Um decreto do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD) publicado no Diário Oficial na primeira semana de fevereiro deste ano proíbe o uso de celulares nas escolas da rede municipal - inclusive no recreio. A medida entra em vigor em 30 dias. Desde agosto, o estudante da prefeitura já não podia pegar no telefone dentro da classe, somente nos intervalos. A partir de março, também não.

“Os celulares e demais dispositivos eletrônicos deverão ser guardados na mochila ou bolsa do próprio aluno, desligado ou ligado em modo silencioso e sem vibração”, especifica o decreto. Renan Ferreirinha, Secretário Municipal de Educação considera que a escola é um local de aprendizagem e interação social. "As crianças não podem continuar isoladas nas suas próprias telas, sem interagir umas com as outras, sem brincar. A escola precisa dessa interação humana”, defende.

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Recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) tratam sobre limites no tempo de tela para crianças.

A análise [da Unesco] de uma grande amostra de jovens com idades entre 2 e 17 anos nos Estados Unidos revela que um maior tempo de tela está associado a uma piora do bem-estar; menos curiosidade, autodisciplina e estabilidade emocional; maior ansiedade e diagnósticos de depressão.

Dados de avaliações internacionais em larga escala, tais como os fornecidos pelo Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa) — maior avaliação mundial de estudantes, sugerem uma correlação negativa entre o uso excessivo das tecnologias e o desempenho acadêmico. Descobriu-se que a simples proximidade de um aparelho celular era capaz de distrair os estudantes e provocar um impacto negativo na aprendizagem em 14 países.

Em Londrina, o uso dos equipamentos eletrônicos é permitido somente que para fins pedagógicos. A Lei nº 18.118/2014 proíbe a utilização de qualquer equipamento eletrônico dentro de salas de aula de todo o Paraná, para outros fins, há dez anos.

Segundo o texto original do Projeto de Lei nº 440/2013, os jovens do ensino fundamental e médio não possuem ainda capacidade para controlar o uso destes aparelhos, o que causa desvio de atenção no horário de aula, além do acesso a conteúdos inapropriados. Apesar de proibir os alunos a utilizarem aparelhos como tablets e celulares, permite o uso quando orientado pelo professor - para fins pedagógicos.

CMEI Irmã Nivea: com celular institucional, professora registra adaptação de alunos nos primeiros dia de aula para os pais poderem acompanhar a rotina dos filhos na escola
CMEI Irmã Nivea: com celular institucional, professora registra adaptação de alunos nos primeiros dia de aula para os pais poderem acompanhar a rotina dos filhos na escola | Foto: Divulgação
COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL

Uma novidade no ano letivo do Centro Municipal de Educação Infantil Irmã Maria Nivea, em Londrina, foi a inclusão das aula em período integral. Assim, os alunos do C3 e P4, de três e quatro anos respectivamente contam com atividades o dia todo no ambiente escolar.

Entretanto, nas regras que compõem o regimento da Secretaria Municipal de Educação está a proibição do uso de celular pelos alunos. De acordo com a diretora da unidade, Valdirene Maria Stremel Movio, a regra é respeitada de modo amplo pelos pais e responsáveis e estes também consideram a determinação mais do que assertiva.

A formação digital, por sua vez, está inserida na grade curricular. Os tablets disponibilizados pela Prefeitura para a Secretária Municipal de Educação são utilizados em sala de aula e, de acordo com a faixa etária, jogos e atividades educativas são parte das práticas digitais desenvolvidas de forma coletiva em sala de aula.

A diretora explica que as dinâmicas são bem organizadas prezando também pelo equilíbrio na rotina dos alunos. " É uma divisão bem feita com um planejamento que contempla o período da manhã e o da tarde com atividades lúdicas, momentos na área externa quando o clima permite e todas as ações são planejadas para que sejam realizadas com sucesso", pontua.

Também integrado na sala de aula de modo planejado, o celular do professor é uma ferramenta de trabalho inserida no SGI - Sistema Geral de Informação, da Secretaria de Educação e os professores usam inclusive para fazer a chamada. Cada professora tem um celular e o grupo de pais dos alunos da sala em que é a regente.

"Nesse período de início das aulas, existe toda uma adaptação das crianças, algumas estão indo pela primeira vez à escola e é natural que estranhem ou chorem. Graças ao celular, os pais participam um pouco da rotina, podem ver por meio das fotografias as atividades, afinal de contas também é uma adaptação à rotina", comenta Movio.

A interação com o grupo, as ações que estão realizando em tempo são partilhadas de forma organizada. "Os grupos de pais de alunos passaram a existir desde a pandemia. Apesar de a agenda analógica com recados e informações serem mantidas, esse modelo de comunicação funciona, traz resultado e não é troca de receita e nem para dar bom dia", observa. A diretora também explica que o celular é institucional , fica na escola e dessa forma o tempo de trabalho do professor é respeitado.

TEMPO PARA ESTUDAR, BRINCAR E DESCANSAR

A Escola Municipal Carlos Dietz, região oeste, também segue o regramento. "O uso do celular e tecnologias em sala de aula são exclusivamente para fins de ensino aprendizagem. Os alunos possuem acesso a celulares e tabletes que a Secretaria Municipal de Educação de Londrina forneceu para as escolas no intuito de auxiliar neste processo, agregando o uso consciente das tecnologias em favor da apropriação dos conhecimentos", enfatiza a diretora Vânia Isabeli Talarico Freitas da Costa.

Nesse processo, os professores acompanham o uso dos jogos interativos e aplicativos pedagógicos, juntamente com a professora mediadora de tecnologias da escola associando estas tecnologias com a matriz curricular de cada série.

Dessa forma, os alunos são preparados durante todo o ano para o ingresso no 6°ano do Ensino Fundamental 2, para o uso consciente das tecnologias, bem como o trabalho com temas associados ao mal uso da tecnologia, como por exemplo o Cyberbullying.

Na Escola Municipal Carlos Dietz, alunos têm exercícios de meditação, uma forma de acalmar a ansiedade , inclusive, pela falta do uso de celulares
Na Escola Municipal Carlos Dietz, alunos têm exercícios de meditação, uma forma de acalmar a ansiedade , inclusive, pela falta do uso de celulares | Foto: Divulgação

Paralelamente a todas as disciplinas, os alunos do Carlos Dietz vivenciam um projeto de meditação que teve início em 2023. A proposta, que começa por meio de uma conversa, é oferecer aos estudantes, uma vez por semana, técnicas de respiração, atenção e concentração - de quinze a vinte minutos no máximo.

"Isso também trabalha a gratidão, sabedoria, tranquilidade. Explico que quando eles expiram o ar, eles estão mandando embora toda ansiedade de uma maneira lúdica e isso os apoia muito em relação às avaliações", relata a diretora.

Costa aponta ainda que a prática de meditação auxilia no equilíbrio do uso excessivo de eletrônicos pelas crianças, pois pode reduzir os efeitos do pensamento acelerado, ajudando no controle da auto conduta, bem como no controle da ansiedade das crianças . "Tem grande papel em ajudar na melhora da concentração, reduzir o estresse e a ansiedade, melhorar a memória e a criatividade".

As famílias, por sua vez, estão contentes com a práticas. "Gostam muito, pois as crianças comentam com os pais e responsáveis e eles nos dão um feedback muito positivo e pedem para não parar com o projeto. Já notam os filhos mais serenos," diz a diretora.

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FOLHA CIDADANIA

Patrocínio: Prefeitura de Londrina e Grupo Folha

Apoios: Espaço Jabuti, Embrapa e Escola, Fecomércio-PR, Sesc- PR, Ciranda e Sinpro.