Não dá para dizer que o brasileiro está tirando de letra esta crise. Ao contrário, tenta derrotar as dificuldades na unha, sem perder o humor.

Robson Marcelo Basso, 44, trabalhou por sete anos na área de logística de uma grande construtora londrinense. Até ser demitido no dia seguinte ao Primeiro de Maio, Dia do Trabalhador.

O bico de garçom nos finais de semana e feriados, que lhe garantia 40% a mais no orçamento familiar, virou a principal fonte de renda.

Acostumado com o sobe e desce da economia, quando morava em Curitiba o rapaz vendia champignon e tomate seco, e chegou a comprar uma máquina de assar frango para faturar um pouco mais. Há seis anos em Londrina, não enjeita trabalho.



"Quando estava na construtora, vi que precisava de um serviço paralelo. Há dois anos, comecei a fazer bico como garçom. Saio cedo e só volto para casa à noite", conta Basso, que tem um filho de 9 anos e outro de 16.

O segredo para driblar a atual crise está sendo o bom humor. "Acho que quando a gente trabalha na área de comunicação e faz a abordagem a um cliente, desde a recepção no restaurante até o atendimento final, precisa atender bem. O que faz o cliente é o boca a boca", afirma.

No restaurante, Basso diz que se preocupa com a "venda" e o "pós-venda", revelando o tratamento empresarial que dá à própria mão de obra.

"Pergunto aos clientes se estão satisfeitos, se a cerveja está no ponto, por exemplo. Você não pode fazer a venda e esquecer do pós-venda", garante Basso.



Inspiração

O motorista de van escolar Lucry Flocshon Costa Passos, 44, também está matando no peito as dificuldades do atual momento no País, graças ao otimismo.

Ele gosta de lembrar que a inspiração vem da mãe, a dona Flor de Lys, que na época de maior dureza, quando os filhos eram pequenos, repartia o pouco que tinham com os que precisavam.

"A minha mãe me teve pulando Carnaval, lá em Belém, onde morávamos. Quando percebeu, parou, deu dois cascudos na minha cabeça no canto da barriga e falou: Não nasce agora não’", conta Passos, encontrando uma explicação para o próprio bom humor.

Há três anos, ele comprou uma van para fazer o transporte escolar, mas durante sete anos era conhecido dos passageiros de uma linha de ônibus coletivo de Londrina.

Todos que embarcavam em suas viagens eram recebidos com um sorriso e um bom dia. Quando desembarcavam, levavam um "vão com Deus" e outras palavras de otimismo.

"Um dia, eu falei bom dia para uma senhora, que parece que não gostou e deu com a mão. Repeti, ‘pois espero que seja um bom dia para a senhora’. Quando estacionei no Terminal Central, falei para o povo: ‘Bom dia pessoal, bom trabalho, fiquem com Deus’. Saí pela porta da frente do coletivo e a mulher me encontrou chorando e me pediu desculpa. Uma vez também fui chamado na empresa porque outro passageiro reclamou do meu ‘bom dia’. Disse que não tinha feito nada de errado e, como as reclamações são anônimas, não soube quem era o tal passageiro. Mas percebi, nas viagens seguintes, que ao saudar o pessoal um senhor batia os pés no assoalho do ônibus, acho que foi o autor da tal reclamação", lembra Passos.

Hoje, na van escolar, procura manter a alegria. Todo aniversário compra bolo para a criança aniversariante, cantam parabéns e sempre que pode organiza saídas com os pais e os estudantes transportados. "Vamos na pizzaria e se alguns dos pais não têm carro eu vou com a van buscá-los em casa."

Para Passos, a crise passa longe. Ele acredita ser o otimismo um dos diferenciais. "Não tenho do que reclamar. Muitas pessoas ligam para contratar o serviço, acredito que justamente por este diferencial que ofereço. É preciso inovar sempre em nosso tipo de atividade e manter o otimismo", afirma o motorista.