Desde o sua criação, em 2003, mais de 22 mil agricultores paranaenses passaram pelo Programa do Empreendedor Rural (PER). Olhar para a gestão da propriedade, décadas atrás, era algo inimaginável, já que este segmento nem era visto com bons olhos pela sociedade brasileira. De forma clara, o fato é que o meio rural – hoje chamado com tanto orgulho de agronegócio – era escanteado.

O professor de economia e administração da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), Fernando Curi Peres, é um dos idealizadores do PER. Ele explica que por muitas décadas a sociedade brasileira foi hostil ao campo. "A razão disso é que as políticas nacionais foram desenhadas para retirar gente e recursos da agricultura. O objetivo, desde Getúlio Vargas, foi transferir as pessoas e renda do campo para financiar a urbanização e industrialização, que eram sinônimos de desenvolvimento. Agricultura era considerada um atraso".

Para o professor da Esalq, assim a população naturalmente foi se tornando "antirrural". "Os agricultores eram considerados latifundiários, exploradores, caloteiros. Essa foi a tônica de pelo menos 40 anos no País com relação ao campo".

Nas últimas décadas isso foi mudando por dois fatores, segundo o especialista. O primeiro deles é que diversas pesquisas mostraram que o campo é o grande responsável pela melhoria da renda dos trabalhadores da cidade, já que uma produção mais eficiente, de forma geral, reduziu o preço dos alimentos, melhorando as condições de vida de todos.

O segundo está ligado à força do agronegócio na balança comercial do País, mostrando que a economia nacional depende significativamente da atividade. "Com tudo isso, ficou claro que o pessoal precisava se profissionalizar. A ideia do PER é permitir essa profissionalização da forma mais tranquila possível, já que melhorar os níveis educacionais rurais tomam muito tempo e isso nunca foi prioridade no Brasil. Mesmo por aqueles governos que dizem "pregar" uma política de reforma agrária".

Por fim, na concepção de Peres, quem ainda está no campo já percebeu a necessidade de se capacitar. "É uma necessidade da economia e quem não faz, está fora. O PER acabou gerando um certo impacto neste meio e o campo passou de patinho feio para se tornar a locomotiva do Brasil". (V.L.)