Imagem ilustrativa da imagem Amizade incomum
| Foto: Gustavo Carneiro
Tales Ferrero de Araújo cuida da jiboia Ozzy, de 2,3 metros. "Não tem veneno, não tem peçonha, é uma cobra constritora. Quando morde, não é para machucar"



Cherry e Channel vieram alegres, cada uma com lacinhos na orelha. As duas shitzus foram simpáticas, alegres, ótimas anfitriãs, mas a equipe da FOLHA estava interessada em outro morador da casa. Ozzy estava quieto no canto, não estava animado em fazer novos amigos, ficou escondido na toca até que alguém o tirasse de lá.

Tales Ferreto de Araújo, 25, e o irmão, Marcel Ferreto de Araújo, 28, dividem a responsabilidade sobre uma jiboia macho de 7 anos e 2,3 metros. O terrário onde ele vive fica na sala principal da casa, ao lado do sofá. "Aqui em casa, todo mundo gosta de animal. Quando falamos com meu pai, ele indicou uma pessoa que já tinha uma cobra e nós fomos atrás", contou o irmão mais novo, biólogo e biomédico, que recebeu a reportagem em sua casa.

Ozzy chegou com aproximadamente 2 meses e 30 centímetros. Autorizada pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), a jiboia veio legalizada do Tocantins, com as documentações, chip de localização e as instruções para não sofrer no trajeto.



Antes de chegar, a família, incluindo Cherry e Channel, já a esperava com terrário apropriado e pesquisas feitas sobre alimentação e condições. "É bem fácil de cuidar. Ele se alimenta de um rato (comprado em local especializado) a cada três semanas, nós controlamos a temperatura e a umidade e limpamos o terrário. Também pegamos no colo com frequência para que esteja sempre acostumado com a gente", explicou.

A cobra não é segredo, o condomínio sabe que tem um vizinho exótico e as crianças adoram. "Muitos vêm aqui conhecer, ficam curiosos, trazem amigos para mostrar", falou. Sobre os riscos, Tales informou que não é perigoso desde que se tenha os cuidados necessários. "Ele não tem veneno, não tem peçonha, é uma cobra constritora. Quando morde, não é para machucar."

Em sete anos, houve apenas um ataque por descuido na hora de tirá-lo do terrário. "Ele deu o bote e pegou a mão do meu irmão, mas não foi nada grave, foi porque meu irmão pegou de mal jeito e o Ozzy se assustou. A mordida foi pequena, só higienizou o local e ficou tudo bem", contou Tales, lembrando ainda que sempre evita movimentos bruscos próximos à cabeça do animal.

Às vezes a família coloca a jiboia na grama da casa para que ela tome um pouco de sol. Cherry e Channel são as mais desconfiadas, elas aceitam, mas estão sempre atentas. "Acho que é uma curiosidade normal, quando ele está solto, nós separamos ou ficamos por perto para que nenhum estranhe o outro", afirmou.

Soltar Ozzy pela casa não é uma atividade comum, ele tem o seu local e gosta de ficar por lá. Quando deixam na grama, ficam atentos para que não fuja, o que já aconteceu. "Antes ele ficava num terrário em que a porta era de correr e nós deixamos entreaberta. Quando voltamos, tinha sumido. Foi um desespero, procuramos por todos os lados para descobrir depois que ele tinha se escondido na gaveta que ficava logo abaixo", brincou. Hoje, o espaço é mais seguro, protegido com porta e trancas.

Embora cause estranhamento, Tales contou que nunca teve problema com amigos e namorada, mas que o animal criou fama aos donos, os tornando "os caras da cobra". Apesar do estranhamento, acredita que a relação é a mesma que a de um dono de um pet comum. "Não tem diferença, sei que não é um animal amigável como um cachorro, mas eu percebo que ele nos reconhece. Quando ele chegou, também tive receio, porque a cara não é das melhores, você não vê empatia, mas se acostuma, hoje eu tenho um carinho por ele", relatou.

O estranho e a oportunidade
Muitas famílias, quando vão viajar, precisam deixar o seu bicho de estimação com alguém, nisso surgiram os hotéis para cães e gatos. Mas e quando você tem uma cobra, ave, aranha, com quem deixaria seu animal? Foi pensando nessa demanda que Tatiana Guimarães, 31, planeja um hotel para animais exóticos em Londrina.

A ideia veio da possibilidade de tornar o sítio, onde pretende morar, em negócio. "Como a gente não quer mexer com agricultura e quer trabalhar perto de casa, ficamos pensando em algo que envolvesse toda a família, que todo mundo goste. Foi aí que começou a surgir a ideia do hotel para animais", explica Guimarães.

O intuito era atender cães e gatos, mas no decorrer da pesquisa sobre o assunto foi descobrindo a falta no segmento. "Percebi que muitas pessoas não tinham com quem deixar os animais exóticos, como répteis, hamsters, aves e outros. É o tipo de animal que é difícil encontrar outra pessoa disposta para cuidar", conta a costureira que terá como parceiro o marido, que está terminando o curso de Medicina Veterinária, e outra veterinária especializada em animais exóticos.

A proposta é nova em Londrina em várias questões, por isso, para se tornar realidade, está em processo de legalização, o que exige estudos até mesmo dos órgãos competentes. "Estamos todos estudando para fazer com que a ideia saia do papel. Espero que até o fim do ano que vem, o hotel já esteja em funcionamento", afirma.

Cães, gatos, aves, coelhos, tartarugas, aranhas, hamsters e outros animais que puderem ser atendidos terão seus espaços exclusivos e atendimento especializado. "Nós queremos trazer oportunidade para o animal que fica e para a pessoa que deixa", planeja.(L.T.)