"Café para mim é uma daquelas coisas que imediatamente acionam minha memória afetiva", diz a professora e tradutora Carmem Fontes
"Café para mim é uma daquelas coisas que imediatamente acionam minha memória afetiva", diz a professora e tradutora Carmem Fontes | Foto: Divulgação



Acordar e sentir o aroma do café fresco é provavelmente um dos momentos mais gostosos do dia. Mesmo quem não aprecia costuma dizer que o cheiro da bebida sendo preparada é bastante atraente. Tomar uma xícara logo cedo ajuda a despertar e traz a energia necessária para as atividades que virão pela frente. Os apaixonados por café dizem não sair de casa – e até mesmo não conversar com ninguém -, antes de apreciar a bebida.

A professora de inglês e tradutora Carmem Fontes é um desses aficionados. Frequentemente é possível ver em suas redes sociais elogios a todos os tipos de café e o aviso bem claro de que sem ele, ela não fica. "Café para mim é uma daquelas coisas que imediatamente acionam minha memória afetiva. Amo café desde criança, minha mãe costumava fazer duas garrafas de café todos os dias, e então sempre tinha aquele cheirinho bom de manhã e depois do almoço. Na casa dos meus avós também, o café era obrigatório. Quando criança, mesmo bem pequena, enquanto os colegas bebiam leite achocolatado, eu bebia sempre café com leite de manhã. Minhas filhas também bebem café desde muito pequenas e adoram", conta.

Ela diz que a paixão é tamanha que se chegasse na escola para trabalhar e não tivesse café, ia preparar. De manhã, a bebida a ajuda a despertar e enfrentar um novo dia. "Se eu não beber café, sinto dores de cabeça. Sem café, pela manhã, não consigo nem conversar. Minha filha já sabe, e espera meu ritual matinal de fazer e tomar um café fresquinho antes de se arriscar a puxar conversa. Evito tomar café expresso depois das cinco da tarde, no entanto. Atrapalha o sono. Dizem que descafeinado não é café, mas depois de uma certa idade a gente tem que considerar essa opção. Se eu sinto vontade de café à noite, faço um descafeinado", afirma.

A professora não faz distinção entre os infinitos tipos de café, desde que esteja fresco: coado, expresso e até o café norte-americano, considerado "fraco" para nossos padrões. No dia a dia ela conta que recorre à cafeteira elétrica e sempre que viaja busca lugares bacanas para experimentar novos sabores da sua bebida preferida. "Sempre estou disposta a experimentar um café diferente, é como um ritual obrigatório que me faz carregar lembranças dos lugares que visito. Gosto de marcar com amigos, alunos e ex-alunos para tomar um café, sempre que possível. E quando estou traduzindo, o café vem junto para ajudar na concentração, no raciocínio."

Por causa do trabalho, aliás, Fontes diz que agora precisa ficar mais atenta à quantidade de café que toma. "Infelizmente minha fonoaudióloga me sugeriu diminuir o consumo, porque estou estudando para ser intérprete, e o café pode atrapalhar a voz. Mas até três xícaras está liberado, então tudo bem. Senão eu teria que repensar a carreira!", destaca.

Desde o período colonial
"Vamos tomar um café?" Apreciar a bebida é motivo para jogar conversa fora com os amigos, discutir um negócio, dar uma notícia importante, contar um segredo, passar um tempo com alguém querido. O brasileiro é apaixonado por café e não dispensa a bebida faça frio ou calor, logo ao acordar, depois do almoço ou naquela pausa do trabalho.

De acordo com o professor de antropologia da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Carlos Alberto Balhana, tomar o café é uma sessão de convivência, de trocas de ideias e uma forma de se encontrar. "Café é a bebida nacional, é uma maneira de conversar melhor. Criamos laços de solidariedade orgânica com o café. Além disso, a cafeína é estimulante", aponta.

O professor reforça que ao convidar alguém para tomar um café fora de casa, criamos um elo familiar, já que a bebida está presente em praticamente todos os lares. "Esse hábito vem do período colonial, o café já era uma bebida familiar."

Balhana lembra que em alguns lugares outras bebidas assumem o lugar do café, como o chimarrão no Sul do País e o chá em alguns lugares do Nordeste. "A cerveja também pode ser considerada uma bebida que agrega os amigos, porém não é bem vista para ser consumida no horário de trabalho." (E.G)