A soja cresce em paralelo com a economia
A soja é a principal matéria-prima para a produção de carnes de suínos e de aves. O crescimento da economia mundial e o consequente aumento da renda per capita da população, promoveu mudanças nos hábitos alimentares das pessoas, particularmente as que habitam os países em desenvolvimento, onde se concentra o maior contingente de humanos, que passaram a consumir mais proteína animal (carnes, ovos, produtos lácteos...), e menos grãos. Frente a esta realidade, podemos projetar crescimento da demanda mundial de soja, tendo o Brasil como grande beneficiário, dada a sua grande disponibilidade de terras aptas para o seu cultivo.

O volume das principais carnes produzidas no mundo (bovina, suína e aves) cresce continuamente desde meados do século passado, com maior incremento nas últimas décadas. Segundo o Worldwatch Institute, era de 70 milhões de toneladas a produção das principais carnes em 1961 e chegou a 262,8 milhões de toneladas em 2017, segundo o Departamento de Agricultura (USDA) dos Estados Unidos.

Sem necessidade de derrubar mais uma só árvore de sua imensa floresta amazônica, a área cultivada com soja no Brasil poderá crescer muito ainda, sobretudo em áreas de pastagens degradadas. O Brasil domina tecnologias para produzir soja com eficiência em regiões tropicais, onde o restante do planeta ainda é ineficiente.

Três países (EUA, Brasil e Argentina) respondem por mais de 80% da produção e das exportações mundiais de soja, mas só o Brasil pode expandir consideravelmente sua produção, incorporando grandes áreas aptas e ainda disponíveis para aumentar sua produção de soja, como as localizadas no Centro-Oeste, no Extremo Sul e nas regiões denominadas de Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia) e Sealba (Sergipe, Alagoas e nordeste da Bahia).

Os EUA terão dificuldades para expandir a cultura, pois as áreas aptas e disponíveis para o cultivo da soja estão acabando. As últimas áreas incorporadas ao processo produtivo da oleaginosa foram as localizadas ao norte do cinturão do milho (Estados de Dakota do Sul e Dakota do Norte, principalmente), tradicionalmente cultivadas com pastagens. Para crescer mais os EUA precisarão proceder a trade-offs entre culturas. Trigo, algodão e girassol já cederam espaços para a soja e para a safra de 2017, o USDA estimou a utilização de 1,62 Mha da área do milho para aumentar a da soja, embora eles precisem do cereal para alimentar seu enorme plantel de animais produtores de carne e utilizem cerca de 130 milhões de toneladas de milho para produzir o etanol necessário para a mistura de 20% na gasolina.

A Argentina, terceiro maior produtor mundial de soja dependeu, para seu rápido crescimento na produção da oleaginosa, das terras férteis e da proximidade dos centros de produção com os canais de escoamento e de processamento. Entretanto, essas terras esgotaram e aumentos futuros de áreas poderão ocorrer, mas distantes dos portos/centros de processamento e explorando solos muito menos férteis que as tradicionais pradarias do ecossistema denominado "Pampa Húmeda". O custo de produção aumentará e o de logística de transporte e de armazenamento, também.

Portanto, a vocação do Brasil para se tornar o principal fornecedor da demanda adicional futura do produto ocorre pelas deficiências indicadas dos competidores e pela eficiência tecnológica para produzir em regiões tropicais com baixa latitude.

No que diz respeito à demanda pela soja, em virtude do crescimento econômico e populacional dos países em desenvolvimento, é previsto um aumento significativo no consumo de carnes nas próximas décadas. Com tal perspectiva, segundo a FAO, a produção de carne precisará quase dobrar até 2050 para atender a demanda mundial.

Agradecido, o Brasil está preparado para aumentar a produção e atender essa esperada demanda adicional, quando ela vier.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja