Com os pomares cheios, os produtores de laranja paranaenses iniciaram nesta semana a colheita e trabalham com a expectativa de reabastecer o mercado, depois de dois anos em que problemas climáticos prejudicaram a cultura. Quarto maior fornecedor da fruta no País, as previsões variam de ampliação de 10% a 50% no número de caixas entre três das principais cooperativas que atuam no segmento no Estado, com um total de 23 milhões de caixas de 40,8 quilos para a safra 2017/18.

Os números otimistas acompanham projeções do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), que divulgou no último dia 10 a estimativa de fechar o ciclo com alta de 49% no principal cinturão produtor do País, do estado de São Paulo ao Triângulo Mineiro. Depois de dois recuos consecutivos e resultados de 301,5 milhões de caixas na safra 2015/16 e de 244,8 milhões na de 2016/17, a entidade aponta para um resultado de 364,5 milhões na colheita atual, que deve ir até fevereiro.

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| Foto: Ricardo Chicarelli



Como o cenário de baixa produção elevou os preços da fruta, os valores de comercialização da laranja estão altos e devem continuar acima da média, mesmo com a safra 14% maior do que a média histórica dos últimos dez anos. Isso porque os estoques de suco entre as principais indústrias do mundo estão baixos, em 70 mil toneladas FCOJ (Suco de Laranja Concentrado e Congelado, na sigla em inglês), de acordo com a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR). Um nível tido como saudável na entidade é de cerca de 300 mil t FCOJ.

A média de preços para a caixa de 40,8 kg bateu em R$ 25,90 para a indústria em dezembro de 2016 e estava em R$ 16,60 em maio. Para a fruta in natura, ou laranja de mesa, o maior valor foi em fevereiro último, quando chegou a R$ 44,23 por caixa. Em maio, a mediana estava em R$ 21,77. Os números são da Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (Esalq) e foram consultados no último dia 22.

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OFERTA E DEMANDA
O diretor-executivo da CitrusBR, Ibiapaba Netto, afirma o forte calor durante a fase pós-florada levou ao desprendimento dos frutos das árvores, o que reduziu - e muito - a colheita principalmente em São Paulo, maior produtor nacional. "O mercado funcionou normalmente, com uma restrição da oferta que levou à valorização dos frutos e do suco", diz.

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Ele afirma que é preciso repor os estoques, o que deve ocorrer com a safra robusta esperada. "Passamos por um período apertado de oferta, não produzimos suco o suficiente para suprir a demanda e existe a dúvida se essa demanda voltará", completa Netto.

A menor oferta do produto também levou à menor exportação. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) apontam os embarques de 438 mil t de suco nos primeiros quatro meses de 2016 e 248 mil t no mesmo período deste ano, uma queda de 43%. Porém, como os preços aumentaram, o valor caiu em proporção menor, de US$ 705 milhões para US$ 477 milhões, ou 32% a menos.

Da mesa à indústria
A laranja aparece como uma cultura que garante renda até sete vezes superior à da soja, seja para o pequeno ou para o grande produtor, diz o engenheiro agrônomo do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) Ciro Marques Marcolini, consultor da Cooperativa Nova Citrus, de Nova América da Colina. A estimativa é baseada na média de rentabilidade dos 73 citricultores associados ao grupo, que produzem cerca de 350 mil caixas por ano em 550 hectares.

A Nova Citrus comercializa 80% da safra como laranja de mesa, ou in natura, o que rende preços melhores do que os 20% direcionados para a indústria. No entanto, Marcolini diz que é preciso tomar mais cuidados com a colheita, por exemplo, para garantir um produto mais bonito e apropriado para a venda em supermercados e feiras. "Se comparar a rentabilidade de um hectare de laranja, você consegue o mesmo que em sete de soja. A única questão é que demora quatro anos para o pomar ficar totalmente produtivo", diz.

O engenheiro agrônomo cita que cada hectare chega a render 40 toneladas e que o preço do quilo da laranja de mesa sai por R$ 0,50. Já o custo de produção para a mesma área fica em R$ 8 mil, ou 40%. "A laranja que vai para a indústria também tem uma rentabilidade boa, mas a de mesa paga mais porque é preciso escolher as sem manchas, mais bonitas, então é mais trabalhoso", completa Marcolini, que espera um produtividade 10% maior entre os associados neste ano.

O mesmo índice de incremento é esperado pelo gerente da unidade industrial de sucos da Integrada Cooperativa Agroindustrial, Paulo Rizzo. A fábrica fica em Uraí, mais próxima dos 70 produtores cooperados, que plantam laranja em 1,3 mil hectares. "Para a Integrada, é um negócio importante porque é mais uma oportunidade de o agricultor diversificar a fonte de renda na região", diz o representante do grupo londrinense.

Apesar da queda substancial da produção em São Paulo, Rizzo diz que os produtores do Norte Pioneiro paranaense sofreram menos com o excesso de calor, e perderam apenas 10% da colheita, o que foi revertido diante da alta de preços. Por outro lado, ele diz que os fabricantes sofreram mais. "A alta do preço da matéria-prima atrapalhou, porque não tinha como empatar com o valor pago pela fruta de mesa", conta.

Nesse cenário, a expectativa na Integrada é atingir quase 100% da capacidade de processamento na indústria, ou 1,8 milhão de caixas de laranja. Na safra anterior, o volume ficou pouco abaixo de 1 milhão. Rizzo lembra ainda que os citricultores estão investindo mais nos pomares e devem plantar até 250 mil pés novos entre 2016 e 2018, que se somarão aos 550 mil que já são produtivos.

Sem indústria própria, a Cocamar Cooperativa Agroindustrial, de Maringá, tem o maior número de citricultores associados, ou 280. São 9 mil hectares e 5 milhões de caixas colhidas em 2016, com a expectativa de elevar em 50% o resultado deste ano, para 7,5 milhões. "Tivemos boas floradas, mas os frutos não se fixaram nas árvores pelo calor, mas nem por isso o produtor teve muito prejuízo", diz o coordenador técnico de culturas perenes da Cocamar, Robson Ferreira.

A cooperativa maringaense vende a produção para uma multinacional privada, a Louis Dreyfus Group, que faz parte das principais fabricantes associadas à Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR).

Por contrato, os cooperados podem vender 10% do que colhem para o mercado de mesa, mas têm toda a produção com garantia de compra. (F.G.)