Imagem ilustrativa da imagem Uma crítica expressionista
| Foto: Lucas Emanuel/ Divulgação
Alexandre Guimarães em "O Açougueiro": um espetáculo expressionista que beira ao naturalismo



Os índices alarmantes de violência contra a mulher em Pernambuco serviram de ponto de partida para a criação da peça "O Açougueiro". Encenado pelo ator Alexandre Guimarães o monólogo que fala sobre preconceito e intolerância será apresentado hoje, às 19 horas, no Teatro Zaqueu de Melo, dentro da programação do Festival Internacional de Londrina (Filo).
O espetáculo conta a história de Antonio, um sertanejo que viveu uma infância de fome na caatinga e sonhava em ter seu próprio açougue. Embrutecido pelas agruras de uma vida árida, Antonio acaba suavizado pelo amor de Nicinha, uma jovem prostituta. Este amor rompe preconceitos e convenções sociais e, por isso, não é aceito. "A sociedade não a reconhece como uma mulher que pode ter uma vida diferente, ser a dona do açougue com o marido ou qualquer outra atividade que não seja a prostituição", comenta Alexandre Guimarães.
O ator salienta que violência praticada contra a mulher retratada no palco não é apenas a física. "Mas também aquela promovida pela imposição hierárquica. Esta violência pode estar dentro de nossas casas, em nossa família. E todo mundo, em algum momento, pode sofrer algum tipo de violência como a Nicinha - seja um negro, um evangélico, um migrante, ou então ser o seu opressor", argumenta ao ressaltar que "o teatro está aí para transformar ou, no mínimo, provocar um olhar mais crítico nessas relações".
Além do texto contundente, o ator explora todas as possibilidades do corpo, por meio do chamado Teatro Físico. Em cena, o corpo é o centro de toda a teatralidade do espetáculo, que não tem cenário ou objetos. "É um bom exemplo do chamado ‘teatro pobre’. Um ator jogador pronto para se vestir, sem acessórios; os sete personagens que vive, chamando o público por meio de olhares ou dialogando com ele. Com isso, o ator precisa estar muito preenchido de intenções. Aí entra o teatro físico, que ajuda ascender a criatividade do ato. É um espetáculo expressionista mas que, ao mesmo tempo, beira o naturalismo", conclui.
"O Açougueiro" já foi visto em quase todo o estado de Pernambuco e em parte da Paraíba, além de Curitiba (PR), Itajaí (SC) e agora chega a Londrina. Guimarães conta que tinha duas grandes preocupações sobre como esses públicos tão distintos iriam interpretar sua obra. No caso da plateia do Nordeste, ele diz que temia ser visto como um "estrangeiro" falando de coisas que pertencem àquela realidade. "Mas eles se envolveram de maneira muito forte, cantavam as canções que conheciam, se reconheceram neste personagem".
Em Curitiba, onde foi apresentado pela primeira vez fora do Nordeste, o trabalho também teve boa receptividade. "Muita gente não sabia o que era um aboio, por exemplo. Mas tocamos em coisas que são universais, como uma língua falada por todos os povos, quando se expressa o amor e a dor. As pessoas se emocionaram. Provocamos um estado de reflexão, em que elas não conseguem expressar verbalmente as sensações do que vivenciaram. O público fica em suspensão", finaliza o ator pernambucano.

Serviço:
"O Açougueiro", com Alexandre Guimarães
Quando – Hoje, às 19 horas
Teatro Zaqueu de Melo (Av. Rio de Janeiro, 413)
Quanto – R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada)
Ponto de vendas - Royal Plaza Shopping (Rua Mato Grosso, 310) e pela internet www.filo.art.br e www.diskingressos.com.br.