Produtividade média para a soja no Estado deve ser 13% maior do que em 2016, com 3,6 mil quilos por hectare (kg/ha)
Produtividade média para a soja no Estado deve ser 13% maior do que em 2016, com 3,6 mil quilos por hectare (kg/ha) | Foto: Fotos: Sergio Ranalli



Música para os ouvidos dos produtores paranaenses de soja durante o Carnaval foi o barulho das colheitadeiras no campo. Depois de quebra de safra por problemas climáticos no ano passado, houve atrasos no plantio para a safra 2016/17, principalmente no Norte, Noroeste e Oeste do Estado. Com bom tempo em boa parte da última semana, os agricultores intensificaram os trabalhos para cobrir ao menos metade da área plantada até quinta-feira, 9, no mesmo nível do ciclo anterior.

A média estadual era de colheita em 31% dos 5,5 milhões de hectares plantados até o último dia 23, conforme o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento (Seab). Na região de Londrina, no entanto, apenas 9% dos grãos haviam sido colhidos até a mesma data. Os municípios dos arredores de Maringá, por outro lado, já tinham atingido 60% do total.

O clima com chuvas e calor dentro da média no período de desenvolvimento das plantas, além de sol durante a colheita, fez com que a estimativa recorde de produção aumentasse em um mês de 18,3 milhões para 18,6 milhões de toneladas (t), de acordo com o Deral. "O inverno mais intenso no último ano também contribuiu para diminuir a incidência de pragas e doenças e para alongar o ciclo da soja, o que contribui para o aumento da produtividade", diz o técnico do Deral Edmar Gervásio.




Porém, como boa parte dos produtores cultiva milho de segunda safra assim que colhe soja, há pressa para atender a janela de plantio. Gervásio estima que a colheita já estava em 50% no fim de fevereiro do ano passado, mas diz que a tendência é de normalização em pouco tempo no ciclo atual. "Com uma semana de Carnaval quase sem chuva, é possível chegar em 50% até o próximo levantamento do Deral, que será divulgado no dia 7", afirma.

Imagem ilustrativa da imagem Agricultor aproveita sol durante Carnaval para evitar atraso no plantio de milho



Os dias sem chuva durante o Carnaval chegaram a causar filas para recebimento de grãos em algumas cooperativas, principalmente na região Oeste, segundo a Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar). "A capacidade de armazenamento do Estado aumentou de 26 milhões para 30 milhões de toneladas no último ano, então temos uma boa capacidade de recebimento. Essas filas são pontuais, só porque os produtores passaram o dia todo no campo para aproveitar o sol", diz o gerente técnico da entidade, Flávio Turra. Somente 15% do espaço está ocupado com a safra anterior, cita.

No total da safra de versão, o órgão estima uma colheita de 23,6 milhões de toneladas de soja, milho e feijão, 16% acima dos 20,2 milhões do mesmo período do passado. A produtividade média para a soja no Estado deve ser 13% maior, com 3,6 mil quilos por hectare (kg/ha). Porém, algumas poucas regiões, como a de Maringá, tiveram problemas climáticos, enquanto outras terão resultados ainda maiores. Cascavel, onde 56% da área plantada foi colhida, tinha média de 3,7 mil kg/ha.

Para o técnico do Deral, a única ressalva é que ainda há soja em fase de frutificação, e uma seca eventual ou muita chuva no período de colheita desses grãos ainda poderiam prejudicar o resultado final do Estado.

Rentabilidade em alta
A pressa para colher a soja tem sido bem maior do que a velocidade de comercialização. Os produtores venderam 19% da safra até o fim de fevereiro, bem abaixo dos 34% do mesmo período da safra 2015/16. O preço da saca gira em torno de R$ 65 na maioria das regiões do Estado, principalmente pela redução das cotações da commodity e da desvalorização do dólar frente à mesma data do ano passado.

O valor da moeda norte-americana ficou acima de R$ 3,90 durante todo o mês de fevereiro de 2016, uma redução de 20% em relação ao mesmo período deste ano, quando ficou em torno de R$ 3,10, conforme o Banco Central. Por isso, os produtores estão capitalizados e preferem aguardar para comercializar a soja, na torcida de que o valor da saca suba acima de R$ 70.
Economista e gerente técnico da Ocepar, Flávio Turra diz que a cotação da soja no mercado internacional está estável em US$ 10 por bushell (cada saca de 60 kg tem 2,2 bushells). "O ideal seria um dólar a R$ 3,30 e o pessoal está esperando essa recuperação no câmbio", conta.

Turra complementa que ao menos um quinto da produção foi comercializada antecipadamente na safra 2015/16, mas que os valores menores do ciclo atual fizeram com que a maioria decidisse esperar antes de exportar. Ele lembra, porém, que a mudança de ventos sobre a moeda depende de uma série de fatores, como correções na taxa básica de juros brasileira, a Selic, ou da taxa nos Estados Unidos. Mesmo assim, ele diz que a rentabilidade deve ser boa. "Com o aumento de produtividade e usando a mesma tecnologia em relação ao ano anterior, o custo de produção será bem menor proporcionalmente." (F.G.)

Cooperativas e exportação
As cooperativas paranaenses recebem uma média de 65% da soja produzida no Estado, índice que deve ser mantido nesta safra. Foram 10,5 milhões de toneladas no ciclo anterior e 12 milhões previstos para este, de acordo com a Ocepar.

A expectativa de aumento da produtividade do produto é praticamente a garantia de lucratividade para as cooperativas e os associados, acredita Turra. "Com a safra cheia da soja, uma boa parcela da meta de crescimento de 15% prevista para este ano já será atingida", completa o economista.

Apesar da menor taxa de comercialização, o Porto de Paranaguá registrou aumento de 15% nas exportações de soja em janeiro, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Foram 432 mil toneladas exportadas no primeiro mês de 2017, ou 57 mil a mais do que no período anterior. Vale lembrar que o local é a principal porta de saída dos produtos agrícolas do Sul e de estados do Centro-Oeste, o que não significa que os grãos vendidos tenham sido produzidos no Paraná.

Sem números fechados para fevereiro, a previsão da administração portuária é de ao menos 1 milhão de toneladas de soja ao mês até o fim do ano, o que deve representar no embarque de 4,5 milhões até abril, quando somado ao farelo. (F.G.)