Imagem ilustrativa da imagem 'Eu não uso gravata, não sou empresário e por que não alguém que seja da periferia?'
| Foto: Ricardo Chicarelli



O candidato do PSol a prefeito de Londrina, Paulo Silva, se apresenta como um representante da periferia e dos movimentos sociais na campanha eleitoral. Estudante de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina (UEL), ele falou sobre o objetivo da candidatura e sobre a repercussão da foto vazada nas redes sociais, em que aparece de boné com um desenho de folha de maconha.

Com 23 anos, o senhor é o candidato mais jovem, sem experiências na gestão pública e na política. Por que candidatar-se a prefeito de Londrina?

Ser um prefeito de Londrina já seria uma conquista e tem mais um fato muito importante, porque não é ser apenas bom, mas ser. Uma coisa que me fez colocar a candidatura, não posso ter medo disso, são os dados que Londrina nos mostra. É a cidade da maior chacina do Brasil este ano, isso já é um absurdo. Então, é preciso se colocar e falar dessas questões. Eu sou usuário da Saúde, sou usuário da Educação, sou usuário do transporte coletivo e tenho muito para falar. Por que não me colocar? Eu não uso gravata, não sou empresário e por que não alguém que seja da periferia? É um desafio, mas é um momento da periferia se colocar com bons projetos para a cidade, como uma visão que ninguém nunca teve.

O senhor tem se referido bastante à periferia da cidade. Na sua avaliação, os eleitores que vivem nesses bairros considerados periféricos apoiam, participam da sua campanha e querem o senhor como prefeito?

Eu não acho que eu sou o cara da periferia. Tenho essas colocações legítimas que não são só minhas, tem muitas questões que são construídas com movimentos sociais e discutidas com pessoas que estão nessa realidade, mas não acho que por causa disso eu vou ganhar. Afinal, a periferia é a maioria, então, estaria ganho a eleição. Tenho a missão de mostrar que é possível alguém da periferia ser protagonista na política. Não vai ser fácil, temos poucos recursos. Quanto mais pessoas me conhecerem, mais elas vão se identificar, isso não necessariamente gera voto...

Então, explicando melhor, qual é o objetivo da sua candidatura?

Acho que eu vou colocar enquanto PSol, que tem uma coisa muito forte de debater com a cidade. E nestes últimos dois anos, principalmente, a gente tem conseguido fazer isso de uma melhor forma. A história do partido é curta na cidade, mas a gente deu um salto qualitativo nas discussões, fez programas para chegar no resultado de propostas. A gente não está mais naquela fase de demarcar o que o prefeito não fez, só criticando. A gente construiu propostas consolidadas para debater a cidade com qualidade, porque isso está faltando nessas eleições, e não só em Londrina. A gente quer mostrar o PSol não é só um partido eleitoreiro que aparece só nas eleições, mas é um partido de movimentos sociais. Queremos ampliar a rede de relações com os movimentos sociais e com as pessoas.

O senhor afirmou que o partido não é eleitoreiro, mas usa o período eleitoral para conquistar essa aproximação com as pessoas. É o momento adequado?

É adequado e tem que ser feita a crítica à redução de 90 para 45 dias das eleições que limita isso, esse debate feito com a cidade. Os processos democráticos mais consolidados são muito maiores, como nos EUA onde têm a pré-campanha para dois partidos e depois tem a campanha. Então, é o período adequado, mas não é o único período adequado e legítimo para debater qualquer coisa. Não é só na eleição que você vai debater se vai ter ou não uma secretaria de Mobilidade Urbana, por exemplo, é fora dela também. As UBS (Unidades Básicas de Saúde) não funcionam só no período da campanha, em todos os momentos têm que se debater política. Aliás, faltam espaços para se debater.

Quais são as suas propostas para esse setor da sociedade que, conforme o senhor descreveu, não está sendo ouvido e precisa ter mais espaço nas discussões sobre a cidade?

Vamos fortalecer as estruturas que já existem, como os conselhos municipais que são políticas setoriais especiais. Inclusive, a gente vai ampliar com o Conselho de Direitos Humanos, que não existe, e com o Conselho da Saúde da população LGBT, por exemplo. Além disso, reativar e fazer valer os conselhos territoriais para debater a micropolítica mesmo. Se a gente tivesse um debate amplo sobre aquele território na zona sul onde foi feito o viaduto (da PR-445 sobre a Via Expressa), eu duvido que as pessoas iam concordar com esse projeto que está aí, dando problemas, que matou a cidade e tem diversos impactos. No território, você consegue debater muito da demanda das pessoas. De dois em dois anos, a gente vai fazer um fórum londrinense para articular esses conselhos territoriais, os conselhos setoriais que já existem, secretarias, sistemas que já existem e pensar até o orçamento participativo e políticas maiores que vão aglutinar esses conselhos.

Sobre o orçamento municipal, qual é o seu conhecimento sobre esse assunto e como aumentar a arrecadação para atender as demandas sociais?

Claro que vamos ter que obedecer o plano municipal de Saúde, o de Educação, tem todo um planejamento deste orçamento. Mas há uma diferença enorme se a tua escolha prioritária na Saúde vai ser para a UBS ou vai ser em uma política de UPA (Unidade de Pronto Atendimento), que você tira foto, diz que faz alguma coisa, mas não está resolvendo o problema. É uma questão de decisão política, e eu acho que dá para ampliar o orçamento se a gente conseguir implementar uma política de IPTU progressivo, por exemplo. Tem muitos contratos que precisam ser auditados, que são muito antigos, ou contratos que a gente não conhece no detalhe, para não ter dúvida tem que fazer uma auditoria geral para ver se cabe mais alguma coisa no orçamento. Acho que vai sobrar dinheiro. Outra coisa muito importante na Saúde é que 80% dos problemas podem ser resolvidos na UBS, então, por que a gente está encaminhando para uma política centrada na UPA? Isso não é decisão somente técnica, é política.

A atual administração instituiu o passe livre para estudantes. Concorda com o transporte público, que atualmente segue o modelo de concessão?

O prefeito (Alexandre) Kireeff mostrou que dá para avançar em políticas que não sejam apenas de concessão. Eu tenho enormes críticas ao que é o passe livre, como está, a forma como foi pensado e agora parece que está dando problemas... A prefeitura tem gestão sobre o transporte público e porque abdica de fazer e coloca nas mãos das empresas de ônibus para definir o valor da passagem? Se tiver uma Secretaria de Mobilidade Urbana, ela vai poder auditar esses contratos para ver se esse preço tem que ser isso mesmo, poderá começar a investir em um fundo municipal de mobilidade, que poderá receber recursos do IPTU progressivo, por exemplo, para garantir linhas com tarifa zero. Tem que ter planejamento, não será de uma hora para outra.

Logo que o PSol confirmou a sua pré-candidatura a prefeito, repercutiu, especialmente nas redes sociais, uma foto sua com um boné estampando o desenho de uma folha de maconha. Até que ponto isso lhe incomodou e interferiu na sua campanha?

Incomodou num primeiro momento porque me assustou, porque viola o Facebook de alguém e pega uma foto para isso, enfim... Eu defendo a legalização por questões políticas, não é segredo para ninguém. Estou no PSol porque o partido também defende, tem um debate sobre a guerra às drogas e o que ela gera. Eu defendo que tem que ser por outro viés, não deu certo em nenhum outro lugar do mundo, não vai ser aqui que vai dar certo. É um dos bonés que eu tenho, eu também estudo Psicologia, onde há uma política forte de saúde mental e política de drogas que a gente também debate na profissão, é algo que está ao meu redor. Me assustou porque como foi compartilhada, começaram aparecer ataques até pela aparência, como "é maconheiro". É uma foto de boné, não é uma foto minha fumando. Tem muitas pessoas que fumam e a gente não vai querer matar elas por isso. Eu recebei ameaças de morte, está tudo registrado, formalizado o BO (boletim de ocorrência na Polícia Civil), vai ter investigação, indiciamento, não é normal... Por conta disso, começam a caracterizar várias coisas, "é maconheiro mesmo", "é da periferia mesmo", "tem que matar mesmo porque não morreu na chacina". Depois apareci sem boné, começaram a criticar o meu cabelo. Fiquei com medo desse ataque reverberar para a família, mas saiu pela culatra, porque muita gente conheceu a gente. Quem discorda desse debate vai continuar assim, mas tem a possibilidade ir lá e perguntar; estão falando que esse moleque é maconheiro e que é zoeira a candidatura, será que é verdade isso? Muita gente já desconstruiu isso. Tenho orgulho da política que eu defendo, não é apologia a nada, eu não louvo isso, é o debate político ao redor. A política de drogas não tem que ser pautada pelo tráfico e sim pensada pelo governo.

Imagem ilustrativa da imagem 'Eu não uso gravata, não sou empresário e por que não alguém que seja da periferia?'