Brasília - Apesar da safra recorde de milho e dos estoques privados dessa commoditie estarem lotados, diversos pequenos avicultores têm encontrado dificuldades para obter esse que é o principal alimento oferecido aos frangos produzidos no País. Com isso, o custo de produção de frangos já aumentou 25%.
Ciente desse problema, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tem estimulado a oferta de milho nas regiões mais necessitadas. A medida, no entanto, é insuficiente para dar conta da demanda do setor, que, segundo a União Brasileira de Avicultura (Ubabef), é milhões de toneladas por mês. O estoque atual da Conab é 1,2 milhão de toneladas.
Parte da dificuldade de acesso ao milho se deve à alta do preço internacional do produto, em decorrência da seca nos Estados Unidos. ''Além de ter reduzido a produção deles, a seca prejudicou também o escoamento, já que afetou as hidrovias norte-americanas por onde o milho é transportado', disse à Agência Brasil o superintendente de Gestão de Oferta da Conab, Carlos Eduardo Tavares.
''Mas acredito que este é um problema momentâneo, já que a safra deles, a maior do mundo, é cinco vezes maior que a brasileira. Enquanto o problema da seca nos rios não for superado, eles compram do Brasil. A partir do momento em que os rios voltarem a permitir o escoamento do produto, a tendência será de maior tranquilidade para comercializarmos internamente o nosso milho.''
Enquanto isso não acontece, a Conab está atuando em duas frentes visando ao suprimento de milho nas áreas mais afetadas pela seca no Brasil - uma no Nordeste, outra na Região Sul. ''O Nordeste desenvolveu uma avicultura forte e depende do milho para alimentar suas aves. Estamos liberando estoques de Mato Grosso para suprir esse deficit. Serão remetidas mais de 400 mil toneladas de milho para o norte da região. Fizemos subvenções para a iniciativa privada interessada em transportar o milho até lá. Na área central do Nordeste, a remoção terá origem nos estoques de Mato Grosso e Goiás'', disse Tavares.
Segundo ele, das 400 mil toneladas previstas para o Nordeste, 70 mil já foram comercializadas. Para aumentar seus estoques destinados ao mercado interno, a Conab já está negociando a compra de 10 milhões de toneladas de milho produzidos em Mato Grosso, no Paraná e em áreas do Nordeste. A Região Sul também registrou problemas devido à seca, principalmente no noroeste do Rio Grande do Sul e no oeste de Santa Catarina. Para amenizar a situação, o governo federal está deslocando 200 mil toneladas de milho para a região afetada.
Avicultura
''O governo usa, acertadamente, o prêmio de escoamento da produção e a venda da produção como instrumentos para regular a situação. É uma atitude elogiável. O problema é que falta volume, porque o consumo e a carência de milho são sempre grandes. A avicultura consome, por mês, 3 milhões de toneladas, valor bem acima do estoque anunciado pela Conab, que é apenas um paliativo e não dá condições para a regulação do preço'', disse à Agência Brasil o presidente da Ubabef, Francisco Turra.
Ele explicou que, no caso do milho, o País tem um bom estoque, ''mas nas mãos do setor privado''. Na opinião de Turra, ''para melhorar a situação, a Conab precisa intermediar mais leilões, inclusive de fretes de milho. Atualmente sobra milho nas áreas de produção, mas falta nas áreas de consumo porque a produção brasileira está tomando outro destino, onde os preços estão mais atrativos''. A falta de ração para frangos é mais sentida pelos pequenos produtores, segundo o presidente da Ubabef. ''Eles não têm capital de giro e não conseguem comprar. Ficam à mercê de um programa governamental como esse, para ter acesso ao milho.''
Segundo Turra, durante congresso mundial da avicultura há duas semanas, produtores de frango anunciaram redução de 10% na produção mundial. No Brasil, a redução mínima deverá ser 10%, causada pela alta do preço dos insumos e pela dificuldade de reabastecimento. Com isso, o repasse ao preço final será inevitável. ''O aumento do custo para o produtor já está acima de 25%, e temos informação que, para o consumidor, o preço final já aumentou cerca de 15%''.