Imagem ilustrativa da imagem 'Ele (Kireeff) vai deixar a prefeitura como um carro sem gasolina, pneu furado e motor fundido'
| Foto: Gustavo Carneiro



Remanescente de outras campanhas eleitorais ao Legislativo, Luciano Odebrecht (PMN) se apresenta nesta disputa pela Prefeitura de Londrina como um candidato independente, em um partido nanico e sem recursos financeiros. Crítico da gestão econômica da atual administração municipal, ele promete, caso eleito, valorizar nomes londrinenses na composição do secretariado. Nesta entrevista à FOLHA, Odebrecht se intitula "aguerrido" na luta contra a corrupção.

Por que o senhor quer ser prefeito de Londrina?

Não é só pelo fato de ter nascido em Londrina e amar essa cidade, mas você tem um vácuo político e a necessidade de pessoas comuns, com competência, com habilidade, com atitude, participarem do debate eleitoral. Que não sejam políticos profissionais, mas que amam a política no sentido de tratar dos assuntos e interesses da cidade, eu creio que tenho esse dever cívico e todo esse preparo conquistado através dos anos como professor, escritor, advogado e até mesmo como empresário que já fui.

O que o senhor sabe sobre a situação financeira da prefeitura? O senhor lê o jornal oficial do município, fica sabendo pela imprensa ou o seu partido mantém um acompanhamento da gestão municipal?

Sabemos que a prefeitura está em um processo de endividamento muito grande e a situação é quase de um regime falimentar. Infelizmente, houve um ato de irresponsabilidade da atual administração no momento em que o País já estava declinando economicamente; contratou mais 27,5% de servidores. Foi o único município, salvo melhor juízo, que contratou esse número de pessoas e isso vai se refletir agora, com cortes na saúde, na educação, na segurança, na biblioteca pública, em todos os setores da gestão. Ele (Alexandre Kireeff) vai deixar a prefeitura como um carro sem gasolina, com pneu furado e motor fundido, essa é a verdadeira situação da prefeitura. Está quebrada, mas as pessoas não acreditam nisso.

Como o senhor tem essas informações?
Porque acompanhamos pela imprensa, blogs, através do portal da transparência e até pelos próprios secretários e prefeito, que deram as informações. Só temos R$ 9 milhões de verbas livres para investir. Eu sei que tenho uma despesa que vai ocupar todo o meu orçamento e vou estar engessado se dependesse apenas dos recursos do município para 2107.

A maior parte do dinheiro arrecadado pela prefeitura é utilizada para pagamento da folha de pagamento. Considerando seus apontamentos sobre as contratações, o senhor acha que o funcionalismo de Londrina é muito caro?

Não é muito caro, é importante. Agora que já foi feito, eu preciso pegar esses servidores municipais, que tem sangue novo, para que sejam animados, e também os servidores antigos. Vou ouvi-los, usá-los como um princípio da eficiência administrativa, porque eu não vou ter como aumentar o meu gasto, então vou aproveitar o que eu tenho. Nós temos excelentes servidores municipais, temos grandes ideias, mas o problema é que eles são ouvidos só nos primeiros três ou quatro meses após a transição e depois são esquecidos. Eles são o grande braço do prefeito, que tem que agir como um líder.

O senhor acha importante que os partidos tenham ideologia? Qual é a ideologia do PMN? E o que o atraiu nesta legenda?

O que me atrai no PMN é justamente não ter caciques, é um partido pequeno que provavelmente vai entrar em extinção a partir do ano que vem em razão do regime eleitoral imposto pelos demais partidos. O PMN está em extinção como os outros partidos pequenos, em virtude do monopólio da política. A grande vantagem, apesar dessa problemática, é que pela primeira vez na história de Londrina um candidato está livre para decidir da forma que as pessoas querem, sem conchavos políticos, sem oferecimento de cargos. Ou seja, pelo vácuo do sistema e pela própria liberdade que o PMN me dá, vou poder trabalhar livremente pela cidade.

Outros candidatos usam este mesmo argumento, negando acordos políticos que possam impactar a gestão. O prefeito Alexandre Kireeff (PSD) também se elegeu por um partido pequeno, em chapa pura, com discurso semelhante...

Na época ninguém queria coligar com ele, que tentou muito, mas era um partido novo, recém-criado. Para que você tenha uma ideia, até o Silvio Santos já foi candidato a presidente pelo PMN, mas por problemas burocráticos acabou não saindo à Presidência. Observe que o PMN é um partido com ideologias, mas nos deixa à vontade, livre para decidir, ao ponto de não nos dar nenhum centavo como verba partidária, isso também nos dá muita liberdade.

O senhor já denunciou algum caso de corrupção envolvendo o serviço público? Qual a sua ideia para combatê-la?

Já denunciei 639 auditores fiscais no Paraná por ausência de concurso público, eu fui o primeiro. Eu denunciei esquema de corrupção envolvendo promotores, juízes, procuradores, mas infelizmente não foi para frente. Não resultou em nada, a não ser ameaças. Todos que me conhecem sabem do meu histórico de denunciar a corrupção em Londrina, já denunciei ministro do Supremo Tribunal Federal, dono de universidade, auditores fiscais, denunciei todos antes de todo mundo. Então, a minha vida de combate ao crime organizado é longa e extensa.

Denunciou como?

Para 79 senadores, abri procedimentos, fiz vídeo na internet, onde houve mais de 1 milhão de visualizações, encaminhei para a imprensa, dei publicidade e também encaminhei para as corregedorias específicas.

Se for o prefeito de Londrina, como será a sua gestão na área econômica?

Vamos fomentar o turismo rural e gastronômico, trazer a livre inciativa, empresas com sustentabilidade e não empresas que venham poluir o ambiente. Minha formação jurídica é de Direito Ambiental e Constitucional e temos que proteger isso. Eu venho de uma família de empresários e compreendo muito bem a iniciativa privada. Sou advogado de uma empresa com mais de 700 funcionários em Arapongas (Região Metropolitana de Londrina) e também consigo compreender a população, porque eu fiz Teologia, trabalhei muito nas igrejas, esse lado social das igrejas foi muito importante para a minha vida. Fiz capelania hospitalar no Hospital Evangélico e ali eu vi o sofrimento das pessoas.

Como vai montar a sua equipe de governo? O PMN é um partido pequeno, com poucos membros, de onde virão os seus secretários?

Vou ouvir todos a sociedade, inclusive partidos políticos, mas é importante salientar que não tenho conchavos nem obrigação de cargos com ninguém, então, vou usar muito os servidores municipais. E outra coisa, em Londrina temos muitas pessoas qualificadas, não sei se estou certo nos dados, mas parece que nós temos mais de 80 mil pessoas com curso superior, não é possível que não existam pessoas competentes, honestas, com capacidade e atitude para gerir a cidade; tenho certeza que tem. Posso até citar um nome, como exemplo, pelo jeito ele não vai aceitar, que é o professor Marcos Rambalducci, da Universidade Tecnológica Federal, um homem de muita capacidade. Vamos verificar nestes dois meses quem são os nomes que a sociedade gostaria. Essa minha liberdade é plena absoluta, estou livre para decidir quem vou colocar como secretários. Não tenho preocupação nenhuma. Eu vou ser um gestor de gestores, porque temos que inteligência cognitiva, emocional, interrelacional, postura e caráter, isso nós temos. Londrina sabe que o Luciano Odebrecht é uma pessoa séria, já fui coordenador de cursos, mais de mil alunos, mais de 60 professores, entre eles juízes federais, do trabalho, procuradores, delegados, já gerenciei equipes muito boas. Eu quero fomentar nomes londrinenses, se queremos uma cidade com projeção nacional, temos que valorizar os que aqui moram.

Os políticos quando chegam ao poder, tendem a mudar o comportamento com a imprensa e influenciar o noticiário, muitas vezes, com o uso do poder político e econômico através da publicidade. Como será o seu relacionamento com a imprensa?

Será igual ao de dom Pedro II, ele amava a imprensa e isso é fundamental em qualquer país democrático. Rui Barbosa, lembrando Jesus Cristo, falava que devemos amar os inimigos, porque eles nos falam a verdade. A imprensa tem um papel muito importante, como vou combater a corrupção se eu não sei o que está acontecendo? Os repórteres são investigativos, isso você vai ler no meu livro "O Segredo dos Stigmatus", é importante a liberdade plena e total da imprensa, pode falar a vontade, porque o primeiro a falar sou eu. Se um secretário cometer algum ato irregular, pode falar, vou ser o primeiro a denunciar no Ministério Público, chamar a imprensa... lógico que respeitando ampla defesa e contraditório. Faz parte da minha natureza, eu já fiz isso. Infelizmente, a imprensa em Londrina tem alguns problemas por causa dos grupos econômicos que mandam na cidade. Eu mesmo fui retalhado como comentarista de uma determinada televisão, então eu sei o que é sofrer com perseguição. Então, de perseguido, não quero me tornar um perseguidor.

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