"Tem muita gente que acha que mulher não aguenta, mas aguenta sim! Plantar, fazer adubação, aplicação de cauda, não é restrito para quem tem força bruta", diz Karoline Barbosa Pontes
"Tem muita gente que acha que mulher não aguenta, mas aguenta sim! Plantar, fazer adubação, aplicação de cauda, não é restrito para quem tem força bruta", diz Karoline Barbosa Pontes | Foto: Ricardo Chicarelli


Se praticamente um quinto das mulheres que atuam no agronegócio estão dentro da porteira, a maior concentração delas trabalha com hortifruticultura
(18,79%), segundo o estudo "Mulheres no Agronegócio", do Cepea. A justificativa dos pesquisadores é que essa é uma atividade - seguida da avicultura (12,19%), grãos (10,64%) e pecuária leiteira (9,72%) - "tradicionalmente reconhecida de menor exigência de força física". Mas na prática não é tão simples assim e a reportagem da FOLHA foi conhecer uma jovem agricultora, de 26 anos, que coloca a mão na terra e trabalha muito para ver seu negócio emplacar.

Karoline Barbosa Pontes se formou agronomia no final de 2016. Diferentemente de muitos colegas da universidade - que enveredaram para trabalhar em multinacionais com foco em defensivos agrícolas - ela não quis "ir vender veneno". "Desde o primeiro estágio que fiz com a Emater, fui para uma consultoria agrícola que trabalha com a redução do uso de químicos e assim aprendi 'a ser da contramão' (no agronegócio)", brinca ela.

O contato de Pontes com a terra foi em Tupã, interior de São Paulo, quando seu pai trabalhava com pecuária. Hoje, os pais moram em Londrina, o pai atuando no segmento de gráfica e a mãe tem uma clínica de estética. Mas a paixão dela pelo agro não morreu. "No último ano da faculdade a minha mãe me deu uma chácara para que eu começasse a plantar. Com a ajuda do meu namorado, que sempre trabalhou no campo, abraçamos a causa."

O foco da produção foi nas hortaliças folhosas e - em parceria com uma outra chácara da Fazenda Nata - hoje ela possui o total de um alqueire, com uma produção semanal bem interessante entre variedades de alface, couve, brócolis, repolho e alguns legumes. Três vezes por semana os produtos da Chácara São Miguel chegam diretamente à mesa dos consumidores da Gleba Palhano entre outras regiões de Londrina. "Não é fácil. Tem muita gente que acha que mulher não aguenta (a lida do campo), mas aguenta sim! Plantar, fazer adubação, aplicação de cauda, não é restrito para quem tem força bruta", ressalta.

Foram diversas ocasiões em que a jovem produtora passou, sim, por preconceitos. Seja na simples compra de sementes em uma loja ou fazendo orçamentos para as estufas que pretende instalar na propriedade. "'É você mesmo que vai plantar?', questionavam. Já aprendi a lidar com isso, é desde a faculdade, quando diziam que agronomia não era curso de mulher. Na minha turma eram 30 homens e apenas nove mulheres."

Agora, nos planos de Pontes está a certificação para produtos orgânicos e também a instalação de estufas na chácara. "O caminho como produtora é o que eu quero seguir. Não me vejo presa numa empresa, a não ser se for prestar consultoria, atender pequenos produtores para a causa do orgânico e reduzindo o uso de defensivos." (V.L.)