André Lima e Karina Vargas: "O que a gente busca é colocar a alma da pessoa na casa, através da peça reformada"
André Lima e Karina Vargas: "O que a gente busca é colocar a alma da pessoa na casa, através da peça reformada" | Foto: Bruno Ferraro/Divulgação



Vintage ou novo? Eis uma questão da revolução do design sustentável. Para a designer de interiores Karina Vargas e o arquiteto André Lima, proprietários do Estudio Gloria, em Cotia, São Paulo, e apresentadores do programa "Admirável Móvel Novo", do gente, o questionamento até é válido. Porém, os móveis garimpados e reformados pelo casal embaralham o fluxo do tempo.

É como se a flecha que vem do passado em direção ao presente e futuro, perdesse a rota e não soubéssemos precisar o tempo ou a idade dos móveis criados pelo casal.

Karina, formada em moda e design de interiores. André, publicitário e arquiteto, se conheceram há 18 anos. Ela cenógrafa e ele produtor-executivo em um estúdio fotográfico. O casal participou, na semana passada, em Londrina, de um bate-papo na programação do "Arquitetando", evento de decoração e arquitetura, realizado pela Yticon.

"Sempre gostei de móveis antigos. A minha família morou na Vila Mariana, um bairro paulistano com casas antigas e, como antigamente não era possível trocar de móveis com facilidade como acontece hoje, eu cresci vendo beleza em tudo isso. Trabalhei com moda por cinco anos e continuei com esse foco. Quando fui trabalhar no estúdio de fotografia, conheci o mundo dos cenários, o que me influenciou ainda mais profissionalmente", conta Karina.

Uma acumuladora do bem. Mais do que isso: que deu certo. A design se encaixa perfeitamente no perfil. "Comecei a garimpar móveis antigos. Isso lá por 1998, o que na época não era bem aceito. Diziam: 'nossa, isso é uma velharia’, mas eu afirmava: ‘nossa, que lindo’. Foi a semente do nosso negócio", lembra Karina, acrescentando que o Estudio Gloria começou em 2007, quando resolveu fazer um bazar do acervo para amigos e amigos de amigos.

Karina também conta que já fez a "louca da revista", antes de se tornar referência em design sustentável, comprando e lendo pilhas de revistas sobre decoração.

"O André falava 'não adianta você comprar tanta coisa', e comprar significava ter 90 cadeiras, por exemplo. Aí começou toda essa nossa loucura", continua Karina.

A designer britânica Tricia Guild e a decoradora brasileira Neza Cesar são inspirações de cores, texturas e a pegada de trabalhar com coisas antigas, respectivamente.

Com uma equipe de profissionais formada há 20 anos, capaz de transformar velharias em novas peças de decoração, o casal está na terceira temporada do programa "Admirável Móvel Novo", exibido pelo GNT.

A programação mistura os formatos variedade com reality-show. Episódios em que os participantes têm histórias de apego e afeto com móveis que querem ressuscitar.

"Criamos uma nova linguagem para os objetos que reformamos e que vai além de um negócio sustentável. É uma recuperação, uma ressignificação e uma recriação dos móveis. Foi aí que começamos a sair na mídia e a mostrar o que fazíamos em nosso sítio em Cotia. Chegamos a mudar a loja para uma rua importante de decoração, em São Paulo, mas hoje voltamos com a loja para o nosso sítio", conta André.

O arquiteto diz que as peças reformadas no programa ou as que estão na loja são como se estivessem sem donos e resgatam a sua história.

"Hoje, enquanto todo mundo se desfaz de móveis, a pessoa vê uma peça reformada no programa ou na loja e diz: ‘nossa, essa mesa, por exemplo, é igual a que tinha na casa da minha avó. Aquela máquina de costura, a minha avó tinha uma igual’", destaca André.

Na temporada atual do programa, o casal teve três meses para reformar 26 móveis, tempo curtíssimo para trazer de volta peças do passado e as suas histórias. Além de novas cores ou texturas, os objetos ganham um novo sentido em soluções e utilidades diferentes das originais.

"O que a gente busca é colocar a alma da pessoa na casa, através da peça reformada", comenta Karina, que diz ainda contar com a ajuda deste movimento de design sustentável no convencimento de que vale a pena reformar.

A partir daí, surgem histórias que iriam para o lixo ou ficariam esquecidas no canto de um porão ou quarto de bagunça.

Como a de uma máquina de costura Vigorelli, dos anos 1950, que uma jovem herdou da avó e que ganhou uma nova versão com o forramento da caixa protetora com uma estampa de Frida Kahlo. A história foi contada em um dos episódios da atual temporada do programa.

Vintage ou novo? Bem, móveis restaurados como este, nem o tempo conseguirá dizer.