Imagem ilustrativa da imagem Na internet, elegância é se colocar no lugar do outro



Em tempos de comunicação virtual, perceber os sentimentos do outro é um grande sinal de elegância. O professor de mídias sociais da Universidade Mackenzie, Celso Figueiredo, é especialista no assunto e garante que o comportamento de se colocar no lugar do outro e refletir sobre a utilidade do que está falando é um grande sinal de elegância nos ambientes da web. "Toda vez que os usuários das redes colocam os próprios desejos em primeiro lugar, correm o risco de serem deselegantes", afirma.
Ele revela, ainda, que há uma explicação científica para a falta de elegância no mundo virtual. "As redes sociais provocam o rebaixamento de hierarquia. No convívio físico, é normal haver um respeito natural às pessoas mais velhas ou hierarquicamente superiores. Mas nas redes este fenômeno se desfaz", explica. Assim, uma relação que na vida física seria cuidadosa acaba se tornando muito direta apesar de não haver intimidade para isso.
Outro fenômeno é a busca incessante por curtidas, que acaba gerando posicionamentos extremos. "Posições sensatas e medianas não geram repercussão na internet, por isso as pessoas assumem posições extremadas para serem notadas. Isso tem um efeito sobre a elegância, pois quem assume extremismos corre o risco de ser ofensivo", acredita, lembrando que os tempos de ativismo exacerbado predispõem a comportamentos radicais.
A falta de elegância na internet se revela nos excessos de postagens.
"Tem gente que publica até foto de cafezinho e outros momentos irrelevantes. Isso acaba aborrecendo os seguidores. Imagina uma pessoa vindo pedir algo na sua mesa toda hora? Excesso de presença é deselegante", pontua.
As redes sociais, conforme Figueiredo, são assíncronas. "Não há sincronia entre o momento da postagem e o momento em que as pessoas vão visualizar. É deselegante ficar cobrando uma resposta instantânea do outro", comenta ele, destacando que muita gente acredita que o WhatsApp substitui o telefone, o que não é verdade. "O telefone é síncrono, as duas pessoas estão se comunicando ao mesmo tempo. Mas no WhatsApp pode ocorrer do interlocutor não ter visto a mensagem ou visualizou e não teve tempo de responder", exemplifica.
Por outro lado, visualizar a mensagem e ignorar é outro sinal de pouco caso, principalmente se há algum nível de intimidade entre quem se comunica. "Não significa que seja necessário falar 'bom dia' todo dia, sem saber se a outra pessoa está acordada. A gente fala bom dia pessoalmente, mas não quando o outro está na cama", brinca.
Nas timelines, falar de política como se fosse uma acalorada discussão sobre futebol é outro sinal de que o mundo virtual pode predispor a manifestações de falta de educação. "É muito bom que os brasileiros queiram debater política, mas não pode ser como se fosse uma conversa futebolística. O debate ideal deve ser sobre as maneiras de melhorar o país, o que pressupõe compreensão e negociação. É diferente do que faz o torcedor, que assume um lado e o defende movido pelo sentimento imediato, pela paixão. Uma das grandes deselegâncias do nosso tempo é pensar que política se discute dessa forma", opina.


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