Diariamente vemos e ouvimos a televisão nos dizer que o agro é tech, agro é pop, agro é tudo. Faz sentido. Comparando a evolução desse setor com o de outros segmentos da economia brasileira, o agronegócio deslanchou, surpreendeu e se distanciou do resto do Brasil. Seu espetacular desenvolvimento chamou a atenção, não somente de nós brasileiros, mas do mundo todo. Foi de quase U$ 900 bilhões o superávit comercial do agronegócio do Brasil no período 2000/2016.

A grande virada do agronegócio brasileiro começou na década de 1970, quando o Brasil descobriu-se potencial produtor e fornecedor de soja para os mercados interno e externo. A soja foi o motor do avanço acontecido na agropecuária brasileira a partir de então. Além de tornar-se, ela mesma, o principal produto exportado pelo Brasil, estimulou a produção de milho que, juntos, promoveram a produção de carnes, tornando o País o maior exportador global do produto.

No início dos anos 1960, a produção de soja no Brasil não passava de 200 mil toneladas e no final da década seguinte já superava as 15 milhões de toneladas (Mt). Um crescimento igual a 75 vezes em apenas duas décadas o que promoveu a cultura de marginal para a posição de principal lavoura do Brasil.

A descoberta do potencial da soja no Brasil levou milhares de produtores da região Sul - onde a terra era escassa e cara - para o Cerrado do meio Oeste, transformando essa região marginalizada, despovoada e desvalorizada no maior centro produtor de commodities agrícolas do País. O desenvolvimento do Cerrado brasileiro, declarou Norman Borlaug, Prêmio Nobel da Paz de 1970, deve ser considerado um dos maiores eventos do século 20.

Mas os benefícios do rápido desenvolvimento agrícola não beneficiou por igual todos os produtores brasileiros. Segundo Eliseu Alves e Daniela Rocha, apenas 27 mil estabelecimentos agrícolas empresariais respondem por mais da metade do valor bruto da produção agrícola brasileira (R$ 528 bilhões, em 2016). A maioria dos 4,5 milhões de estabelecimentos rurais restantes ainda busca o caminho do sucesso, que poderá nunca chegar, porque lhes faltam as ferramentas necessárias para deslanchar: pouca terra, domínio tecnológico precário, falta de assistência técnica, falta de maquinário ou máquinas obsoletas, e, também, mão de obra familiar escassa, porque os jovens agricultores estão preferindo migrar para a cidade, atrás de mais conforto e lazer.

O êxodo rural, que está deixando o campo com deficiência de mão de obra, não é novidade brasileira. Isto também aconteceu, por exemplo, nos EUA entre as décadas de 1940 a 1980, quando mais de 60% dos estabelecimentos rurais desapareceram. O mesmo está ocorrendo na China e na Índia.

O campo brasileiro está mudando e migrando das pequenas propriedades tocadas com muito esforço e sacrifício pela a mão de obra das famílias proprietárias, para grandes empresas agrícolas altamente especializadas que fazem uso da automação nos processos produtivos, onde a máquina substitui gradativamente a mão de obra com mais rendimento, menos esforço, mais conforto e menos custo.

Essas mudanças contribuíram para alavancar a produção agrícola brasileira gerando enormes excedentes exportáveis, que promoveram o Brasil de importador de alimentos na década de 1970, para atual segundo maior exportador global.

O agronegócio mudou a cara do campo brasileiro e poderá ensinar o caminho das pedras para outros setores da economia nacional.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja