Você conseguiria imaginar a rainha da Inglaterra, do alto dos seus 90 anos, usando biquíni em público? E que tal uma droga muito poderosa, que mata seus usuários em apenas três dias? Apesar de desafiarem a lógica, já que a rainha sempre aparece em roupas clássicas e tradicionais e nenhum traficante teria interesse em perder seus "clientes" de forma tão rápida, muitas pessoas acreditaram em tais fatos e os compartilharam à exaustão nas redes sociais.

Gilmar Lopes é analista de sistemas e também o criador do site E-farsas, onde desvenda esses mistérios da internet. Diariamente, recebe diversos pedidos para elucidar notícias e boatos e conta que costuma dedicar suas noites a isso, sendo que alguns mistérios são resolvidos em poucos minutos, já outros pedem uma pesquisa mais apurada. Para ele, há uma explicação simples sobre o motivo desses boatos existirem. "As pessoas tendem a acreditar naquilo que veem de acordo com o que elas pensam, acreditam naquilo que valida seu pensamento. Outras não se dão ao trabalho de ler o texto todo, leem apenas a manchete e já acreditam", afirma.

O site, que completa 15 anos em abril, foi criado justamente por causa da curiosidade de Gilmar, que recebeu uma "corrente" por e-mail e resolveu pesquisar sua veracidade. Ao compartilhar com amigos sua descoberta, acabou recebendo outros pedidos e assim criou o site. As publicações fizeram com que ele deixasse de lado seu trabalho com obras e seguisse a carreira de analista.

"Quanto mais absurdo, mais fácil é descobrir a verdade. Tenho também pessoas que colaboram comigo na resolução dos boatos. Mas há uma lista básica a ser seguida para descobrir se uma publicação é verdadeira ou não. Em geral os assuntos que mais geram boatos são saúde, política – principalmente em época de campanha -, esportes e famosos, que vira e mexe são dados como mortos", explica.

Embora algumas publicações fantasiosas ainda escondam vírus nos links, o detetive virtual explica que a maioria dos boatos são criados com o objetivo de angariar acessos para os sites que os hospedam, o que gera maior visualização de anúncios e, consequentemente, maior rentabilidade. "Mas tem aqueles criados apenas para prejudicar alguém ou para gerar confusão. Alguns, entretanto, podem ter consequências bastante graves, como aquela mulher que foi morta no Guarujá (SP), ao ser confundida com uma sequestradora de crianças."

Lopes aponta também que o próprio Facebook, ao criar a possibilidade de seus usuários compartilharem "lembranças", indiretamente faz com que as pessoas leiam e republiquem sem se atentarem de que a notícia é de anos atrás. Os boatos também costumam ser "reciclados" e basta uma busca rápida para ver que aquela história já circulou antes. "Tem coisas que eram passadas por e-mail e agora circulam através do Facebook ou do WhatsApp", afirma.

Como identificar uma notícia falsa
Geralmente, uma noticia falsa possui algumas (ou todas) das características abaixo:

1) Cita nomes de pessoas ou de instituições para conseguir mais credibilidade.

2) Usa nomes de pessoas inexistentes com cargos de nomes pomposos e/ou de instituições que não existem.

3) Não é datada para que o leitor sempre tenha a impressão de que a notícia é recente.

4) Pede para ser repassada ao maior número de pessoas.

5) Possui um texto incoerente e confuso.

6) Ausência de fontes.

7) Trata de algum assunto que atraia a maior quantidade de leitores.

8) Possui um tom conspiratório.

9) Usa algumas palavras em letras maiúsculas e/ou coloridas para chamar a atenção do leitor.

10) Mistura fatos reais com ficção.

Fonte: Gilmar Lopes, site E-farsas