Imagem ilustrativa da imagem 'Nunca ouvi falar de um negócio desse (corrupção na Receita Estadual)'
| Foto: Gina Mardones



Ex-presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil) e apoiado pelo prefeito Alexandre Kireeff (PSD), Valter Orsi (PSDB) disputa o cargo de chefe do Executivo pela pela primeira vez. Ele já coordenou campanhas tucanas na cidade, mas se apresenta como independente e discursa em favor da continuidade da gestão atual. Empresário, Orsi nega ter ficado apático quando o Ministério Público (MP) deflagrou a Operação Publicano, no ano passado, sobre corrupção entre auditores fiscais e donos de empresas na região.

Além do senhor, que é apoiado oficialmente pelo prefeito Kireeff, há outro candidato que também fala em dar continuidade ao trabalho da atual gestão. Foi uma estratégia eleitoral? Isso não gera conflito sobre o objetivo de cada um?
Na imprensa eu tenho a postura do prefeito do meu lado, eu sou um candidato apoiado pelo prefeito, me sinto bem nisso, e se necessário, até criticar algumas coisas que não foram bem porque ninguém é perfeito. Eu tenho essa liberdade de fazer, e também, as coisas boas têm que ter continuidade. Eu acho que esse é o grande problema da política, a interrupção dos projetos bons, como não fui eu que comecei, interrompo, porque quero fazer o que eu quero. Agora, se outro candidato diz isso (dar continuidade), fico feliz, porque endossa uma gestão que ao meu ver foi muito boa.

Quais são os pontos positivos e negativos da administração atual?
Positivo foi acabar com aqueles contratos emergenciais. Mesmo vindo da Sociedade Rural, Kireeff demonstrou sensibilidade com classes menos favorecidas, teve negociação nos assentamentos, muito acessível. Observo também, que muitas vezes, tomava algumas decisões dele, tinha a última palavra. Eu achava que em alguns casos ele nem ouvia muito, tomava algumas decisões. É uma posição que eu respeito, talvez naquele momento era necessário, mas daqui a pouco poderia ouvir mais. É um pouco centralizador.

O senhor conhece profundamente as finanças do município? O próprio prefeito já reconheceu que as contas estão apertadas. O que fará para melhorar a arrecadação?
Realmente é público que o orçamento, a situação da prefeitura é delicadíssima. Mas apesar das dificuldades financeiras, estão bem transparentes as contas, não temos aquelas armadilhas que existiam. Então, para o prefeito com visão de gestão, visão de chamar as pessoas e buscar as melhores alternativas, apesar de uma situação difícil, é motivo a mais para ter uma pessoa competente, porque se estamos em situação difícil, o que fazer? Quais as alternativas? A pessoa tem que chamar os departamentos e como se resolve isso? É um primeiro ano de cinto apertado, não tem milagres, não tem obras monstruosas, tem aquelas obras com verbas definidas. Diria para você que já no primeiro ano você muda o resultado com gestão. Já no primeiro momento eu quero ter um plano de desburocratização da prefeitura e na primeira ação, imagine, muitas obras que você demora seis ou sete meses para ter resultado, a partir do momento que você começa a trabalhar numa agilidade daquele departamento, se você antecipa de seis meses para 30 dias, já estaremos gerando receita, dando emprego, movimentando a cidade. São ações pontuais assim que você começa a reverter o quadro, principalmente na própria saúde. Eu já tenho o estudo, que a gente pode, imediatamente, já começar a reduzir custos, além de gerar eficiência. Se você está num ano extremamente difícil, mas desde o início já começa a gerar eficiência, com certeza vamos ter números melhores no final do ano.

Então, por que o prefeito Kireeff não conseguiu fazer isso?
Sim, ele fez muito disso.

Por que ainda existe essa dificuldade no orçamento e com o atendimento na Saúde?
Vamos pegar a Saúde como exemplo. Lembra quantas ambulâncias nós tínhamos? Nenhuma no Samu. Lembra como estavam as nossas UBS? Detonadas. Você lembra onde guardavam as nossas vacinas? Em geladeiras convencionais. Os nossos contratos emergenciais, como estavam? Eram sangrias desenfreadas. O Kireeff, com muita rapidez, em três anos, deu transparência à prefeitura. Hoje você tem uma visão do que realmente você tem que dar continuidade. Ele só não fez devido ao tempo, três anos e meio, fez o que podia. Olha o asfalto da cidade, tem muita rua asfaltada, mas tem muita rua sem asfalto, então, Londrina vive uma nova etapa e nós vamos dar continuidade a essa nova etapa. Por isso, a continuidade de uma gestão austera, competente, e saber aonde quer chegar.

O senhor falou que não é um ser político, mas já atuou como coordenador nas campanhas do deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB).
Mas isso é papel de cidadão. Eu acho que uma campanha de um político se fecha com pessoas que apoiam a candidatura, sempre eu fiz isso. Se você voltar no tempo do (ex-prefeito) Wilson Moreira, do (José) Tavares, eu participei. Eu nunca me furtei de, como cidadão, eleger o melhor candidato. E, veja, nunca fui feliz, pois apoiei o Tavares, não ganhou, apoiei o Hauly, não ganhou. E quem ganhou, está aí o que fizeram com a cidade... Eu tomo posição, é o que me conforta, eu vou lutar, se não vencer, tudo bem. Como eu fiz em outros movimentos, nunca o Valter Orsi ficou em casa, eu me posiciono.

Por que foi tão discreta, quase nenhuma reação da Acil, sob a sua presidência, quando dezenas de auditores fiscais e empresários foram presos e denunciados pelo Ministério Público (MP) na Operação Publicano?
É desconhecimento da imprensa. Se a imprensa fosse conhecer realmente, teria que ver que (a reação) foi contundente, porque um presidente da Acil ir no Ministério Público, convocar todos os promotores e perguntar para eles "o que vocês precisam de mim?". Eu fiz isso. Eles falaram "nada", porque tudo está fluindo naturalmente, coisa que no passado não fluía. Hoje o juiz está funcionando, as investigações estão acontecendo e no segundo semestre deste ano vamos começar a ter sentenças. Qual cidadão fez isso? Valter Orsi. Deixei um recado lá, se vocês tiverem dificuldade, por favor, convoquem, porque eu tenho o maior prazer de estar aqui com vocês. Fiz a mesma coisa na delegacia da Receita Estadual, onde mudava de delegado todas as vezes. Eu falei que queria transparência, precisava da condenação dos pilantras, pôr na cadeia os empresários, porque estamos discutindo uma falcatrua de mais de 30 anos e não podemos marginalizar o meio empresarial por causa de alguns, que estamos sabendo os nomes agora, sendo condenados. Eu estive na promotoria e nunca me senti tão confortável ao ouvir deles que não é mais como no passado, onde não tinha imprensa, a imprensa era ausente, estava comprada, os juízes também, na Câmara de Vereadores dois terços no mensalinho, o prefeito com R$ 186 milhões no bolso e a mulher, vice-governadora, com o apoio do governador, com o apoio dos desembargadores. Com tudo isso aí, eu coloquei minha cara.

Nesse caso da Operação Publicano, como o MP já havia declarado e o senhor mesmo falou, os supostos atos de corrupção envolvendo empresários e auditores vinham acontecendo há mais de 30 anos. O senhor é empresário há bastante tempo e nunca soube de indícios de irregularidades aqui em Londrina?
Nunca ouvi falar um negócio desse, todo mundo sabe, né, quando chega no meio político, pode ter um comentário, mas evidência não. Até porque se tivesse qualquer evidência, acho eu, o Ministério Público tinha cutucado. Não seria eu que ia descobrir o negócio, o Ministério Público tem um monte de informações. Mas em nenhum momento ouvi isso e olha que eu estou na Associação Comercial há quantos anos! Porque esse é o tipo da coisa que ninguém fala.

O que o senhor faria para combater a corrupção em seu governo?
Eu acho que a corrupção se combate não aceitando em nenhuma situação. Você não pode ter meio termo em corrupção e se eu me coloco à disposição nesse momento é para dar continuidade a essa transparência municipal. Veja, um prefeito que há quatro anos vem se colocando, tomando um monte de decisão e não tem um vestígio... os que tiveram (vestígio) foram tomadas providências. A corrupção destrói a pessoa, não serve de exemplo para ninguém, tem que ser extremamente combatida.

Com que mecanismo?
O mecanismo chama-se transparência, os atos têm que ser transparentes, é o que mais combate à corrupção.

Qual foi a sua participação na primeira campanha do ex-prefeito Nedson Micheleti (PT), no ano 2000?
Só para relembrar, era Nedson, Barbosa (Neto) e (Luiz Carlos) Hauly. O Hauly estava em primeiro lugar e nessa época, como a sociedade não queria Barbosa Neto, e politicamente nós participamos, os meus amigos que eram do PT se comprometeram a me ajudar, caso fosse o Hauly para o segundo turno, e eu me comprometi com eles caso o Nedson fosse. Como eu não me furto de tomar posição, independentemente de partido ou não, naquela época eu apoiei o PT, quer dizer, a oposição ao Barbosa Neto.

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