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| Foto: Fotos: Gustavo Carneiro e Celso Pacheco
"Quando ensinamos o português ou qualquer outro idioma é por meio da língua de sinais que o surdo vai aprender, é visual", diz o professor universitário André Luis Onório Coneglian, com experiência em Libras
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Cínthia Cortegoso, professora voluntária de inglês e espanhol para deficientes visuais: "Trabalhamos a leitura, a escrita e a conversação, dentro da limitação de cada um. Além da apostila também levo poemas, contos, livros"



Conversar com amigos de outros países, ler textos em seu idioma original, saber a tradução de letras de música ou simplesmente aprender um conteúdo obrigatório para o vestibular e muito requisitado no mercado de trabalho. Mesmo para as pessoas com deficiência, aprender um idioma diferente do português é algo corriqueiro. A forma de aprender pode ser um pouco diferente do tradicional, mas com o auxílio dos professores e um pouco de paciência, todos estão aptos a se expressar em outro idioma.

Com experiência no ensino de Língua Brasileira de Sinais (Libras) para os cursos de Licenciatura em Pedagogia, o professor do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina, André Luis Onório Coneglian afirma que é possível que todos aprendam outro idioma, a questão é como ensinar. "As escolas não sabem lidar com maneiras diferentes de aprender", critica.

O especialista explica que a Libras - língua materna dos surdos - é uma língua espaço-visual motora (baseada em gestos), enquanto o português é oral e considerado um segundo idioma. É importante ressaltar também que cada país tem sua língua de sinais, com gestos diferentes daqueles usados em Libras.

"Quando ensinamos o português ou qualquer outro idioma é por meio da língua de sinais que o surdo vai aprender, é visual. Ele irá aprender a associar, por exemplo, o gesto referente ao doce bala à palavra 'bala' em português e à palavra 'candy' em inglês, por exemplo. Uma pessoa surda aprende a ler e a escrever em outro idioma, mas não irá falar, já que para isso seria preciso ouvir", explica.

Para as pessoas cegas, o processo de aprendizagem também utiliza uma ferramenta básica: o braile. Professora voluntária de inglês e espanhol no Instituto Roberto Miranda há seis anos, Cínthia Cortegoso conta que todo o material utilizado em sala de aula é passado para o braile ou para letras ampliadas, no caso dos alunos com baixa visão.

"Muitos deles têm dificuldades para escrever em português, tanto que no início dos cursos eu sempre faço uma pequena revisão, explicando o que é pronome, numeral, artigo, verbo, substantivo. Trabalhamos a leitura, a escrita e a conversação, dentro da limitação de cada um. Além da apostila também levo poemas, contos, livros", explica Cínthia.

Alunos
Entre os alunos, os motivos para frequentar o curso são vários. Enquanto os mais jovens querem se preparar para o vestibular e o mercado de trabalho, inclusive visando viajar para outros países, os mais velhos buscam uma atividade extra e um momento de encontro entre eles.

O primeiro curso oferecido aos alunos foi o de espanhol, que durou quatro anos. Agora já são dois anos de inglês, com previsão para durar mais dois ou três anos, com aulas uma vez por semana. "Há tempos procurava um trabalho ao qual pudesse me dedicar da forma voluntariada. Desejava fazer algo atencioso e carinhoso para a formação de quem se interessasse pelo aprendizado de algum idioma. Então, houve uma indicação de uma amiga para o Instituto. Adoro demais estes meus alunos e este trabalho", diz Cínthia, que também dá aulas de português e italiano.

Ela conta que não havia feito nenhum trabalho prévio ou curso para trabalhar com pessoas com necessidades especiais, mas que o ensino não é muito diferente. "É um pouco mais restrito, pois não restam muitos recursos. A tranquilidade, o amor, a paciência são recursos abençoados não só para este trabalho, mas para a vida."