Hoje, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) é a principal forma que os estudantes têm para ingressar no tão aguardado ensino superior. Assim como outros vestibulares, o exame é uma forma de avaliar os conhecimentos dos candidatos acerca dos conteúdos básicos de cada uma das disciplinas. Entretanto, o principal diferencial do Enem, se comparado a outros vestibulares, é o apreço que ele tem pelas atualidades, ou seja, por temas e assuntos "do momento". Por isso, é fundamental que os estudantes conheçam os conteúdos teóricos, mas que também se mantenham informados sobre o que acontece e é discutido a nível nacional e mundial.

Lucas do Prado, professor das disciplinas de filosofia e atualidades do Colégio Marista, explica que o Enem gosta muito de cobrar temas atuais que têm relevância no Brasil e no mundo, tanto em suas questões objetivas quanto na redação. Ele destaca que a opção por trabalhar as atualidades pode ser a forma encontrada pelo exame para manter os estudantes antenados ao que acontece ao redor deles.

LEITURA DO MUNDO ATUAL

“O que é esperado dos alunos do ensino médio hoje é que eles tenham uma noção teórica básica que ele vai ter que dominar dentro das diversas disciplinas, mas que ele também saiba como instrumentalizar e utilizar de alguma forma esse repertório para fazer uma leitura sobre as questões do mundo atual”, explica. De acordo com o professor, o aluno não pode só olhar para os conteúdos que dizem respeito ao passado e entender como as coisas eram antes, mas também aplicar essa experiência e conhecimento no mundo atual.

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Segundo Prado, as questões que trazem temas da atualidade buscam levantar a discussão sobre assuntos pertinentes à sociedade no âmbito da educação, das desigualdades sociais e até mesmo conflitos geopolíticos. “São problemas que afetam a sociedade de maneira geral e convidam o aluno a pensar sobre essas questões e problemas atuais”, detalha.

RACISMO NO FUTEBOL

O professor explica que o Enem também pode cobrar esse tipo de conteúdo relacionando com autores que trabalham o assunto. Como exemplo, ele cita o racismo, em que pode aparecer o relato de algum caso recente, como no futebol, e a partir daí a pergunta cobrar o posicionamento de determinado autor sobre o tema. “A prova pode pegar algum autor da sociologia ou da filosofia e relacionar com a questão do racismo ao longo da história do Brasil e do mundo, assim como relacionar com temas como a escravidão em uma pergunta de história”, esclarece.

Prado alerta que esse tipo de tema também pode aparecer na redação, principalmente por conta de casos recentes de racismo no esporte. Nesse caso, o Enem traria alguns textos de apoio, como reportagens, convidando o aluno a trabalhar em cima dessa temática. “O racismo é um conceito que vai permear as ciências humanas e é um tipo de repertório que ele vai adquirir assistindo as aulas, mas ele também tem manifestações no mundo contemporâneo, tanto no Brasil quanto no mundo. Se o candidato não entende a parte teórica, ele vai acabar falando sobre o assunto a partir de um senso comum, o que geralmente não é o tipo de coisa que interessa ao Enem”, pontua.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

A IA (Inteligência Artificial) é algo que vem chamando a atenção das pessoas desde o início do ano, então pode ser um tema cobrado em alguma questão da prova. O professor acredita que o assunto pode ter como gancho uma questão sociológica, abordando como a IA pode afetar as relações cotidianas, a forma de trabalhar, de aprender e de produzir. “Pode aparecer também uma questão trazendo uma leitura filosófica sobre o que de fato significa ser inteligente ou sobre as diferenças entre a inteligência artificial e a humana”, opina, ressaltando que o assunto também é uma forte candidato a aparecer como tema da redação.

Já em relação ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, Prado acredita que a probabilidade de aparecer alguma questão falando especificamente sobre as tensões entre os dois países é baixa. Por outro lado, é possível que o Enem traga algo sobre a dominação russa desde a Guerra Fria ou a tentativa do país de dominar alguns territórios do Leste Europeu que pertenciam à antiga União Soviética. “Então pode ser que não cobre diretamente sobre a Guerra da Rússia contra a Ucrânia, mas que foque nas relações do Leste Europeu durante a Guerra Fria ou o que aconteceu com esses países no pós-guerra”, detalha, acrescentando que questões sobre esse tema podem ter uma caráter mais histórico ou geográfico.

ENEM E OS TEMAS POLÊMICOS

O Enem é conhecido por ser uma prova que não toca em temas polêmicos ou que ainda não possuem embasamento científico. Por conta disso, mesmo com a retomada das discussões sobre a descriminalização do aborto, o professor não acredita que esse assunto será abordado. “[A discussão do aborto] poderia causar um mal estar muito grande em alguns setores da sociedade, então eu acho que essa temática muito sensível não interessa [ao Enem]”, opina.

Já em relação a violência nas escolas, o professor ressalta que o tema pode aparecer, mas não citando diretamente casos de ataques em escolas, que também é um tema sensível. “Pensando que isso [ataques em escolas] aconteceu recentemente no nosso país, é algo que pode atingir alunos que viveram situações de violência. Dessa forma, o tema pode ser traumático e até mesmo estimular o assunto de maneira desnecessária”, explica. Sobre o tema, ele diz acreditar que pode aparecer alguma questão abordando a promoção de uma cultura de paz dentro das escolas ou até mesmo sobre a diminuição do ‘espírito de violência’ nos jovens.

Agora, para se preparar para uma prova dessa, Lucas do Prado alerta que é fundamental que o candidato se mantenha antenado por diferentes veículos de comunicação, como jornais, rádio, televisão para ter acesso ao que vem sendo notícia Brasil afora. “Ter uma pluralidade de fontes para conseguir ter uma leitura de várias perspectivas. Ele não pode viver dentro da bolha, ele precisa estourar ela e se manter antenado com o que está fora”, explica.