Ntando Cele optou pelo humor:""Ainda não é fácil falar de racismo, as pessoas sentem-se atacadas se tratamos de forma séria"
Ntando Cele optou pelo humor:""Ainda não é fácil falar de racismo, as pessoas sentem-se atacadas se tratamos de forma séria" | Foto: Janosch Abel/ Divulgação



"Eu gosto de negros, até costumava ter alguns deles como amigos", debocha a personagem Bianca White, no espetáculo Black Off. A atriz Ntando Cele optou pela comédia para tratar de um assunto tão velho e tão atual: o racismo. "Ainda não é fácil falar de racismo, as pessoas sentem-se atacadas se tratamos de forma séria. Quando começo a fazer piada de uma questão real, muitas riem e se identificam, percebem que o preconceito racial está dentro delas, o que acreditavam não existir até então", diz a atriz nascida na cidade de Durban, na província de KwaZulu-Natal, na África do Sul, que apresenta "Black Off" nesta sexta-feira (18) e sábado (19), às 19h, no Teatro Mãe de Deus, durante a programação do FILO 2017. O espetáculo da Companhia Manaka Empowerment Productions (África do Sul/ Suíça) se estrutura como uma mistura de comédia stand up, concerto e performance, combinando música, texto e vídeo.

De forma escrachada, porém leve, ela toca, no íntimo de cada um da plateia ao dar vida, num primeiro momento, à comediante Bianca White, uma espécie de seu alter ego, que vai no cerne da questão de maneira estereotipada, a começar pelo nome. "Com o rosto pintado de branco, lentes de contato claras, cabelos loiros, usando quimono, essa mulher julga saber tudo sobre o mundo dos negros e quer ajudar – pessoas brancas e negras – a encontrarem uma solução para superarem essa suposta escuridão interior", conta Cele. Para isso, ela reproduz clichês, ligados ao preconceito racial, cujo pensamento vai se revelando, a cada fala, como parte de uma construção histórica. Além disso, a atriz conta com grande potência cênica e performática, ativando reflexões e afetos – ou ausência deles – sobre a humanidade e suas convicções.
Em cada país em que o espetáculo é apresentado, é realizada uma pesquisa sobre o comportamento da sociedade com relação ao racismo: "As piadas e os clichês variam conforme a região. Em alguns países da Europa, as pessoas sentem-se desconfortáveis com o tema. No Brasil, percebemos que as pessoas negras, quando enriquecem ou ficam famosas, simplesmente, deixam de ser negros em sua identidade. Se fossemos nos apresentar nos Estados Unidos, que tem no momento um movimento da supremacia branca, bem provável que cada estado teria uma abordagem diferente", comenta o escritor e consultor de dramaturgia Raphael Urweider, responsável pelo texto em parceria com a atriz, que ainda divide o palco com um trio de músicos, com composições de Simon Ho, levando a um ambiente de calma, até chegar num punk progressivo representando agressividade, outro estereótipo do negro.

SERVIÇO
Black Off com Companhia Manaka Empowerment Productions (África do Sul/ Suíça)
Quando: Sexta-feira (18) e sábado (19), às 19h
Onde: Teatro Mãe de Deus (av Rio de Janeiro, 700)
Quanto: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)
Ingressos à venda na bilheteria do FILO no Royal Plaza Shopping (Rua Mato Grosso, 310) e pelo site www.filo.art.br
O FILO tem o apoio do Grupo Folha de Comunicação.