O produtor rural está se tornando quase um "vidente" da lavoura. E não se trata de mandingas ou consultas do futuro. É tecnologia, simples assim. Ferramentas que projetam condições climáticas, consumo de energia e combustível, umidade do solo, expectativas de produtividade, probabilidade de falhas em maquinários... São dados de diversas ferramentas e serviços disponíveis no mercado, como agricultura de precisão, GPS, hardware e software instalados, gerando dados e projeções de cada operação no campo.

Toda essa gama de informações, entretanto, muitas vezes chega ao produtor de forma confusa, desordenada. O grande desafio, sem dúvida, está em convergir esses dados para um só lugar, interpretá-los de forma eficiente e, assim, gerar resultados. É o que propõe a chamada agricultura digital, que pode ser definida, de forma simples, como a coleta e integração desses dados gerados de diversas formas e colocá-los sob análises avançadas de sistemas computacionais, plataformas desenvolvidas para esse fim.

Na prática, o produtor geraria dados de diversas formas – seja por meio de sensores na lavoura, em máquinas, GPS, etc – e tudo isso iria diretamente, pela internet, para uma "nuvem" de algum servidor. Lá, por uma plataforma digital, esses dados são interpretados de forma minuciosa, criando recomendações futuras e direcionadas para o produtor. Quais doenças estão por vir? Vai chover neste local? Quanto de energia vou consumir neste período? A produtividade terá problemas neste solo mais compactado? São muitas as probabilidades de previsão e, assim, novas estratégias para o produtor.

Imagem ilustrativa da imagem Agricultura digital: 'vidente' da lavoura



Empresas de grande porte e até startups têm apostado nesse mercado no País, que cresce ano após ano, inclusive com produtores paranaenses já aderindo a essa tecnologia. Apesar de alguns entraves – como por exemplo a falta de conectividade no campo – as empresas criam estratégias para atrair os produtores a darem esse passo para o futuro. Tudo muito promissor.

IMPACTO NO DIA A DIA
A gerente de análise de dados de recursos naturais do laboratório de pesquisas da IBM Brasil, Bianca Zadrozny, explica que a agricultura digital faz toda a diferença para a tomada de decisão do setor, com estratégias que abrangem desde o clima até pragas e doenças. "Quando se captura o máximo de informações (e se trabalha nessas plataformas), o produtor tem previsões mais acertadas sobre o que vai acontecer. São análises e modelos para a tomada de decisão. É uma visão mais global sobre o que está ocorrendo na propriedade".

Na prática, Bianca explica que dependendo da utilização "os ganhos na propriedade podem chegar a 30%'. "Percebemos que ainda há uma confusão por parte deles de como colocar em práticas essas tecnologias. Em relação aos grandes produtores, já notamos várias decisões acertadas, mas ainda há muito espaço para crescer".

Outro ponto importante, que precisa ser discutido, é a falta de conectividade da zona rural. Apesar de algumas regiões do País terem acesso a internet "full time", isso ainda é um entrave grande, afinal, os dados precisam "subir" para a nuvem de forma constante. "Em algumas propriedades a transferência desses dados ainda é feita de forma manual, via equipamentos, como pendrive. Mas o que percebemos é que cada vez mais está acontecendo uma evolução desta conectividade no campo".