O agronegócio carrega o Brasil nas costas
O Brasil nunca teve destaque no comércio internacional. Pelo seu tamanho e potencial, deveria ter mais protagonismo no fluxo de mercadorias que transitam entre as nações, exportando e importando mais. Porém, sua participação nas transações comerciais globais é pequena, ocupando apenas o 25º e 28º lugar, respectivamente, entre as nações exportadoras e importadoras (OMC). Mas, no âmbito das exportações agrícolas o Brasil é gigante, ocupando o 3º lugar como maior exportador. Era 2º até 2016, quando a China, maior produtor mundial de alimentos, teria deslocado o Brasil do 2º para o 3º lugar, comercializando, principalmente, pescado, frutas, verduras e legumes - produzidos em muitos e imensos telados/estufas de ambiente controlado.

Para que um país ocupe posição de destaque como exportador, precisa, também, destacar-se como importador. É ilusão acreditar que o Brasil possa crescer significativamente nas exportações, sem que, ao mesmo tempo, não aumente suas importações. Segundo o FMI, o Brasil, a gigante 9ª economia mundial (já foi a 7ª), participou como anão nas transações comerciais mundiais em 2016 (cerca de 1% do comércio global).

Segundo o MDIC, nossas exportações, além de poucas, se concentram em produtos de baixa tecnologia (commodities agrícolas e minerais, principalmente) e, portanto, com baixo valor agregado. É quase uma regra que nações menos desenvolvidas, como o Brasil, tenham nos produtos agrícolas a base das suas exportações. Mas isto precisa mudar se o País quiser algum dia fazer parte do tão almejado Primeiro Mundo.

Apesar do pequeno montante das exportações, a balança comercial brasileira tem-se mantido superavitária nas últimas décadas, graças ao excelente desempenho do agronegócio. No acumulado de 2001 a 2016, as exportações do agronegócio superaram as importações em US$ 892 bilhões. No mesmo período, houve déficit na balança comercial de outros setores da economia nacional, fazendo com que o superávit do Brasil fosse menor do que o superávit do agronegócio.

Após décadas de superávit, o saldo da balança comercial brasileira foi negativo em US$ 3,96 bilhões, em 2014. Naquele ano, os US$ 80 bilhões de saldo positivo deixados pelo agronegócio não foram suficientes para zerar o déficit gerado por outros setores da economia, cujo desastre só não se repetiu em 2015 e 2016 porque houve um freio generalizado nas importações. Como consequência, exportamos menos mas tivemos saldo positivo maior, o qual deverá repetir-se em 2017, pelos mesmos motivos.

As causas do reduzido protagonismo brasileiro nas transações comerciais internacionais são muitas e as soluções não são simples. Algumas dependem de nós mesmos, outras não. Dentre as causas que independem do esforço do Brasil podemos salientar as barreiras tarifárias e não tarifárias que dificultam ou impedem nossos produtos de alcançar mercados protegidos. Dentre os gargalos solucionáveis por ações do governo brasileiro, pode-se citar alguns componentes do custo Brasil: baixa eficiência da nossa mão de obra, excesso de burocracia, alta carga de impostos e infraestrutura deficiente em rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos. Além disso, a falta de uma política industrial, a falta de foco na agregação de valor, a falta de agressividade nas negociações internacionais, também contribuem sobremaneira para a pífia participação do Brasil no mercado internacional.

O agronegócio se orgulha do papel que está desempenhando no contexto da economia nacional e vem merecendo o respeito e a admiração por parte da população brasileira. Também do exterior.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador Embrapa Soja