de 2015 (informações mais recentes disponíveis), Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina produziram, juntos, 12,3 bilhões de litros de leite. A região ficou à frente das demais do País. "Isso representa 35% do leite produzido no Brasil. Os três Estados têm uma produção superior a da Argentina. E, no curto espaço de tempo, nossa expectativa é superar a Argentina e Uruguai juntos", destaca Volpi.

Ao longo do próximo ano, segundo Volpi, as prioridades da entidade serão trabalhar a melhoria da qualidade do leite, a promoção da segurança alimentar dos consumidores, o cuidado com o rebanho e a sustentabilidade do setor, por
meio do fortalecimento de todos os elos da cadeia produtiva. "São mais de mil indústrias e mais de 200 mil produtores envolvidos na atividade na região Sul. Vamos continuar investindo em genética, bem-estar animal, sanidade e tecnologia, dentro e fora da porteira", ressalta o coordenador.(Reportagem Local)