2018 que inicia e todos os olhos estão voltados de novo para ele: o agronegócio. Nada mais natural para o setor que tem "segurado as pontas" da economia nacional e assim deve seguir daqui em diante. Não importa a commodity ou a proteína em questão, a expectativa, segundo entidades e analistas entrevistados pela FOLHA, é de um ano de mais fôlego e rentabilidade. É bem verdade que algumas delas passaram por percalços em 2017, mas de forma geral o otimismo é grande para a nova jornada que está por vir. Na edição desta semana, apresentamos as perspectivas nacionais e do Paraná para os segmentos mais importantes.

Nos grãos, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) projeta uma safra de 224 milhões de toneladas, volume abaixo dos 238 milhões da 2016/17, retração de 6%. Entretanto, quando se trata de valores, a expectativa é que o VBP (Valor Bruto de Produção) feche com alta de 7,1%, frente aos -2,3% que deve fechar 2017. O PIB do agronegócio, que está estimado com fechamento de -2% no ano passado também deve ganhar fôlego e está projetado em 1% no azul para este ano. "Teremos queda de produção de grãos apenas se levarmos em conta o ano de 2017, que foi espetacular", analisa o presidente da CNA, João Martins.

Para a soja estadual, até o momento, a projeção é que a safra feche em 19,2 milhões de toneladas, 3% a menos que em 16/17
Para a soja estadual, até o momento, a projeção é que a safra feche em 19,2 milhões de toneladas, 3% a menos que em 16/17 | Foto: Ricardo Chicarelli


De fato, é difícil manter números tão bons da safra anterior, que contou com um clima fora de série. Aqui no Paraná, as projeções do Deral (Departamento de Economia Rural) apontam para uma safra de verão com colheita 22,8 milhões de toneladas, retração de 10%. "Não há expectativa de que se repitam as condições climáticas excelentes da safra anterior, que permitiram uma colheita recorde. Na largada do plantio da temporada 2017/18, houve uma sequência de eventos que não contribuíram para a repetição de fase tão favorável como foi no ano passado", explica o secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado (Seab), Norberto Ortigara.

Para a soja estadual, até o momento, a projeção é que a safra feche em 19,2 milhões de toneladas, 3% a menos que em 16/17. Já o milho verão, que cada vez perde mais espaço neste período, deve ser a menor área da história: 335,6 mil hectares (ha) (-35%) e um volume que deve atingir 3 milhões de toneladas, retração expressiva de 39%. O economista do Deral, Marcelo Garrido, explica que o plantio de milho se concentrou na região Sul do Estado, tradicional produtora do grão. Cerca de 50% da área plantada com milho nesta safra concentra-se nas regiões de Ponta Grossa, com 57 mil ha; Guarapuava, 56 mil há, e Curitiba, 55 mil ha. "A redução no plantio é explicada pela queda no preço, que já chega a 31%. Em novembro de 2016 a saca valia R$ 32 a saca e este ano, R$ 22."

DESAFIOS
O superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, pontua os desafios dos produtores rurais em relação à baixa nos preços da carne e do leite (veja mais nas páginas 6 e 7), mas destacou que para o próximo ano as projeções são animadoras. "Esperamos um cenário positivo, um retorno do consumo das famílias, além das exportações que estarão aquecidas, principalmente nos países asiáticos, com preços da soja e do milho um pouco mais altos também em função do que será consumido na Ásia e nos Estados Unidos para produção de ração animal."

Já Lígia Dutra, superintendente de Relações Internacionais da CNA, salienta a importância da diversificação ainda maior do mercado internacional. "Temos a produção, mas precisamos ter mais acesso ao mercado estrangeiro, porque isso significa acordos com reduções tarifárias, de barreiras sanitárias e um potencial de exportação muito maior". Ela complementa falando da importância de galgar outros países asiáticos e cita o início de negociações com a Coréia do Sul. "Será um passo importantíssimo para o agronegócio brasileiro. É um mercado que sofremos concorrência forte dos EUA e da Austrália."

Faep: um ano de 'paciência e sabedoria dos monges'

Seguindo a tendência de outras entidades representativas do agronegócio, a Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) também não tem dúvidas que o setor mais uma vez segurou a economia do País em 2017. "Apesar de todos os percalços enfrentados durante o ano, o agronegócio foi fundamental para o processo de recuperação da recessão econômica. Nos últimos anos, o setor tem feito a diferença para que a situação econômica não fosse pior. Cresceu em produção e em produtividade. O agronegócio nunca se furtou de se manter firme para ser a porta de saída da crise", salienta o presidente da entidade, Ágide Meneguette.

Ele aproveita para citar os números importantes da cadeia que ajudaram o País em tempos tão turbulentos. "Na última década o Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário cresceu a uma taxa média anual de 3,3%, acima do resto da economia. A safra de 2016/17 atingiu 238,7 milhões de toneladas. O agronegócio brasileiro exportou US$ 7,08 bilhões em novembro de 2017, 23,7% mais que em igual período do ano anterior e recorde para o período tanto em quantidade quanto em valor. A agropecuária criou 93.637 vagas de emprego até outubro do ano passado", complementa.

Na contramão desses números importantes, Meneguette cita entraves que atrapalharam uma melhor evolução do setor, como por exemplo a falta de recursos dos governos federal e estaduais para dar resposta em infraestrutura e logística. "Perdemos competitividade ano após ano no mercado externo. Isso prejudica não apenas o produtor rural, mas toda a economia do País, que tem hoje superávits na balança comercial graças ao agronegócio". "As políticas públicas de apoio ao produtor "minguam" por falta de recursos. O produtor, que já fica à mercê do sol e da chuva, ainda fica totalmente vulnerável às oscilações cambiais e de mercado."

Nesta balança de conquistas e dificuldades, o presidente da Faep acredita que 2018 exigirá "paciência e sabedoria dos monges". "O que não quer dizer sentar e esperar pela mudança. Provavelmente continuaremos como nos anos anteriores assegurando saldos positivos na balança comercial contribuindo para a superação da crise e o desenvolvimento econômico e social do Brasil. Precisamos da implantação desses projetos estruturais (reformas) para deixar uma base para que haja governabilidade para o próximo presidente", finaliza.