Imagem ilustrativa da imagem "Tentam estimular o ódio e preconceito ao sobrenome de uma família honrada"
| Foto: Gina Mardones



Eleito deputado federal com mais de 137 mil votos em 2014, Marcelo Belinati (PP) disputa o cargo de prefeito de Londrina pela segunda eleição consecutiva, na coligação Londrina Pode Mais. Em entrevista à FOLHA falou sobre o legado político do tio, o ex-prefeito Antonio Belinati, cassado no ano 2000, as finanças municipais, nomeação de secretários e a vocação econômica da cidade.

Como deputado federal, o senhor tem salário de R$ 33 mil, auxílio moradia ou apartamento de graça para morar, verba de R$ 92 mil para contratar funcionários, cerca de R$ 30 mil por mês para gastar com alimentação, aluguel de veículo, escritório e outras despesas. Por que trocar esse mandato, que está no meio, para comandar o Executivo londrinense?

Eu não estou na política por salário, eu tenho a minha profissão, isso é papo de adversários que estão na política em busca de emprego. Estou na política para servir a população. Sou médico do INSS, do Samu, com dois concursos públicos, trabalho 70 horas por semana para pagar as minhas contas, sempre tive o sonho de ser o melhor prefeito da história de Londrina. Quanto às verbas que você colocou, é importante que se diga que o atual prefeito, somente neste ano, teve orçamento na ordem de R$ 400 mil por mês de gastos do gabinete para contratação de funcionários, viagens, transporte, estadia.

Caso seja eleito prefeito, o senhor também vai ter esse orçamento à disposição no gabinete...

São mais de R$ 4 milhões à disposição do gabinete do prefeito Alexandre Kireeff e pode ter certeza que vamos diminuir esses gastos, é um compromisso meu.

O que o senhor sabe sobre as finanças municipais?

Situação difícil. O prefeito Kireeff assumiu a prefeitura com R$ 116 milhões em caixa, utilizando-se dos mesmos parâmetros utilizados agora para divulgar as finanças da prefeitura, isso em razão do Profis (Programa de Regularização Fiscal) e venda da Unopar, que pagou milhões em dívidas de INSS. Hoje, nós vivemos uma crise nacional, sim, mas algumas cidades se preparam para esse momento. Existe projeção hoje de deficit na ordem de R$ 70 milhões para o final do ano, temos informações que diversos tipos de contas da prefeitura estão deixando de ser pagas, como atrasos nos repasses ao passe livre, a prefeitura não está depositando os precatórios, onde a previsão de depósito era de R$ 24 milhões, mas a prefeitura só depositou R$ 6 milhões. Mas, a cidade de Londrina é muito forte. As finanças vão ser o principal desafio do próximo prefeito. Para o ano que vem tem a questão da Caapsml (Caixa de Assistência, Aposentadoria e Pensões dos Servidores Municipais), que vai precisar de aporte, então, a situação acaba gerando um problema para a população, como fechamento de posto de saúde mais cedo, corte de refeições no Restaurante Popular, limite de atividades do funcionalismo público. Para 2017, haverá um acréscimo de apenas 2% ao orçamento. De quase R$ 1,9 bilhão, apenas R$ 9,9 milhões estão previstos para investimentos com recursos livres.

Quando vereador (2009-2012), o senhor votou contra o projeto de lei do Executivo que alterava a cobrança de IPTU em Londrina. Se eleito, o senhor vai atualizar a planta de valores?

O poder público tem que fazer a parte dele, esgotar a parte dele, mas se não esgota, como exigir do cidadão o sacrifício de pagar mais impostos? São momentos distintos, naquele momento não existia a crise financeira que existe hoje. Como prefeito, vamos esgotar todas as questões. A atual administração gastou mais de R$ 70 milhões em cargos de indicação política, são 14 partidos que fazem parte da administração, então, se está em crise financeira tem que reduzir os cargos em comissão. A atual administração fez mais de R$ 200 milhões de contratos com dispensa de licitação, não estou falando que tem coisa errada, mas estes contratos acabam saindo mais caro do que quando ocorre o processo licitatório, por isso precisamos melhorar a eficiência da máquina pública, através da informatização. Em relação à planta de valores, há vários anos não é feita uma atualização, tem que ser feita essa reavaliação, com objetivo de promover a justiça fiscal, respeitando a capacidade contributiva do cidadão.

Falando em comissionados, a administração atual tem pessoas filiadas ao PMDB e ao PTB, partidos que agora estão compondo a sua chapa. Se eleito, vai mantê-los ou ceder a eventuais pressões das siglas?

Vamos procurar as melhores pessoas na cidade que queiram dar a sua contribuição, esse vai ser o critério. Sobre os partidos que você perguntou, o PMDB é dividido, tanto que foi para a convenção e (a ala que defendia a coligação com o PP) ganhou a votação. A ala do partido que está no governo do Kireeff foi derrotada na convenção. Agora, a participação na vida política é feita por pessoas da comunidade, aliás todo mundo deveria participar. Na minha administração pode até haver indicação do partido, mas o critério de escolha da equipe que vai trabalhar comigo é a capacidade, competência, seriedade, honestidade e, acima de tudo, a vontade de realizar, transformar Londrina. Eu não tenho compromisso de cargo com ninguém. É claro que nós estamos num sistema político de coalização, as coisas funcionam da maneira que falamos aqui... O atual prefeito se elegeu com um discurso, mas tem 14 partidos na administração dele. Eu vou buscar as melhores pessoas, com conhecimento técnico da área e com sensibilidade humana e social, sendo ou não de partido político.

Logo no seu primeiro programa de rádio e TV, no horário eleitoral, o senhor contou a origem do seu sobrenome; Belinati por parte de mãe e Martins por parte de pai. Até que ponto o legado político do seu tio Antonio Belinati ajudou na sua vida política? O senhor entende que é o momento de ter independência em relação a esse legado?

Eu sempre tive independência, em relação a tudo e a todos. Sempre tive compromisso com as minhas convicções, com aquilo que eu acredito e com a população. Agora, eu tenho muito orgulho das minhas origens. Minha mãe é irmã do Belinati, são onze irmãos, moram todos em Londrina, fazem parte da história da cidade, são pessoas honestas, decentes, corretas, trabalhadoras, são médicos, advogados, professores, desembargador federal, funcionário público, comerciante... Com eles, assim como você, como todos nós, eu aprendi o que fazer e o que evitar. Formei as minhas convicções e é com essas convicções que vou governar. Lamento que os adversários façam isso reiteradamente, não tem o que falar da minha vida e trazem à tona essa questão familiar e isso magoa muito as pessoas. Minha mãe trabalhava como professora estadual e criou dois filhos sozinha, ficou viúva com 24 anos... Eu desafio qualquer um a comparar a minha vida com a deles, nesse campo moral, vou com qualquer um na Receita Federal, pode verificar tudo. Os adversários tentam estimular o ódio e o preconceito ao sobrenome de uma família que é muito honrada. Ocorreram problemas na administração do Belinati? Ocorreram. Se ele errou, a Justiça vai dizer, e se errou, tem que pagar como qualquer pessoa, mas os adversários estão interessados apenas em fazer jogo político com isso. É lamentável.


O principal líder do seu partido no Paraná, ministro da Saúde, Ricardo Barros, foi criticado por seus comentários à frente do Ministério: "repactuar e reduzir o tamanho do SUS", "é melhor um médico cubano do que um farmacêutico ou a benzedeira para atender a população", "os homens se cuidam menos porque trabalham mais". Como médico, o que senhor acha dessas afirmações?

Vou te responder com uma outra coisa; Londrina tem que parar de brigar, precisamos unir a cidade. O ministro Ricardo Barros é do Norte do Paraná, é do meu partido, está no Ministério da Saúde, que é um dos mais altos cargos do Brasil, e é um dos problemas mais delicados de Londrina. Eu quero sempre olhar com um lado otimista e positivo. Vamos utilizar dessa proximidade partidária para trazer benefícios para a população de Londrina. Chega dessa briga, nós contra eles, outras cidades estão crescendo e se desenvolvendo. Existem divergências de ideias, mas se unem pelo bem da cidade. Os políticos de Londrina querem brigar com o mundo, mas eu não. Agora, se ele falou essas coisas, eu não concordo, mas cabe a ele explicar.

Qual é a vocação de Londrina?
O grande foco da minha administração será o crescimento e desenvolvimento econômico, porque a cidade precisa voltar a crescer, gerar empregos, movimentar. São três eixos: atrair novas indústrias e valorizar o empresário local; desburocratizar a prefeitura, respeitando a lei; e aproveitar a nossa estrutura, fazer um centro de convenções para que nós possamos atrair eventos de todas as áreas. Um exemplo é a Embrapa Soja, de Londrina, que faz congressos em Curitiba, porque não temos centro de convenções. Como dado oficial, nós temos per capita em Londrina mais leitos de hotel do que Curitiba e São Paulo.

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