A chegada das férias sempre era comemorada por meus irmãos e eu, não só por ter mais tempo livre para brincar mas também por podermos passar alguns dias na casa dos nossos avós, no interior paulista. Geralmente eram duas semanas longe de casa, mimados pela minha avó e degustando as delícias que ela fazia.
Uma das atrações era o quintal enorme que nos esperava. Meus avós já não moravam no sítio há muitos anos, mas conservavam um pouco daquela época no quintal. Era um terreno grande, de esquina, e a casa ficava localizada na parte da frente. Nos fundos, um verdadeiro pomar fazia a alegria de todos, incluindo os pássaros que se alimentavam por lá.
Duas grandes jabuticabeiras ficavam pretinhas na época das frutas. A gente se divertia pegando as jabuticabas diretamente no pé, até onde alcançávamos. Subir na árvore era uma exclusividade do meu avô, que temia que nos machucássemos e também danificássemos a planta. Ele dizia que onde se pisava, não nascia mais jabuticaba.
Uma enorme mangueira nos fornecia, além de mangas, sua enorme sombra, sob a qual passávamos as tardes quentes. Também havia pés de mamão, figo, pêssego, laranja, limão, goiaba e até uma parreira. Algumas vezes, quando chegávamos, meu avô tinha guardado alguns cachinhos de uva para que pudéssemos experimentar. Minha avó aproveitava tantas frutas e transformava laranjas, goiabas e figos em saborosas compotas.
Outro motivo para curtirmos as férias eram essas delícias que minha avó fazia. Além das compotas, só ela sabia temperar um bife daquele jeito, macio e suculento, só com ingredientes naturais. As batatinhas fritas, cortadas em rodelas fininhas, ficavam crocantes e era preciso vigiar o prato enquanto ela fritava, ou corríamos o risco de não ter mistura para o almoço.
Do fogão à lenha, instalado do lado de fora da casa, saiam pães quentinhos e bolos saborosos. Antes de dormir minha avó se certificava que ninguém iria para a cama de barriga vazia e servia leite quente ou suco geladinho, conforme o clima, acompanhado de bolachinhas caseiras. Nessa época, não havia dia dos avós, mas com certeza eles mereceriam todas as homenagens!

Érika Gonçalves é jornalista na FOLHA