Imagem ilustrativa da imagem Mão na terra, espírito livre
| Foto: Gustavo Carneiro
Maria Piza acredita que o contato com a natureza foi fundamental para amenizar as dores causadas pela fibromialgia. "Agora eu coloco o pé na grama, planto, irrigo, tomo meus chás de ervas naturais e parei com os medicamentos"



Viver em contato com a natureza e se apaixonar por ela. Plantar, cuidar, irrigar, colher são trabalhos que trazem retorno, orgulho e satisfação. Nem todos têm a oportunidade, mas há quem passou grande parte da vida na área urbana e foi, sem ressentimento, morar no campo, onde descobriu um dos maiores prazeres da vida.

Maria Piza, 60, nasceu em uma família de 16 irmãos na cidade de Campo Mourão. O pai, sitiante, produzia café e desenvolveu conhecimento na área, articulando a comunidade para a qualificação do trabalho. Quando ela tinha 7 anos, o pai vendeu a propriedade e foi para Belém (PA), a mãe ficou morando na parte urbana de Campo Mourão com os filhos.

Também foi o mundo rural que trouxe a entusiasta da natureza a Londrina aos 17 anos. "Minha irmã e eu ficamos na fazenda de outra irmã, em Tamarana, mas foram alguns meses. Depois fomos para Londrina para estudar e trabalhar", conta a aposentada. Maria Piza viveu na cidade a maior parte de sua vida, se casou, teve dois filhos, mas voltou para a zona rural em 2014.



"Eu desenvolvi fibromialgia e o médico aconselhou a ter mais contato com a natureza e alimentação saudável. Eu comprei o terreno em 2012, mas vim morar de fato em 2014 e muita gente assustava quando eu falava que viria", brinca. Hoje, Piza não se vê fazendo outra coisa, faz parte da sua terapia. "Agora eu coloco o pé na grama, planto, irrigo, tomo meus chás de ervas naturais e parei com os medicamentos", analisa.

A aposentada trabalhou 32 anos como técnica de saúde pública e enfermagem e afirma que sua vida foi bastante estressante. Hoje, envolvida com as questões ambientais e de sustentabilidade, Piza fez cursos e auxiliou na implantação de uma associação entre os produtores vizinhos. "Uma coisa que me incomodou quando cheguei aqui foi ver terras improdutivas. As pessoas comprando alface no mercado com tanto espaço aqui", acrescenta.

Dessa forma, mobilizou a comunidade para fazer parcerias com entidades competentes. "Nós temos coordenadorias, então temos projetos em parceria com a UEL sobre produção de flores tropicais, formamos grupos de produtos orgânicos, temos apoio de engenheiros agrônomos que nos auxiliam, coloco a permacultura em prática", afirma.

Assim, a aficionada pela natureza implantou o sistema de agrofloresta, plantando alface em meio a flores. A irmã, Marli Minholi, 58, veio de São Paulo (SP) para uma visita e ficou animada com as propostas. A intenção é arrendar um espaço para também plantar flores. "Já estou iniciando porque quero voltar a morar no campo também, meus filhos falam que agora é hora de viajar e descansar, mas eu não estou morta, dá para estudar e aplicar ainda", afirma Minholi.

'Aqui tudo é 100% reaproveitado'
Em comparação aos grandes produtores, o espaço de Maria Piza não é muito grande. Ela possui 2 mil metros quadrados muito bem aproveitados, com árvores frutíferas, horta, legumes, flores e sistemas de permacultura distribuídos. "As pessoas acham que precisam ter 10 alqueires para produzir, em 500 metros quadrados eu plantei 560 mudas de alface", conta.

Em um passeio para conhecer o espaço, a aposentada demonstra os projetos futuros e o que já está sendo aplicado. Composteira, biodigestor, tanque de evapotranspiração, círculo das bananeiras e reflorestamento na margem do rio ao fundo. "Aqui tudo é 100% reaproveitado, nada se perde, tudo se transforma. Eu acho um absurdo ensacar uma casca de banana para ir para o aterro sanitário. Por isso, vem muita gente curiosa querendo aprender, como alunos da universidade e vizinhos também", diz Piza, que orgulha-se por compartilhar o conhecimento e adquirir mais informação como retorno.

Além do contato com o campo, Maria Piza também é adepta da medicina ortomolecular, e por meio dos trabalhos com a terra acredita que conseguiu deixar de ser uma pessoa doente. "Tem gente que vai pra yoga, ginástica, porque precisa descarregar. É preciso sair dessa carga de estresse, vida de morte, doença, para uma vida mais saudável", finaliza. (L.T.)