Tomar decisões não é uma tarefa fácil, seja em relação àquele emprego que você não gosta ou àquele relacionamento que não tem mais jeito. Independentemente do que for, o medo e a ansiedade sempre estão rondando por aí. Agora, imagina você ter que tomar uma decisão sobre o que “fazer da vida” aos 16, 17 ou 18 anos? É até difícil imaginar, mas é isso o que acontece com os adolescentes quando chega a hora do temido vestibular. Além de todas as decisões que precisam ser tomadas, eles também têm que lidar com as expectativas, que muitas vezes são prejudiciais para a saúde física e mental - e até mesmo para o resultado da prova.

Lucas Silva, professor da disciplina de projeto de vida do Colégio Marista, explica que a época do vestibular é uma fase em que muitos estudantes ficam confusos e meio ‘perdidos’. Segundo ele, esse é o momento que representa o fechamento de um ciclo, que é o ensino médio, e que exige do estudante a tomada de algumas decisões importantes. O professor ressalta que ouvir aquela pergunta clássica “o que você vai fazer da vida?” pode aumentar ainda mais a pressão e o nervosismo. Por isso, é fundamental que o aluno tenha autoconhecimento, que pode fazer com que o processo seja mais saudável e menos doloroso.

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O professor salienta que o estudante precisa estar com uma boa saúde física e mental, que vai desde o acompanhamento médico, a prática de atividades físicas, uma alimentação mais saudável e uma boa noite de sono até o uso consciente dos celulares e outras tecnologias. Segundo ele, a saúde física está ligada à saúde mental, ou seja, o todo precisa estar bem para que o corpo funcione bem. “É muito comum ver adolescentes no ensino médio com uma saúde emocional fragilizada, principalmente por terem enfrentado uma pandemia e com todas as dificuldades de redescobrir a socialização”, pontua. Silva ressalta que um estudante com a saúde física e mental em dia é um aluno que consegue ter melhores resultados em todos os aspectos.

Cuidado com a ansiedade e a depressão

Além disso, outro ponto que pode atrapalhar os estudantes é a expectativa excessiva, que pode gerar ansiedade e até mesmo depressão. Segundo o professor, os estudantes colocam como sonho o que deveria ser visto como meta. Ele exemplifica que muitos alunos assimilam ‘uma prova’ como ‘a prova’, que é a nota que vai definir se ele vai ou não ser aprovado, colocando uma expectativa muito alta em uma avaliação que é costumeira dentro da sala de aula. “Se ele entende que a prova do vestibular, por mais que tenha muita expectativa, é só uma uma prova, isso traz uma tranquilidade maior para ele saber lidar com que está fazendo”, explica, ressaltando que o formato da prova não muda, o que muda são as expectativas que os estudantes depositam.

Por conta dessas expectativas, o professor ressalta que vê neles uma dificuldade muito grande em lidar com coisas que não saem como o esperado, ou seja, lidar com a famigerada frustração. “Não basta estudar, tem que ser o melhor da sala, ter as melhores notas, é muita coisa, e a frustração vem do medo de decepcionar a família ou do medo de ficar para trás em uma competição que nem existe”, detalha.

Lucas Silva também pontua que perguntas famosas como “o que você vai ser no futuro?” ou “o que você quer ser quando crescer?” são questionamentos “ingratos” porque os adolescentes já “são” alguém no agora. “Eu percebo que essas expectativas vão se colocando sobre eles e todas estão ligadas à questão do tempo, do futuro. Eu sempre falo que não basta você imaginar como será sua vida no ano que vem se você não se reconhece nela hoje”, orienta.

E agora, o que fazer?

Na hora de escolher a profissão que o estudante quer seguir, o professor garante que a ajuda de um profissional é muito bem vinda. Entretanto, segundo ele, essa decisão é envolta de muitas influências, como das famílias, de uma construção social, do que é visto na mídia ou até mesmo do que vai satisfazer o ego. “O que eu acho importante e indico é buscar conhecer a profissão, o que ele vai ter que estudar, a rotina, entender como é a vida do profissional daquela área, o caminho para chegar até lá. Às vezes o estudante toma uma decisão e lá na frente percebe que não é um estilo de vida que ele quis ou que dá conta, então é importante que ele tenha essa experiência e que, além disso, também se conheça”, pontua.

O professor destaca que é difícil fazer com que o estudante entenda que ele é jovem demais para fazer a escolha de qual caminho seguir, assim como essa não é e não precisa ser uma “escolha para a vida”. Ele destaca que não é o fim do mundo o aluno perceber que o curso que ele optou não é a sua praia, já que ele pode recomeçar em outra área: “sempre existem novas chances”.

O sentimento de imediatismo dos estudantes também é algo que o professor levanta uma bandeira vermelha, já que eles não precisam sair do ensino médio direto para o superior. Ele ressalta que os alunos podem tirar um tempo depois de finalizar o colégio para fazer coisas que gostam ou até mesmo trabalhar e, a partir dessas experiências, entender qual caminho eles querem seguir. “O autoconhecimento é um processo constante, então ele sempre vai estar descobrindo coisas e interesses novos”, finaliza.