Para desenvolver uma variedade de soja resistente à estiagem, a Embrapa soja estima gastar R$ 140 milhões nos próximos 15 anos
Para desenvolver uma variedade de soja resistente à estiagem, a Embrapa soja estima gastar R$ 140 milhões nos próximos 15 anos | Foto: Zineb Benchekchou/Embrapa



As cifras envolvidas na pesquisa, no desenvolvimento de produtos e no consumo voltado à agropecuária fazem frente, ou mesmo superam, qualquer um dos outros setores econômicos. Um exemplo é a estimativa de R$ 140 milhões que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Soja) espera gastar em 15 anos para produzir um tipo de soja mais resistente à estiagem, feita durante a ExpoLondrina, em abril deste ano.

No caso de inovação, apenas a CNH Industrial, que inclui desde marcas rurais como New Holland a outras de construção e transporte, investiu R$ 877 milhões no ano passado em pesquisa e desenvolvimento, com 6 mil funcionários que atuam em 50 centros de pesquisa, conforme o útimo relatório de sustentabilidade do grupo. Por fim, a 23ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow), maior evento do setor que ocorreu em abril, em Ribeirão Preto (SP), terminou com estimativa de R$ 1,95 bilhão em negócios, mesmo durante a crise.

O mercado de pesquisa e tecnologia agropecuária também é amplo e necessita de profissionais, segundo os analistas, porque o setor tem sido um dos únicos com resultados positivos no País nos últimos anos. As áreas de atuação vão desde as tradicionais agronomia, zootecnia, medicina veterinária, geologia, geografia e ciência e tecnologia de alimentos, até as engenharias, como a hídrica, a ambiental e a mecânica, voltada a equipamentos e maquinário.

Gestor de inovação no Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Marcos Valentin Martins defende os investimentos em pesquisa, tanto por empresas públicas quanto privadas. Por isso, considera necessário fazer com que a população entenda a importância do desenvolvimento tecnológico para a produção dos produtos que consomem. "O alimento não nasce automaticamente. Há todo um processo produtivo e com muita pesquisa envolvida, e isso não é de graça", diz. "Por isso, a sociedade não pode tirar recursos da pesquisa, sob o risco de prejudicar o abastecimento, a sobrevivência e o futuro da humanidade", destaca.

Para o chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Soja, Alexandre Cattelan, é preciso também manter os recursos de empresas públicas de pesquisa, para manter a soberania do País em toda a cadeia produtiva de alimentos. A entidade conta, por exemplo, com um dos três maiores bancos ativos de germoplasma (BAG), com quase 40 mil tipos diferentes de soja guardados e com todo o material multiplicado e viável para plantio. "A Embrapa faz pesquisa para garantir que o produtor brasileiro tenha acesso a diferentes tecnologias e porque temos de oferecer alternativas para o consumidor também", diz.

Além de trabalhar com transgênicos, a Embrapa é uma das poucas empresas do mundo que continuam a desenvolver sementes de alimentos convencionais. "Isso é importante por evitar o monopólio de grandes empresas, que estão se juntando, sendo compradas, o que faz com que cada vez mais o mercado fique concentrado e com menor oferta de sementes ao produtor. A Embrapa é um contraponto a isso", afirma Cattelan.

Entretanto, é preciso lembrar que mesmo as pequenas mudanças no manejo do solo já envolvem testes científicos. "A ciência está por trás de tudo, na produção de adubos, em como utilizá-lo para ter mais eficiência ou a forma como a planta absorve esses nutrientes", enfatiza Cattelan.