Rodolfo Goulart, de 24 anos, integrou o elenco de "Dzi Croquettes", recriação de espetaculo dos anos 1970
Rodolfo Goulart, de 24 anos, integrou o elenco de "Dzi Croquettes", recriação de espetaculo dos anos 1970 | Foto: Divulgação



Não é todo mundo que pode afirmar que conquista tudo, centímetro a centímetro, passo a passo, milha por milha, como diz a canção "Mein Herr", do musical "Cabaret" (1972). O bailarino e cineasta Rodolfo Goulart é uma dessas raras exceções. Ao cantar a música do filme, que consagrou Liza Minnelli com o Oscar de Melhor Atriz (1973), o paranaense garantiu espaço no elenco de "Dzi Croquettes", recriação do fenômeno teatral brasileiro dos anos de 1970, que subverteu os "bons costumes", colocando em xeque os padrões de gênero. A partir daí, a carreira dele deu um salto. O artista mudou de Rolândia para o Rio de Janeiro. Hoje é um cidadão de São Paulo pronto para conquistar o mundo.

De Rolândia até morar em Cantagalo, no conjunto de favelas fronteira com Ipanema, foram milhas de muito esforço. Mas, Goulart conseguiu descer o morro, mudar para o asfalto e pisar em Milão, como editor da Cavallaria Filmes, integrando a equipe de produção com os atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank.

Na dança, o paranaense começou como bolsista da Escola Municipal de Dança de Londrina (Funcart). Ao participar da edição 2013 do Festival de Dança de Joinville (SC), conheceu bailarinos de Niterói (RJ), foi visitá-los, passou pela Cinelândia para assistir ao Dzi e, numa festa, foi apresentado à Radha Barcelos, filha de Ciro Barcelos, diretor e coreógrafo do espetáculo. Ela lhe falou das audições para o elenco.

Lutador de karatê e jiu-jitsu, Rodolfo vestiu lingerie, salto alto, cantou "Mein Herr", conquistou não só a vaga, como se tornou ensaiador do Dzi, grupo amadrinhado por Liza Minnelli, durante o exílio na Europa.

OUSADIA
Com o Dzi, Goulart se apresentou no programa "Altas Horas", de Serginho Groisman (Globo), no elenco ao lado do ator Bruno Gissoni. No grupo, que inspirou Miguel Falabella, Maria Zilda, Cláudia Raia, Marília Pêra, o paranaense ainda dividiu o palco com Ney Matogrosso, outro fã da ousadia transgênero do Dzi.

"O meu solo no Dzi cantando ‘Mein Herr’ trabalhava a androgenia homem e mulher. Não fazia um personagem. Eu continuava sendo Rodolfo. Não era eu imitando a Liza. Sou a Liza, sendo Rodolfo. É diferente de outros espetáculos do gênero. Não somos homem nem mulher, o que cria infinitas e inusitadas possibilidades artísticas", conta o artista, que deixou o grupo, em 2015, se mudando para São Paulo.

Subindo as ladeiras de Cantagalo, morando em quartos alugados, Goulart dividiu teto com pessoas diferentes, como um tarólogo e um professor de butô, que tem um site de turismo. Em troca de moradia, editava a página, enriquecendo o portfólio, enquanto também fazia aulas de dança no Espaço Feodorova, academia tradicional carioca.

MODA
Com pouco dinheiro e o portfólio embaixo do braço, em São Paulo, o rapaz foi bater na porta da Cavallaria Filmes. A produtora de arte e cinema é precursora do fashion film, no Brasil, e realizadora do São Paulo Fashion Film Festival (SPFFF), primeiro festival de produções audiovisuais de moda.

Saiu de lá empregado. Hoje é editor de Marcos Mello na produtora, criada com o fotógrafo Jacques Dequecker. Goulart passou ainda pelo Ballet Stagium, a companhia privada mais antiga do Brasil, fundada em 1971. Atualmente, faz aula na Escola Municipal de Dança de São Paulo.

A vida dupla de bailarino e editor é influenciada pela moda estampada no palco e nas produções cinematográficas. "Teve temporada em que me apresentei no Dzi e o Stagium, mas não estava conseguindo pagar as contas e foi preciso pedir emprego na Cavalllaria. Passei a ter contato com grandes nomes da moda nacional e internacional", diz o artista, que trabalha com top models como Caroline Ribeiro, Isabeli Fontana, Alicia Kuczman e o supermodelo brasileiro Marlon Teixeira.

Goulart é o editor dos clipes "Corazón", de Cláudia Leitte com o cantor porto-riquenho Daddy Yankee, "Denuncia", de Anitta, e "Te Pegar", de Iza, a nova aposta da Warner Music, clipe que tem a participação do ator José Loretto.

Nos dez dias em Milão, gravando com Gagliasso e Ewbank para uma rede de lojas, Goulart dirigiu e protagonizou o vídeo dance em 360 graus "Milano Stazione Centrale".
"O vídeo causou um buchicho, que me ajudou a ter contato com muitas técnicas de edição. Na moda, trabalhamos seis meses antes, o que influencia o meu trabalho sempre com uma linguagem muito nova", ressalta o artista que, além de outros vídeos dance, dirige curtas-metragens.

O curta "Reparto", apresentado na 24ª edição do Festival Mix Brasil, é um dossiê do paranaense no Dzi. A trilha é de Felipe Catto. "É um caldeirão antropofágico das minhas influências, que reparto com os colegas de dança e o público. Um manifesto do que acredito".

O seu mais novo trabalho é o curta "Cock Town Stories".Uma tradução livre seria "Histórias de Rolândia". Porém, brinca no título com a gíria, em inglês, "cock", uma maneira vulgar de se referir ao órgão sexual masculino.