Alimentos básicos, consumidos em grandes quantidades são o foco da pesquisa da biofortificação; projeto HarvestPus trabalha com ferro, zinco e vitamina A
Alimentos básicos, consumidos em grandes quantidades são o foco da pesquisa da biofortificação; projeto HarvestPus trabalha com ferro, zinco e vitamina A | Foto: Tarcila Viana/Embrapa



Desde 2013, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) reconhece a biofortificação como uma das estratégias de agricultura para sistemas alimentares e melhoria de nutrição. Um processo de melhoramento genético que resulta em cultivares mais nutritivas. O Brasil projetou a importância disso e iniciou os trabalhos há quase 15 anos. Agora, num momento de alerta para a qualidade da nutrição mundial, a tecnologia pode fazer toda a diferença nos resultados de dietas mais consistentes.

A Rede Biofort é coordenada pela Embrapa e seu principal objetivo é o enriquecimento de alimentos que já fazem parte da dieta básica da população brasileira. Hoje, o País é o único do mundo trabalhando com oito alimentos biofortificados, sendo 12 cultivares, principalmente de feijão, feijão-caupi, mandioca, milho e batata doce. Existem ainda trabalhos em fase de melhoramento para abóbora, arroz e trigo.

Biofortificação é uma intervenção nutricional específica, com o objetivo de aumentar o conteúdo de micronutrientes em alimentos através do melhoramento genético. Diferentemente da fortificação de alimentos, que ocorre durante o processamento.

Além disso, a Embrapa faz parte da HarvestPlus, uma aliança mundial de instituições de pesquisa e de entidades executoras que se uniram para melhorar e disseminar produtos agrícolas que contribuam para uma melhor nutrição, com foco grande de biofortificados na América Latina e Caribe. "Sempre buscamos alimentos básicos, porque são consumidos em grandes quantidades. Trabalhamos para suprir os micronutrientes deficientes em determinada população. O projeto HarvestPus trabalha com ferro, zinco e vitamina A", explica a pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos e líder da Rede Biofort, Marília Nutti, do Rio de Janeiro (RJ).

Para atingir os resultados, associando produtividade e nutrição eficiente, foram identificadas no banco de germoplasma quais variedades teriam melhor qualidade nutricional e elas passaram a ser cruzadas com variedades de maior produtividade, resistentes a pragas e uma série de outras características. "Não adianta ser uma variedade produtiva e não tiver uma excelente performance agrícola. Trabalhamos junto com os produtores, desde o melhoramento, para saber a aceitação deles. Eles nos ajudaram a escolher as melhores cultivares, além das unidades demonstrativas (no Paraná há uma, inclusive), dias de campo e acompanhamento de aceitação nas escolas e outros locais de consumo".

Entre 2012 e 2014, cerca de 2,5 mil famílias tiveram acesso a alimentos biofortificados. "Acreditamos que a diversificação é o ponto mais importante de uma boa alimentação. Sabemos, entretanto, que existem casos que mesmo assim não se atinge os índices nutricionais necessários. Em nenhum momento pretendemos dizer que a biofortificação pode ser usada sozinha. É uma estratégia, inclusive, que em alguns países vem depois da suplementação, como uma forma de manter tais níveis de micronutrientes mais altos".

Pesquisas da Rede Biofort junto à universidades já apontam que estes alimentos têm micronutrientes necessários para impactar na saúde da população. "Não adianta fazer tudo isso se os produtores não adotarem e as pessoas não consumirem. Temos um trabalho muito grande de transferência de tecnologia, acesso para receber e ver os resultados das variedades. No Maranhão e no Piauí estabelecemos unidades demonstrativas em escolas técnicas agrícolas. Estudantes ficam 15 dias nas escolas e 15 dias em casa. Assim, eles levam esse material para suas residências e se tornam multiplicadores". Para Marília, o maior resultado, principalmente no Nordeste, é a diminuição da evasão rural dos jovens estudantes graças a biofortificação. (V.L.)