Imagem ilustrativa da imagem 'Hoje caminho lado a lado com meu marido'



"A mulherada está despontando bonito. Antes, a gente acompanhava o marido na lavoura, hoje andamos lado a lado com eles. Até o relacionamento está melhorando... eles estão sendo obrigados a escutar as esposas, porque todas nós falamos com muito conhecimento". É com este depoimento em tom de brincadeira mas que tem peso significativo, que a produtora Cristina de Oliveira Souza, de Pinhalão, fala sobre a força do Projeto Mulheres no Café e, claro, sua experiência pessoal como cafeicultora junto ao marido em duas áreas que totalizam três hectares.

"Nascida na roça", Cristina está em contato com café desde menina, já que seu pai é um produtor tradicional na região. Aos 20 anos, fez escola agrícola e tem conhecimento em administração rural. "Disse ao meu pai que queria ser dona da minha produção e ele me ajudou a conseguir um espaço pelo projeto do Banco da Terra. Trabalhava numa área em parceria com ele, sempre com foco na parte administrativa".

Há nove anos, a produtora se casou com Ronie de Oliveira Souza e o casal começou a trabalhar junto no café. Em 2011, ingressaram na Cooperativa dos Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (Cocenpp) para a produção de cafés especiais. A produção média deles é de 50 sacas beneficiadas por safra.

Cristina explica que a divisão de trabalhos na propriedade funciona da seguinte forma: o marido foca na mão de obra, enquanto a produtora na gestão e participação de cursos técnicos. "Na colheita e no momento do terreiro, secagem e ensaque acabo ficando na lida também. O pessoal que ministra os cursos para nós já fala que os maridos precisam deixar o machismo de lado e colocar a mulherada no terreiro, porque são mais detalhistas, cuidadosas e exigentes".

A produtora não nega que essa participação na propriedade gerou, claro, alguns atritos no casamento. Algo que, segundo ela, tem melhorado ano a ano. "A adaptação a tudo isso não é fácil, mas estamos evoluindo. Já tivemos alguns atritos. Na época de fazer análise de solo, por exemplo, a gente sempre discutia, porque eu queria tirar a faixa exata para a análise e ele queria de outra forma, mais rápida. Agora ele providenciou até um trado, veja como já evoluímos", brinca ela.

Toda essa dedicação e envolvimento das mulheres faz com que Cristina olhe para o futuro com boa expectativa, afinal, segundo ela, o "produtor sempre espera para o ano que vem". "Hoje temos o sonho de uma área produtiva de cafés especiais. Eu não me imagino longe desse trabalho e mesmo em anos difíceis como esse, o amor pela atividade supera tudo. Hoje falo pra você com sinceridade que não conseguimos viver apenas desse trabalho e meu marido precisa trabalhar fora, mas não me imagino deixando a atividade. Quero continuar inserida em tudo isso, mostrando para os meus filhos é possível se manter com o café". (V.L.)