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| Foto: Sérgio Ranalli
Substituição da carne de boi pela de porco e frango ocorreu no País, mas ganhos dos produtores não acompanharam alta nas vendas



Crise econômica, inflação resistente e preço da carne bovina em alta. O cenário parecia apropriado para que os produtores em granjas conseguissem aumentar os lucros, diante da maior necessidade de substituição, na mesa do brasileiro, da proteína de alto valor agregado pela de suínos e aves. Não foi o que ocorreu. O preço do milho, que corresponde a até 75% da composição da ração dos dois animais, chegou a aumentar 111% no ano e deixou custos próximos ou até mais altos do que os valores recebidos por quilograma.
Conforme estimativas do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), os valores do grão mais que dobraram nos primeiros seis meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado. Quando observado o preço médio anual, a alta é menor, de 62%, do valor de R$ 21,68 por saca do ano passado para os R$ 35,27 nos primeiros seis meses deste ano, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A conta do Deral, no entanto, considera os valores máximos do milho, que beiraram os R$ 50.
A substituição da carne de boi pela de porco e frango realmente ocorreu. A alta no mercado suíno acumula 15% no primeiro semestre e, no de aves, de 12% no primeiro quadrimestre, sempre em comparações com os mesmos períodos do ano passado, de acordo com o Deral. O problema é que o valor recebido pelos criadores não acompanhou a alta do milho.
Técnico do Deral e especialista em avicultura, Roberto de Andrade Silva afirma que o valor pago em junho foi de R$ 2,77/kg, ante R$ 2,26/kg no mesmo mês de 2015, diferença de 22%, conforme a Embrapa Suínos e Aves. Já os custos estimados aumentaram de R$ 2,26 para R$ 3,13, ou 38%. Ambos os índices consideram a alimentação das aves, que é de responsabilidade das integradoras. "Nossa avicultura é 100% integrada e quem fornece a ração é a indústria, então o produtor não sente tanto o peso", diz. Ele completa que os gastos dos produtores se restringem à infraestrutura e à mão de obra.
Na suinocultura, o analista do Deral Edmar Gervásio considera que o problema é um pouco maior. Com 80% da produção estadual integrada ou feita em parcerias com cooperativas, os criadores independentes não têm conseguido se manter no negócio. Ele diz que o custo médio em junho foi de R$ 4,09/kg e o valor médio recebido na venda ficou em R$ 3,40. "Isso gera uma defasagem para os independentes, porque a indústria tem vários mecanismos para gerir essa diferença", cita. Dois exemplos são o processamento para dar maior valor agregado à carne e a compra de contratos futuros de milho na Bolsa de Valores.
O presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS), Jacir Dariva, considera que o momento é de tentar se manter no setor. "Quem conseguir ficar na atividade deve ter retorno no próximo ano, porque houve um enxugamento", diz.