Gabriela Vieira Silva, Karina Lima Milani e Mariane Okimoto têm projetos incubados na Agência de Inovação da Universidade Estadual de Londrina
Gabriela Vieira Silva, Karina Lima Milani e Mariane Okimoto têm projetos incubados na Agência de Inovação da Universidade Estadual de Londrina | Foto: Saulo Ohara



A tecnologia é aposta para resolver todos os problemas da humanidade. Porém, não conseguiu solucionar uma questão tão antiga - presente nas primeiras civilizações - quanto urgente, já que se mantém a discussão sobre o espaço da mulher em áreas em que o homem ainda é o alfa. Um exemplo é a de inovação tecnológica. No Brasil, as profissionais ganham 30% menos do que eles, no segmento, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad – IBGE). Mulheres que decidiram investir na criação de startups podem não resolver de imediato essa desigualdade, mas apontam para uma nova perspectiva de futuro.

São jovens como Karina Lima Milani, de 29 anos, sócia de uma empresa de Biotecnologia; Gabriela Vieira Silva, de 29, diretora de uma empresa de agronegócio e biotecnologia; e Mariane Okimoto, de 19, sócia em uma startup de desenvolvimento de jogos. Os três projetos estão incubados na Agência de Inovação da Universidade Estadual de Londrina (Aintec).

O trio busca soluções para o dia a dia, seja para crianças com diabetes, como o jogo desenvolvido pela empresa de Mariane; ou na agricultura, no caso de Karina, que desenvolve tecnologias que diminuam o custo de produção e reduzam danos ambientais, e de Gabriela, que produz um sistema de controle biológico de pragas.

No computo geral do empreendedorismo brasileiro existe igualdade de gênero. Os homens são 21,7% dos empreendedores, enquanto as mulheres 20,3%, de acordo com o estudo do Global Entrepreneurship Monitor 2015. A pesquisa é a mais abrangente sobre atividade empreendedora no mundo.

Porém, desde que o ser humano aprendeu a se comunicar por desenhos nas paredes das cavernas até quase fazer café em um smartphone, ainda resiste a cultura de que tecnologia é um clube para homens.

Quer um exemplo?
A Aintec foi criada há 15 anos. Somente em 2015, recebeu o primeiro projeto desenvolvido por uma mulher. Hoje, são três empresas na incubadora lideradas por quatro mulheres em um total de 13 startups.

Karina e Gabriela concordam que a questão da credibilidade no trabalho da mulher é um desafio a ser enfrentado em um mundo de homens, como nos setores de biotecnologia e agricultura em que as duas investem.

"Existe um preconceito, algo estabelecido de que o homem é quem cuida da lavoura e a mãe da família. Quando uma mulher traz novas informações e tecnologia é difícil eles aceitarem. Nós somos de uma geração que está mudando isso. Ainda assim, a aceitação da mulher no mercado pelo homem é baixa", avalia Gabriela.

A avaliação de Mariane, a mais jovem entre as três empreendedoras da Aintec, desperta a esperança de que, nas novas gerações, o prejulgamento da capacidade feminina é menor.

"Eu não senti dificuldade em ser empreendedora de inovação. Pesquisas mostram que, principalmente na área de entretenimento, está havendo uma mudança. Não existe tanto preconceito, sendo mais uma questão de competência", completa Mariane.

Imagem ilustrativa da imagem Mulheres quebram o mito de que a área da tecnologia é um clube para homens



'Sem representatividade, a mulher não se enxerga'
As mulheres estão entrando na moda de um setor que anda muito popular no Brasil, as startups. Ainda que só há pouco tempo tenham pisado nessa passarela de oportunidades de negócios, elas prometem desfilar com estilo. "A mulher ainda não se vê no campo tecnológico em que a maioria é homem da área de exatas. Até as mulheres que são da área de exatas não veem o empreendedorismo como uma possibilidade de atuação profissional", avalia Tatiana Fiuza, gerente da Agência de Inovação da Universidade Estadual de Londrina (Aintec).
O debate sobre a participação feminina no mercado de tecnologia esquenta quando lembramos que, ao contrário dos homens, elas dão conta de milhões de coisas ao mesmo tempo, o que não deixa de ser uma característica de gênero, mas também de uma sociedade patriarcal. Até agora, a mulher tem que pensar como conciliar a carreira e a maternidade.

"Tem os dois lados da moeda e, como empreendedora, eu me deparo com essa situação. Em uma seleção de trabalho, o avaliador considerou o meu relacionamento estável e que estava em idade de ser mãe. Isso não é justificativa para não seguir no processo, mas temos que considerá-la. Acredito que é preciso estabelecer prioridades", afirma.
Gerente da Aintec, incubadora que em 2015 faturou R$ 2,5 milhões e que tem uma equipe administrativa composta por maioria de mulheres, Tatiana é casada, tem dois filhos e faz dois mestrados.

"Não é preciso fazer escolha por uma coisa ou outra. É importante contar com o companheiro, que não ajuda simplesmente, mas se responsabiliza pela casa e os filhos, que também são dele", completa.

Tatiana diz também que, solucionada essa questão, é preciso equacionar a crise de representatividade.

"Quando não existe representatividade, a mulher não se enxerga. É isso que a gente quer incentivar na incubadora. Até como gerente da Aintec, à frente de 13 empresas, quando um incubado entra, demora para eu conquistar credibilidade. Tenho que falar meia hora sobre o meu currículo", conta Tatiana, revelando o longo caminho que a mulher tem que percorrer para sair do isolamento no mercado tecnológico.

'Eu sabia aonde queria chegar'

Em qualquer negócio só se estabelece quem for mais competente. Na área tecnológica não é diferente. A capacidade técnica e a formação não são questões de gênero, como culturalmente alguns ainda acreditam, podendo ser conquistadas por homens e mulheres.

"Sempre fui muito focada e alcancei os meus objetivos, mas as mulheres têm mais sensibilidade, característica que é muito importante para influenciar positivamente no gerenciamento de um negócio", afirma Karina Lima Milani, que é mestre em Biotecnologia e doutora em Biologia pela UEL.



Gabriela Vieira Silva conta que, desde a graduação, já sonhava em ser uma mulher referência no que faz. A empresária é mestre em Biologia/Entomologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), doutora em Agronomia/ Entomologia (UEL), com duas graduações em Biologia (UEM) e Agronomia (Unifil)."Eu sabia aonde queria chegar e quando chegasse estabeleceria novas metas", destaca Gabriela.

Cada vez mais cedo, as mulheres estão colocando as suas competências a serviço da carreira de empreendedoras, como Mariane Okimoto, que ainda está no segundo ano da graduação em Design Gráfico, na UEL, e já lidera o próprio projeto multiprofissional, com gente das áreas de Psicologia e Programação.

"Mesmo que a participação da mulher no empreendedorismo de inovação ainda não aconteça de uma maneira escancarada, estamos fazendo parte de todas essas mudanças e conquistas. Se as mulheres têm a capacidade de mudar o mundo, já estamos mudando", ressalta Gabriela.