O escritor russo Fiodor Dostoievski (1821-1881) cunhou frases célebres que, reproduzidas diariamente nas redes socias, lhe garantem popularidade até entre aqueles que jamais abrirão um de seus livros clássicos.
Uma de suas máximas, ''A melhor definição que posso dar de um homem é a de um ser que se habitua a tudo'', poderia estar inserida no texto da peça ''Memórias do Subterrâneo'' que será apresentada hoje, às 20h, no encerramento da Semana Literária do Sesc de Londrina.
A peça é uma adaptação do conto ''Memórias do Subsolo'', que Dostoievski escreveu em 1864. Montada em Curitiba, estreou em 2005 e de lá para cá já foi assistida por mais de 10 mil espectadores. Encenada originalmente por dois atores, transformou-se posteriormente num monólogo, protagonizado pelo próprio diretor Emerson Rechenberg.
''O texto gira em torno de um homem que poderia ser chamado de um 'desistente social', um sujeito comum que tem um emprego medíocre e é incapaz de reagir a qualquer situação - um comportamento recorrente na obra do autor. Quando deixa o emprego, ele se isola do convívio social e passa a criticar o racionalismo destilando contra tudo e todos. A peça revela o quanto deixamos de lado os desejos e ambições para nos enquadrarmos num formato'', assinala Rechenberg.
O diretor salienta que o autor de ''Crime e Castigo'' antecipou ''essa inércia, essa coisa amorfa em que nos tornamos, essa existência em que a pessoa nasce, cresce e segue a vida levada de roldão por caminhos predeterminados''. Ele passou a atuar no espetáculo a partir de 2009, após a saída de um dos atores e de mudanças realizadas na encenação.
Numa primeira fase, o cenário recriava um subsolo dentro de uma sala enquanto o público assistia à peça através de frestas. ''Ficamos muito tempo em cartaz nesse formato'', diz. ''A encenação era boa, mas havia esse engessamento de um espaço fixo. Aí decidi simplificar e reformular a ambientação de forma que o espetáculo pudesse ser levado para qualquer lugar. Assim, o cenário passou a ser uma mesa e duas cadeiras, tudo bem rústico. Costumo dizer que cabe tudo dentro de uma mala. Eu pego essa mala e levo Dostoievski para passear por aí.''
Simultanemente à alteração na estrutura da montagem, ele decidiu assumir o personagem no palco. A peça já soma cerca de 300 apresentações. ''Visitamos 15 ou 20 cidades do Paraná, em algumas retornamos. Nesta semana, passamos por Apucarana e Cornélio Procópio'', conta. Nome consagrado em Curitiba, Rechenberg recebeu dois troféus Gralha Azul, prêmio mais importante do teatro paranaense: Melhor Diretor em 2001 pela peça ''Colônia Penal'' (adaptação da obra homônima do escritor Franz Kafka) e Melhor Cenário em 2006 pela peça ''A Fuga'' (do chinês radicado na França Gao Xingjian).

Serviço:
- Semana Literária do Sesc - Espetáculo ''Memórias do Subterrâneo''
Quando - Hoje às 20h
Onde - Sala de Espetáculos do Sesc (Rua Fernando de Noronha, 264), em Londrina
Ingressos - Gratuito
Informações - (43) 3305-7819 e 3305-7800