"Não sinto saudade nenhuma do futebol. Meu tempo passou. Amo estar com minha esposa e meus filhos", diz Alex, um dos maiores camisas 10 que o Brasil já teve
"Não sinto saudade nenhuma do futebol. Meu tempo passou. Amo estar com minha esposa e meus filhos", diz Alex, um dos maiores camisas 10 que o Brasil já teve | Foto: Saulo Ohara



Num cantinho escondido da arquibancada lá está ele de boné, óculos de sol, celular na mão anotando cada movimento na quadra em que duas adolescentes disputam uma partida de tênis, sempre acompanhado da esposa Daiane. Esta hoje é uma das principais missões de um cara que conviveu até pouco tempo com as emoções e agitações do futebol vividas por ídolos internacionais.

Dois anos após se aposentar dos gramados, o ex-jogador Alex de Souza vive uma rotina discreta em Curitiba, curte a família e "sofre" acompanhando a filha mais velha, Maria Eduarda, de 12 anos, nos torneios de tênis Brasil afora. "Sou motorista e acompanhante como pai. Como ex-atleta, tento passar a ela o valor de estar compromissado com o desejo dela. E jamais falo de tênis, porque não entendo nada!", resume o ex-craque, um dos maiores camisas 10 que o Brasil já teve.

Imagem ilustrativa da imagem Alex é um craque na arte de ser pai
| Foto: Arquivo Pessoal



Neste período pós-aposentadoria, Alex garante não estar sentindo falta do futebol e comemora o fato de poder participar mais do convívio familiar e do crescimento dos filhos. "Está sendo ótimo! Tudo aquilo que imaginei fazer, estou conseguindo. Não sinto saudade nenhuma do futebol. Meu tempo passou. Amo estar com minha esposa e meus filhos. O que mais gosto é de estar à disposição deles", revelou o ex-jogador, que também é pai de Antonia, de 10 anos, e de Felipe, de 6.

E os filhos influenciaram diretamente na decisão de não trabalhar com futebol neste momento. "Penso (em trabalhar no futebol), mas com meus filhos pequenos não quero", enfatizou o ex-craque, que marcou um dos gols mais bonitos da história do estádio do Café, em Londrina, contra a Argentina, no Pré-Olímpico de 2000, disputado na cidade.

Ídolo de palmeirenses, cruzeirenses e coxas-brancas, Alex é quase Deus na Turquia, onde defendeu o Fenerbahçe. Tem até estátua em Istambul, onde os torcedores fazem peregrinação para reverenciá-lo. No dia em que se despediu do clube, uma vigília foi formada na porta do condomínio onde morava. Milhares de pessoas cantando, chorando, pedindo para ficar. Basta uma passada de olhos rápida em suas redes sociais para entender essa idolatria turca não só pelo jogador Alex, mas pela pessoa. "Não consigo definir em palavras", confessa.

A saída polêmica do clube turco está relatada com detalhes em sua biografia, lançada no fim de 2015, pela editora Planeta. Alex abriu o coração ao jornalista Marcos Eduardo Neves, que ouviu ainda outros 120 personagens que marcaram a carreira do ex-jogador. Entre os assuntos abordados está a decepção por não ter ido à Copa de 2002 com a seleção dirigida por Luís Felipe Scolari, com quem havia sido campeão da Libertadores em 99, no Palmeiras.

Além do clube paulista, Alex também, brilhou no Cruzeiro, ganhando a Tríplice Coroa em 2003 – Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Brasileirão. No Coritiba, onde foi revelado e onde encerrou a carreira, também é reverenciado. "Minha relação com Palmeiras e Cruzeiro é muito forte. O Coritiba é quintal da minha casa", define.

Se está longe dos gramados, Alex está participando do futebol de um outro jeito. É um dos comentaristas do programa "Resenha", da ESPN Brasil. "É uma experiência nova, na qual procuro aprender com os jornalistas da ESPN", aponta.

Alex também se destacou por ser um jogador diferenciado intelectualmente e com opiniões fortes e marcantes, sempre se posicionando independentemente do tema. Não à toa é um dos líderes do Bom Senso FC, um movimento que tenta melhorar o futebol brasileiro e as condições dos atletas.

"Cresci na periferia e casei com uma menina de outra realidade. O futebol me levou a ver vários pontos. Os favelados, os ricos, os milionários e percebi que são todos iguais. A diferença fica no conforto que o dinheiro oferece. E acho que brigar por igualdade é nossa obrigação. Porque socialmente a desigualdade é enorme e no esporte se mostra todos os dias", encerra.