Todo mundo lê o tempo inteiro, seja um post em uma rede social, uma bula de remédio ou as ofertas no encarte do supermercado. Entretanto, quando a gente fala no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), a leitura precisa ir um pouco além, já que a prova de ciências humanas exige que o candidato tenha um excelente conhecimento de vocabulário. Palavras rebuscadas e que não estão muito presentes no dia a dia das pessoas podem tirar do estudante a tão sonhada aprovação em uma universidade.

Carlos Augusto Pires, mais conhecido como Guto, é professor de filosofia do Colégio Marista e sempre "pega no pé" dos alunos sobre a importância de ter um bom vocabulário. “Os alunos têm um vocabulário comum de Instagram, Whatsapp e das redes sociais como um todo, mas lá [na prova do Enem] é uma linguagem mais rebuscada”, explica.

DOMÍNIO DE BOM VOCABULÁRIO

Por conta disso, o professor afirma que esse é o primeiro obstáculo que o candidato precisa superar: o domínio de um bom vocabulário. Segundo ele, é essencial que o aluno leia bons jornais, artigos e livros, já que é algo que vai ajudá-lo a se sair bem em todas as disciplinas que estão agrupadas no caderno de ciências humanas, sendo elas: filosofia, sociologia, história e geografia.

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“Principalmente na sociologia e na filosofia, alguns conceitos são bens específicos, então o aluno tem que ter esse conhecimento. No primeiro dia de provas essa questão do vocabulário puxa muito, o Enem vai cobrar um enriquecimento de vocabulário do aluno que eu vejo que ainda falta muito [nos alunos]”, explica.

Mas para ter um bom vocabulário não tem segredo: é preciso estudar. Guto explica que muitos alunos se empenham em resolver exercícios de matemática, química e biologia e esquecem que também é importante treinar os conhecimentos na área de humanas. “É na resolução do exercício que o candidato amarra a questão do vocabulário porque é ali que ele vai ver onde o vocabulário dele não está chegando e vai ter que voltar e pesquisar”, explica.

Significado das palavras

O professor ressalta que muitos alunos deixam o vocabulário de lado e só sentem a falta dele quando estão resolvendo a prova. “Vocabulário é algo que você vai pegando com o tempo, não é uma questão de decorar uma regra gramatical. Você lê, vê o uso e isso começa a fazer sentido na medida em que você se relaciona [com as novas palavras e conceitos], então se eu vejo uma palavra nova, eu vou buscar o significado dela”, afirma.

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Sobre as questões de filosofia do exame, o professor explica que alguns autores costumam aparecer com bastante frequência, como é o caso de Platão, Aristóteles e Immanuel Kant. Além deles, Jurgen Habermas, que faz parte da chamada Escola de Frankfurt, também costuma ter presença garantida na prova. “O [Jurgen] Habermas é um autor que ainda está vivo, então é um assunto muito recorrente”, explica.

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Apesar de ter uma gama de autores e conceitos que podem aparecer no caderno de questões, Guto fala que uma das características do Enem - e dos vestibulares - é não polemizar. Por outro lado, a prova gosta de selecionar temas atuais para discutir a ética do assunto baseado no pensamento de algum autor. “Por exemplo: pode ter uma questão de biologia sobre melhoramento genético e aparecer o questionamento do que o Habermas falou sobre o assunto. Embora ele possa não ter discutido coisas que aconteceram no ano passado, não tem nada de tão extraordinário que talvez ele já não tenha jogado luz sobre isso em algum momento”, explica.

QUADROS COMPARATIVOS

Como conselho para quem vai fazer o Enem 2023, nos dias 5 e 12 de novembro, ele garante que montar quadros comparativos entre os autores é uma boa maneira de chegar mais preparado para o grande dia. Ele cita como exemplos os autores chamados de contratualistas, sendo eles: Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau. “Você pode colocar alguns tópicos e escrever o que cada autor pensou sobre o tema. Um tipo de questão que os vestibulares adoram cobrar é o ponto de vista de determinado autor, como o Locke, por exemplo, e em uma das alternativas eles colocam um pensamento de outro, como o Rousseau, para ver se o aluno interpretou a questão e estudou o conteúdo”, alerta.