Os produtores paranaenses testam uma nova forma de manejo na produção de maracujá para diminuir a incidência da virose do endurecimento dos frutos, que se espalhou pelo Estado nos últimos cinco anos e veio para ficar. O Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) coordena uma pesquisa para analisar a viabilidade técnica e econômica do "Modelo de Um Ciclo com Muda Grande", que envolve o desenvolvimento de plantas em estufas e a erradicação da lavoura por 30 dias após a safra, semelhante ao vazio sanitário da soja.

A doença é causada por um vírus, transmitido por pulgões, que deforma folhas e frutos, deixa a casca do maracujá rígida e diminui a quantidade de polpa, acabando com a vida econômica do pomar. A proliferação pelo País ocorre desde os anos 1990 e fez com que muitos agricultores desistissem da cultura. Para se ter uma ideia, o auge da cultura foi em 2010, com 62,177 mil hectares colhidos e produção de 922,334 mil toneladas (t), mas diminuiu ano a ano até chegar a 50,837 mil e 694,539 mil t em 2015. Os números são da Produção Agrícola Municipal (PAM) de 2015, último levantamento do tipo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A solução, encontrada por meio de pesquisas feitas em áreas produtoras no interior paulista e que servem de base para o Iapar, foi remodelar a cultura. No sistema tradicional, os produtores plantavam mudas pequenas, normalmente em setembro, e colhiam a partir de março do próximo ano. Os pés eram mantidos nos estaleiros por até três ciclos, quando era necessário substituí-los por novos.

Imagem ilustrativa da imagem Maracujá saudável, agricultor tranquilo



No novo modelo, as mudas são desenvolvidas por 180 dias em estufas, até ficarem com tamanho entre 1,5 e 2 metros. Colocado no campo em janeiro, o maracujazeiro fica exposto ao pulgão por apenas 60 dias até começar a dar frutos, o que permite a produção mesmo com sintomas da virose. Contudo, é necessário erradicar todas as plantas em agosto, com o campo limpo por 30 dias, para reduzir a proliferação da doença. E começar o plantio novamente.



O problema é que nem sempre o produtor entende a necessidade de ter um vazio sanitário e de eliminar plantas que ainda podem dar frutos, além de ter o custo de comprar e transportar mudas maiores, caso ele não tenha uma estufa na propriedade. Mesmo assim, técnicos do Iapar e do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) defendem o modelo, por garantir a renda da plantação, que chega a uma média de R$ 30 mil ao ano em um quarto de hectare e é ideal para a agricultura familiar.

Como o estudo começou em julho de 2016, no Paraná, o líder do Programa de Pesquisa em Fruticultura do Iapar, Pedro Auler, na unidade de Paranavaí (Noroeste), afirma falta o fechamento dos dados econômicos, o que deve ocorrer somente em julho. São três unidades acompanhadas, em Paranavaí, Umuarama e Japurá, com convênios com a Cooperativa Agroindustrial de Produtores de Corumbataí do Sul e Região (Coaprocor) e com o projeto do governo estadual Frutas do Arenito, além de parceria com o Emater.

O pesquisador Pedro Auler (com prancheta na mão) "Depois que identificar a doença, ou o produtor adere ao modelo (de um ciclo) ou não funciona mais"
O pesquisador Pedro Auler (com prancheta na mão) "Depois que identificar a doença, ou o produtor adere ao modelo (de um ciclo) ou não funciona mais" | Foto: Divulgação



No aspecto técnico, contudo, Auler defende a eficiência do modelo. "Muitas vezes o pessoal tem um segundo ciclo mais produtivo e quem não tem a doença, hoje, pode até permanecer com a mesma planta. Mas depois que identificar a doença pela primeira vez, ou adere (ao modelo de um ciclo) ou não funciona mais", diz o pesquisador do Iapar, que conta que o vírus já se instalou em todas as regiões do Estado.

A pesquisa também proporcionará a revisão da tecnologia usada no plantio, no Paraná, como soluções para a bacteriose, tratável de forma biológica ou química. "Depois dessa fase é que começará o incentivo do modelo aos produtores", completa Auler.