Flavio Colin (1930-2002), o mestre do preto-e-branco, emprestou seu traço para diversos gêneros de quadrinhos. No álbum ‘‘Mapinguari e Outras Histórias’’, que chega às prateleiras um ano após sua morte, os organizadores reuniram cinco aventuras de fantasia e terror.
  O lançamento é da editora Opera Graphica, que já havia homenageado o autor poucos meses depois de sua partida com a publicação da coletânea ‘‘Filho de Urso e Outras Histórias’’. O novo título traz três histórias inéditas e duas editadas originalmente nas décadas de 80 e 90 na revista ‘‘Calafrio’’, da editora D-Arte.
  O estilo inconfundível, que lembra a técnica da xilogravura e a narrativa dos cordéis nordestinos, aparece aqui servindo como suporte para comentários ácidos e irônicos dirigidos à depredação da Amazônia e ao imperialismo americano. O volume inclui ainda uma entrevista inédita e um texto revelador sobre uma obra do autor jamais lançada.
  ‘‘Mapinguari’’, a história que abre a coletânea e dá título ao álbum, é protagonizada por um empresário estrangeiro (cuja figura é inspirada no eterno candidato à presidência Enéas Carneiro, do Prona) interessado em capitalizar investimentos com a construção de um shopping center em plena selva amazônica.
  Ao visitar o local, porém, um animal lendário da floresta acaba destruindo seus planos. A selva amazônica aparece também na segunda história, ‘‘Zartan’’, na qual Colin satiriza os super-heróis americanos ao mostrar um brutamontes – um soldado no estilo ‘‘Rambo’’ – contratado para combater uma criatura – a lenda do Curupira – que estaria provocando acidentes numa madeireira.
  ‘‘O Gogó de Sola’’, a terceira história, traz também um animal mítico protetor das selvas às voltas com três caçadores traficantes de animais em extinção. Para fechar a edição, foram garimpadas duas aventuras desenhadas por Colin e roteirizadas por José Augusto e Samuel Knevitz. Ambientadas nas planícies gaúchas, também exploram o imaginário popular.
  A entrevista embutida no volume foi concedida a Luiz Antônio Sampaio, em 1992, para a revista ‘‘Mestres do Terror’’. A conversa sairia numa seção que o pesquisador havia criado para permitir ao leitor conhecer um pouco da vida dos grandes mestres dos quadrinhos brasileiros. Cada convidado deveria falar sobre sua carreira, o mercado e as principais influências.
  Mas antes da entrevista ser publicada, a revista deixou de circular com o fechamento da editora D-Arte. No papo, resgatado dez anos depois, Colin faz algumas revelações. ‘‘Não tenho destacada preferência por nenhum tema. Mas sinto-me um pouco mais à vontade ilustrando histórias do sertão, ou, como preferem hoje, quadrinhos country’’ – diz.
  Na mesma página da entrevista, um texto do editor Franco Rosa informa que Flavio Colin criou uma versão em quadrinhos do seriado ‘‘Carga Pesada’’, da TV Globo, que acabou não sendo publicada. Era a terceira de uma série lançada em 1982 pela Rio Gráfica e Editora. Foi mais uma criação de um autor prolífico, que produziu dezenas de aventuras em mais de 5 décadas de carreira.
  Colin morreu em agosto do ano passado, aos 72 anos, vítima de problemas pulmonares. Seu currículo destaca especialmente as adaptações que fez para os quadrinhos do herói radiofônico ‘‘O Anjo’’, do clássico do western ‘‘Os Brutos Também Amam’’ e da série televisiva ‘‘O Vigilante Rodoviário’’. Produzindo até seus últimos dias, ficou conhecido pelas novas gerações através de obras como ‘‘Fawcett’’, ‘‘O Boi das Aspas de Ouro’’ e ‘‘Estórias Gerais’’.’
  ‘‘Mapinguari e Outras Histórias’’ chega às bancas a R$ 12,90.