"Quanto menos (bens) temos, mais temos liberdade para nos preocuparmos com o próximo", diz irmão Joel Maria, guardião da Toca de Assis em Londrina. Veja vídeo utilizando a tecnologia da Realidade Aum
"Quanto menos (bens) temos, mais temos liberdade para nos preocuparmos com o próximo", diz irmão Joel Maria, guardião da Toca de Assis em Londrina. Veja vídeo utilizando a tecnologia da Realidade Aum | Foto: Saulo Ohara



Você conseguiria viver apenas com poucas roupas, sapatos e alguns livros? Abriria mão de computadores, celulares e outros artefatos tecnológicos? De ter sua casa e seu carro? O conceito de "menos é mais", tão difundido ultimamente, se encaixa com perfeição na vida de muitos religiosos, que optam por ter pouco para si, em troca de mais tempo e liberdade para cuidar do próximo.Guardião da Toca de Assis em Londrina, irmão Joel Maria é um exemplo de vida simples. Ele explica que apesar de os membros da Toca serem conhecidos por essa denominação, a assistência às pessoas em situação de rua é na verdade um trabalho social do Instituto de Vida Consagrada Filhos da Pobreza do Santíssimo Sacramento, do qual ele faz parte.


"Nosso Carisma é a adoração ao Santíssimo Sacramento e o Amor aos Pobres Abandonados de Rua. Temos São Francisco de Assis por nosso patrono, que também tinha essa ligação com os pobres, entretanto, não somos franciscanos. Assim como outros religiosos, fazemos votos de castidade, pobreza e obediência. Quando saímos de nossa casa trazemos apenas o básico, Deus providencia o restante. Quanto menos (bens) temos, mais temos liberdade para nos preocuparmos com o próximo. Nosso objetivo é nos assemelharmos no dia a dia aos pobres", conta ele.

Aos 32 anos, Irmão Maria já está há 14 anos no Instituto. Natural de Maceió, ele passou por diversas casas até chegar em Londrina. A escolha foi feita ainda na adolescência, seguindo um chamado. Filho de um casal de classe média, com uma irmã, ele disse que surpreendeu a todos com sua decisão.

"Eu tinha terminado meus estudos, precisava decidir se iria para a faculdade, se iria constituir família, mas senti no coração que viria para cá. Até então eu pensava que para ser religioso eu teria que ser padre, mas depois descobri a Toca de Assis, descobri que poderia ter outras ocupações. Minha família ia à igreja, mas não era extremamente religiosa. Eu comecei a frequentar a igreja mais ou menos aos 14 anos, aos 16 já tinha recebido o chamado e aos 18 tomei minha decisão. Eu já vinha me preparando para deixar as coisas materiais e a minha realidade era diferente dos jovens de hoje, eu não tinha celular, notebook, eram menos coisas a serem deixadas", explica. Antes de tomar uma decisão definitiva, todo jovem que deseja ingressar na fraternidade passa por um período de formação e orientação, para ter certeza do que deseja.

Apesar do susto, Irmão Maria conta que a família o apoiou. Sua primeira casa foi em Fortaleza e a recomendação foi de que levasse apenas o necessário. Além de roupas e calçados, ele levou a Bíblia que o acompanhava e alguns livros. "Não me lembro de sentir falta de algo. É claro que com essa idade a gente não tem a noção exata do que está deixando, mas desde que senti o chamado fui rezando e me preparando. Depois de Fortaleza fui para Natal, Minas Gerais, até chegar em Londrina. Quando vou para outra casa religiosa levo apenas esse básico, porque sei que lá terei tudo que preciso."

Apesar de não ter as mesmas angústias de uma pessoa que não faz parte da vida religiosa, ansiando por bens materiais como casa própria, carro, eletrônicos entre outros, irmão Maria conta que às vezes tem apreensão pelo dia seguinte."Acho que faz parte do ser humano. Não sinto falta desses bens materiais, mas às vezes sinto certa tensão ao pensar se teremos comida no dia seguinte. Temos que estar renovando esse desejo de que Deus cuide de nós. Não fico triste por não ter algo, vamos vivendo com o que temos", finaliza.

Doações
Para manter a obra social em Londrina, os religiosos dependem de doação, tanto de alimentos, roupas e produtos de higiene quanto de valores em espécie. Além dos religiosos, vivem na casa 11 acolhidos, principalmente ex-moradores de rua. A Toca de Assis também promove diversas ações durante o ano, visando angariar recursos com que possam manter a casa. Uma das principais atividades é a produção de pães, que são vendidos semanalmente nas paróquias.
Às terças-feiras é feito o trabalho pastoral fora da casa, atendendo quem está em situação de rua. Às quintas e sábados, as instalações são abertas para que as pessoas possam tomar banho, fazer a barba e se alimentar. "Também recebemos pessoas na porta, que vêm à casa em busca de auxílio junto à assistência social, como para encontrar parentes", conta irmão Joel Maria.