Imagem ilustrativa da imagem Um é pouco, dois é bom, três é demais?
| Foto: Marcos Zanutto
Lilian Cardoso, 37, teve três gestações e seis filhos: Heloise, Leonardo e Luiz Miguel (6), Isabelly e Lethicia (10) e Giovanna (13). Conheça a rotina da família no vídeo com a tecnologia da Realidade Aumentada



Quando Lilian Boni Cardoso, 37, nos recebeu em Rolândia, a casa estava um silêncio. "Cadê as crianças?", eu perguntei. Uma parte estava na escola e a outra em atividades extracurriculares. Tinha um circo na cidade e elas estavam animadas com os passeios promovidos para assistir aos espetáculos. Lamentando a ausência, continuei a conversa. Quis saber sobre a curiosa história das gestações. "Eu engravidei aos 24 anos da minha primeira filha, a Giovanna, que hoje está com 13", iniciou Lilian, que teve sua segunda gestação dois anos depois. "Aí eu descobri que seria mãe de gêmeas. A Isabelly e a Lethicia, que têm 10 anos", continuou. Ela não tinha feito tratamento para infertilidade, por isso ficou surpresa com a gemelaridade. Também não tem casos próximos de gêmeos na família, só de parentes distantes.



No entanto, o mais surpreendente ainda estava por vir. Sem planejar, Lilian passou por uma terceira gravidez. "Quando eu fiz a ultrassonografia, vi na cara do médico o susto. Então eu perguntei brincando: ‘Não têm dois de novo não, né doutor?’, aí ele respondeu: ‘Não. Dois não. São três’", contou em tom de suspense. Os mais novos têm hoje 6 anos.

Enquanto conversávamos sobre sua história, perguntei a que horas as crianças chegariam, eu tinha interesse em conhecê-las. Elas só voltariam para casa uma hora e meia depois. Então decidimos sair, com a promessa de voltar mais tarde.

No meio tempo, passamos em frente ao circo e vimos várias crianças saindo de lá. Me peguei pensando como seria a rotina de uma mãe de seis. Lilian largou o emprego de auxiliar administrativo para cuidar dos filhos e no início precisou de muita ajuda da avó. Agora, ela administra sozinha todas as atividades dos filhos, levando e buscando cada um em sua rotina.

Voltamos no horário combinado. Antes que ela nos atendesse, foi possível sentir a energia da casa. Era outra. As crianças conversavam e quando notaram nossa presença na calçada, duas ou três cabecinhas pularam para fora da porta entre risos e brincadeiras. Na garagem, um carro adaptado para comportar oito pessoas e as malas que eles carregam na viagem de todo ano.

Quando entramos na casa, alguns vieram cumprimentar, outros correram para os quartos, envergonhados. Giovanna, a mais velha, ficou para contar a rotina da casa. "Não é muito fácil ter tantos irmãos, mas eu já me acostumei. Eles são bem ativos", revelou.

"Eu gosto de ter bastante irmãos porque tem um monte de gente para brincar. Eu nem preciso sair para a rua", contou a entusiasmada Isabelly, 10. Enquanto isso, a mãe chamava os mais novos.

Quando eles chegaram, perguntei sobre a brincadeira preferida. "De pega-pega", respondeu uma. "De pega-pega não, eu não gosto", disse outro. "Ô mãe, a Lethicia tá falando pra eu calar a boca", reclamou o pequeno. Entre o fuzuê, todos se ajeitam para uma foto. O mais tímido sorriu para a câmera e se soltou entre os irmãos.

"Eu fico brava quando eles pegam minhas bonecas", revela uma das gêmeas. Enquanto ela faz a declaração, os responsáveis se denunciam, segurando o riso e tentando se defender enquanto são interrompidos. "Aqui, a hora que todo mundo chega da escola para tomar café da tarde é o horário mais agitado da casa", explicou a primogênita.

Uma casa cheia de crianças não é fácil de se administrar, por isso a mãe tem pulso firme e conta com a compreensão dos mais velhos. Para cada um, uma personalidade diferente, por isso, o castigo é personalizado. "Aqui cada um tem o seu, para um o castigo é não ir para o futebol e para o outro é ir sim para o futebol", brincou a mãe.

A história da mulher que teve gêmeos duas vezes é conhecida na cidade. Para Lilian e o marido, o motorista Robson Roni Alves Cardoso, um desafio. Para as crianças, uma diversão. Eles confessaram que às vezes sai uma briga e outra, mas se respeitam, se amam e sentem falta quando um não está. "Os filhos maiores ajudam a cuidar dos menores, eles brigam, mas logo se entendem, eles não ficam separados", admite a mãe.

Cresce número de gêmeos no País
O último levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou um aumento de 28,5% no número de nascimento de gêmeos no Brasil entre 2004 e 2014. O médico especialista em reprodução humana, Vinícius Stawinski, argumenta que os tratamentos para infertilidade influenciaram nesse crescimento.
As informações sobre o tratamento estão mais acessíveis, o que faz com que as mulheres busquem alternativas para infertilidade. Embora não seja o propósito, o processo facilita a formação de gêmeos. "Em reprodução assistida, a probabilidade de gêmeos gira em torno de 10% a 40% com a transferência de dois embriões. No entanto, o foco é a fertilização, a gemelaridade não é o objetivo", explica o médico.

Stawinski informa que há fatores que favorecem a gemelaridade. Em dizigóticos (gêmeos não idênticos) são considerados os componentes hereditários, a idade da mãe, fator racial, entre outros, independentemente de a mãe ter feito ou não o tratamento. Já os monozigóticos (gêmeos idênticos) são produzidos de forma aleatória, sem qualquer influência externa.

Lilian Cardoso, mãe que teve três gestações e seis filhos sem ter feito qualquer processo de reprodução assistida, informa que os médicos não souberam explicar o que favoreceu para que ela fosse mãe de gêmeos mais de uma vez, mas ela também não procurou se aprofundar no assunto, estava ao mesmo tempo surpresa e feliz.
É com o que Stawinski trabalha constantemente, com a emoção. Dar a notícia de uma nova vida é sempre fascinante. Dar a notícia de gêmeos é ainda mais recompensador. "Eu lido com uma população que vem de muitos anos de frustração, que está há muito tempo tentando. Quando dá positivo, é uma alegria descomunal. E se forem gêmeos, para eles é melhor ainda. É muito legal!", orgulha-se. (L.T.)