Imagem ilustrativa da imagem 'Não acredito que a questão nacional seja fundamental no debate eleitoral'
| Foto: Marcos Zanutto



O candidato do PT a prefeito de Londrina, Odarlone Orente, é outro novato na disputa pelo Executivo municipal. Filiado desde 1999, ele nega que a sua campanha esteja sendo prejudicada pelo momento do partido nacionalmente, com denúncia de corrupção contra o ex-presidente Lula, impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e prisões de membros do primeiro escalão da sigla.

O senhor não tem experiência na gestão pública e tinha, pelo menos, até a campanha, atuação política restrita ao partido. Por que ser prefeito de Londrina?

A experiência administrativa será dada não apenas pelo gestor que estará sentado na cadeira de prefeito. Vamos governar com as melhores pessoas da sociedade, que serão convidadas para administrarmos juntos. O atual gestor não tinha papel público, nunca foi gestor público. Acredito que a minha vida, o que vivi até agora na medicina, o contato com as pessoas, saber e sentir o que elas sentem, isso vai me garantir também que consigamos administrar de forma adequada. Não basta falar que é técnico, tem que olhar as pessoas nos olhos, conhecer a realidade onde vivem.

O momento do seu partido é ruim, especialmente no cenário nacional, com denúncias de corrupção envolvendo membros do primeiro escalão do PT, houve prisões e impeachment da presidente Dilma Rousseff. Como isso tudo impacta a sua campanha em Londrina?

Nacionalmente já houve uma decisão política de afastamento definitivo da presidente Dilma. Acho que esse processo, por mais que tenhamos críticas, já está superado. Vamos continuar fazendo a resistência, defendendo a democracia, defendendo que os votos dos cidadãos sejam, efetivamente, respeitados. Não queremos que isso aconteça também aqui em Londrina, porque foi aberto um precedente, qualquer cidadão eleito pode ser questionado em um processo que foi judicializado e depois politizado. Vamos falar da cidade, do futuro e não acredito que a questão nacional seja de fundamental importância no debate eleitoral. O cidadão, a cidadã, querem que o prefeito, vereadores e vereadoras ajudem a resolver os problemas do cotidiano, da tarifa do transporte, da rua sem asfalto, da falta de remédios, de médicos e de enfermeiros nas unidades básicas de saúde.

Em nota, a direção nacional do PT pediu que filiados defendam o ex-presidente Lula, denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF), por corrupção. Como o senhor vai fazer isso na sua campanha?

Sou do Partido dos Trabalhadores desde 1999 e já estamos fazendo isso. Ao defender aquilo que o governo do presidente Lula efetivou no País, a inclusão social e políticas públicas que deram garantia de direitos às pessoas que mais precisam de governo, já é uma demonstração que estamos, sim, defendendo o legado e o fortalecimento da democracia. É isso que vamos continuar fazendo, a defesa dos direitos e conquistas que as pessoas, nos últimos 13 anos, conseguiram, muitas delas implementadas no governo do presidente Lula. Esse é o maior sinal de defesa, não só do partido, mas do legado dos nossos líderes.

Mas independentemente do legado que o governo dele deixou, o ex-presidente Lula é acusado pelo MPF de ser, supostamente, o "comandante máximo" do esquema de corrupção investigado na Operação Lava Jato. Na sua opinião, Lula é inocente?

Olha, o Lula está aí há 40 anos... Existem pessoas, grupos dizendo que fez isso ou deixou de fazer aquilo, mas até agora, não houve nenhuma condenação sobre o ex-presidente. Quem tem que produzir o ônus da prova é quem acusa e caberá à Justiça julgar ou não.

Na nota divulgada pelo comando nacional, o PT conclama a militância a defender "o companheiro Lula"...

Na verdade, as ações, em si, demonstram a defesa daquilo que nós acreditamos, é disso que estamos falando, não estamos falando da defesa de apenas uma pessoa, e sim de um projeto de País e de uma sociedade que nós acreditamos e é isso que estamos levando na nossa campanha.

O senhor compactua com a tese de dirigentes petistas de que o partido é perseguido pelo MPF, pelo Judiciário e pela imprensa?

Eu não sei se é perseguido, acho que não é essa, exatamente, a palavra. Acredito que o partido esteve em evidência por 13 anos no governo e virou alvo. Obviamente, em alguns casos, houve um tratamento diferenciado em relação a outros casos. Tem um partido que tem 37 envolvidos na Lava Jato, inclusive, um dos expoentes deste partido em Londrina lidera as pesquisas, e nós não vimos tanto alarde ao falar disso. O partido do atual presidente tinha até estes dias o Eduardo Cunha e não vi ninguém batendo panela quando ele foi cassado, aliás, tardiamente.

O último governo do PT em Londrina foi com o ex-prefeito Nedson Micheleti (2001-2008). A gestão ficou marcada por uma extensa greve dos servidores municipais, por mais de 100 dias. Como será o seu relacionamento com o funcionalismo?

Eu sou servidor público, sei das demandas do servidor. O nosso governo será aberto, participativo, falaremos com o sindicato dos servidores, com a classe de um modo geral e garantiremos todas as conquistas, tudo o que for direito do servidor. O que se teve no passado, é bom que se lembre, o presidente do sindicato dos servidores, na época, tinha sido candidato a prefeito, então, levou-se uma greve extensa também como uma espécie de terceiro turno, ou seja, desgastando o prefeito. Temos que lembrar também que o Nedson assumiu com os salários atrasados, com fornecedores sem pagamento, enquanto no governo dele não houve atraso de salários. A prefeitura voltou a ter crédito. Temos que avaliar o cenário naquele momento histórico.

Na sua avaliação, o ex-prefeito agiu corretamente, naquele momento?

É muito difícil avaliar retrospectivamente. Essa pergunta deveria ser feita para ele.

O PT municipal é oposição à gestão de Alexandre Kireeff (PSD). Qual é a sua opinião sobre a administração dele?

Uma gestão que foi eleita no bojo da técnica e da eficiência perdeu muito, podia ter avançado mais. Londrina fez mais de 70% dos votos para o atual governador (Beto Richa) e não conseguimos nem terminar uma obra como a PR-445, que está enroscada há tanto tempo. Não conseguimos garantir o tratamento que uma cidade deste porte mereceria, não conseguimos, enquanto Região Metropolitana, garantir o subsídio para o transporte coletivo que se faz na Região Metropolitana de Curitiba, com um governador que se diz londrinense, eleito e ajudado pelo atual prefeito e por aquele (candidato) que lidera as pesquisas hoje. Os dois fizeram campanha para o atual governador. Alguém que tem o jargão de técnica e eficiência e não conseguiu nos últimos quatro anos fazer obras além daquelas que o governo federal garantiu a maior parte dos recursos... é pra se pensar. A única que a prefeitura executou por meios próprios foi uma ponte que hoje está dentro do rio na rodovia Mábio Palhano, e a outra que tem 50 anos está do lado, em pé. Podíamos ter avançado mais. Mas tem os seus méritos, também, como os demais prefeitos que passaram pela prefeitura, aliás todos nós temos qualidade e defeitos. Mas na política, Londrina poderia ter avançado mais.


Todos os candidatos têm falado sobre temas sociais, como saúde. Como prefeito, o senhor conseguiria executar essas melhorias, tendo em vista o orçamento restrito do município?

Nós daremos conta. Primeiro, porque para a maioria das questões sociais, como saúde e educação, as verbas vêm carimbadas. Sabemos que o cobertor é curto, sim, mas nós vamos buscar outras formas de arrecadação. O prefeito vai usar a autoridade política que tem como administrador da segunda cidade do Paraná para buscar os recursos necessários junto aos órgãos estaduais e federais, junto aos deputados estaduais e federais, para conseguir através de emendas, de convênios e de parcerias, tocar a cidade e as obras que são importantes para o município.

O senhor já denunciou algum caso de corrupção, envolvendo o dinheiro público?

Não.

Como o senhor combateria e evitaria casos de corrupção na sua administração?

Temos que garantir que a prefeitura tenha controladoria, temos que dar transparência aos números de todas as secretarias. Vamos deixar o controlador geral com autonomia, independência para fiscalizar e auditar os contratos. Todo o servidor que assumir cargo comissionado, se houver na nossa gestão, deverá apresentar no início e no final do ano toda a sua evolução patrimonial, para acompanharmos. Não vamos tolerar o mínimo indício de corrupção ou de desvio de conduta.

Durante a cobertura da Operação Lava Jato, a imprensa nacional foi classificada por militantes petistas como golpista. Se eleito, como será o seu relacionamento com a imprensa?

Relacionamento aberto. Serei o prefeito de todos, independentemente da profissão e do lugar em que mora. O papel que vocês devem cumprir é de levar os fatos e a verdade e as pessoas é que têm tirar as conclusões daquelas verdades que vocês estão publicando. Nosso tratamento será isonômico e de parceria.

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