Imagem ilustrativa da imagem 'Nunca tive problema na atuação como chefe de Gabinete do Belinati'
| Foto: Saulo Ohara



No quarto mandato consecutivo como vereadora, Sandra Graça (PRB) disputa a Prefeitura de Londrina pela primeira vez. Ela, que já foi chefe de Gabinete do ex-prefeito Antonio Belinati, cassado no ano 2000, elogia a atual administração de Alexandre Kireeff (PSD) e alega perseguição de ex-colegas na legislatura 2005-2008, quando surgiu o caso do funcionário fantasma.

A senhora está no quarto mandato consecutivo como vereadora e já havia anunciado que não seria candidata à reeleição, antes mesmo do início da campanha. Foi alguma frustração? Por que continuar na política?

Não foi uma frustração. Tenho a sensação do dever cumprido em uma esfera de poder, participei de todas as comissões, fui a única mulher nestes 16 anos que conseguiu presidir a Comissão de Justiça da Câmara. Eu amo o que faço, faço com intensidade, mas é da minha pessoa, temos que buscar novos desafios. A única coisa que eu não consegui foi presidir a Casa, até me candidatei (em 2009) para isso, mas tenho a impressão que houve um dos maiores movimentos na Câmara, nestes 16 anos, quando me candidatei a presidente. Tivemos todos os deputados estaduais, todos os federais, todas as lideranças não querendo a nossa eleição, perdemos por um voto. Creio que foi livramento, Deus tinha outros planos para a minha vida.

O PRB, partido ao qual a senhora se filiou recentemente, tem membros que são lideranças religiosas da Igreja Universal. É um partido ligado à igreja? De que forma essa posição religiosa poderia interferir na sua gestão?

Primeiro, eu não faço parte da igreja à qual vocês dizem que o partido está vinculado. A primeira pergunta que fizemos ao nos filiar ao PRB foi se havia uma necessidade da mesma linha religiosa e eles disseram que não, partido político é uma coisa, religião é outra. O que nos levou a participar deste partido foram os objetivos políticos desenhados para o município de Londrina e a abertura que eles deram, independentemente de estar ligado à igreja.

E como ter mais dinheiro para dar serviços públicos melhores?

Mais dinheiro é difícil, porque você vai a longo prazo conquistar isso. Então para mais dinheiro vamos trabalhar a industrialização, o micro e pequeno empreendedor, para aumentar o número de empresas para que a arrecadação e a industrialização aumentem. Nós teremos, inevitavelmente, que trabalhar com a planta de valores, como justiça fiscal, que está defasada há 15 anos. Tudo isso dará um crescimento na nossa receita. Na outra ponta trabalhar mais as nossas esferas estaduais e federais para buscar recursos que estão lá, por meio de projetos estratégicos. Farei esse exercício continuado de ampliação de recursos, seja mediante emendas ou mediante medidas internas, tudo o que for necessário, e também pretendo, numa perspectiva mais avançada trabalhar com as parcerias público-privadas (PPPs).

A senhora já foi chefe de gabinete do ex-prefeito Antonio Belinati, em 1998. Foi líder do Movimento pela Legalidade, que era contra a cassação dele. A senhora continua com a mesma avaliação sobre aquele movimento e sobre a cassação de Belinati? E por que hoje a senhora está em lado oposto?

Primeiramente, Londrina precisa saber que quando eu cheguei na administração, em 1998, eu vim convidada com uma fatura de 15.555 votos para deputada estadual. Naquele ano em que Alex Canziani e Antonio Belinati estavam no Executivo municipal, eu fui candidata a deputada, quando gerenciava a Caixa Econômica Federal em Arapongas, e fiz uma votação extremamente expressiva, o que deu visibilidade a Sandra Graça, que nunca tinha tido um cargo na vida pública. Foi aí que Londrina me resgatou. Eu entrei na prefeitura em 22 de dezembro de 1998. Ali eu retornei para Londrina, transferida para assumir uma nova agência aqui. Não participei do primeiro, cheguei no final do segundo mandato, pegamos dois anos bastante intensos e de bastante resultados positivos, eu pude coordenar o Pré-Olímpico de futebol e também atuei como chefe de Gabinete. Aí, tivemos o problema da cassação, eu fazia parte desse governo e isso nunca foi deixado de ser mostrado para quem quer que seja. Tínhamos, naquele momento, dois caminhos; ou a gente abandona o barco, o que é mais comum, ou você continua. Eu, particularmente, nunca tive nenhum problema da minha atuação como chefe de Gabinete, tanto que fui investigada em todos os níveis. E, do que eu conhecia, não tive nenhuma restrição. No próprio grupo, com as pessoas com quem trabalhávamos na época, teve esse movimento pela legalidade. Porque a gente sabe que em todos os momentos, e aquele específico tinha um cunho político, além das questões a serem avaliadas e cada um que pague pelos seus erros. Nunca defendi nada que estivesse fora da legalidade, e nestes 18 anos que estou na vida pública, quem me conhece sabe como foi a minha atuação. Naquele momento, a gente defendia a legalidade do processo. Participei do movimento com a comunidade e com vários segmentos e, em contrapartida, nós tínhamos o Movimento Pés-Vermelhos e Mãos Limpas, que era um grupo que buscava o poder, logicamente, através de uma estratégia. Sobre a outra parte da pergunta, não digo que estou num grupo oposto... é que eu participei por muito tempo no mesmo partido da família Belinati e ali eu não consegui espaço, além de uma vaga para a vereança. Então, com muita transparência, sem nenhum problema, cheguei para o Marcelo Belinati, que à época era o presidente do partido, assim como para o (Antonio) Belinati e disse que eu estaria saindo para buscar um espaço próprio, continuei a minha caminhada. Não quer dizer que eu coadune com algum fato irregular no governo dele ou de qualquer outro, eu sempre mantive a minha independência. Eu fiz campanha para o Barbosa Neto, depois eu cassei ele, como relatora do processo de cassação. A minha isenção sempre foi e sempre será a minha marca.

A senhora tem uma condenação a pagamento de multa, em segundo grau, por manter servidor fantasma no seu gabinete. A senhora tinha dificuldades para fiscalizar?

Em primeiro lugar, eu tive uma multa cível que já foi paga. Esse processo que tive surgiu em 2008, em uma das maiores crises na Câmara Municipal de Londrina, onde nós tivemos, praticamente, 80% da Casa envolvida em corrupção, desmandos, vereadores presos e cassados, mas a Sandra Graça não tinha envolvimento nenhum. O que eles (vereadores) fizeram? Disseram 'vamos buscar alguma coisa para desestruturar essa mulher porque se ela souber de alguma coisa, vai nos detonar'. Foi às vésperas das eleições, nunca vou me esquecer quando fui estampada na página do Jornal de Londrina que eu tinha um funcionário fantasma, que na verdade tinha saído 30 dias de férias, mas que não tinha sido documentado no RH. Esse é o caso que durou oito anos e que me custou processo na vara criminal, processo na vara cível, e um processo de cassação de mandato, com votação em plenário, dos quais, em todos eu fui absolvida. E mais do que isso, eu fui absolvida nas urnas pelo cidadão, porque eu me elegi 2008 e me reelegi em 2012. A única testemunha que temos é um repórter, que fez a gravação, que produziu provas ao Ministério Público. Isso mostra que para a gente estar na política, a gente tem que ter mais que voto, tem que ter determinação, caráter e persistência. Sou resiliente, venci todas as dificuldades e, graças a Deus, estou em pé.

A multa de R$ 2 mil já foi paga?

Sim, a multa já está paga, recolhida e anexada ao processo. E tem mais uma tristeza de tudo isso, o meu assessor já faleceu, o Salvador (Kanehisa) era uma pessoa ilibada, respeitadíssimo em todas as camadas da sociedade e que saiu 30 dias de férias. Por uma falha no departamento de recursos humanos, ao invés de procurar a vereadora para regularizar, entregaram as provas para a imprensa para me destruir. Mas Deus é mais, e a gente está em pé.

O município está em dificuldades financeiras e depende de alternativas, como o Profis, para fechar o caixa no azul. A senhora e os demais vereadores não conseguiram fiscalizar e evitar essa situação?

Como é que os projetos vêm para nós? Os projetos quando vêm - e eu estou dizendo isso porque sou uma vereadora extremamente criteriosa quando vou avaliar os projetos - eles têm que trazer uma análise do impacto financeiro, amplamente documentado com cálculos assinados por servidores de carreira e depois pelo secretário, que é quem responde por isso. Então, eles vieram todos muito embasados. Eu confesso que (esta situação) me assustou. Agora como é que nós vamos fiscalizar? A gente avalia aquela questão que vem, passa pelo nosso controlador da Câmara, que tem o papel de fazer a sua avaliação também. Todos eles nos mostraram que havia viabilidade financeira para os projetos. Mas eu confesso para você que no Executivo eu terei um olhar diferenciado, estarei agregando novas metodologias para avaliação de cálculos com relação às despesas públicas.

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